O Brasil é uma festa

E vão se acumulando os escândalos, as falcatruas, as maracutaias e as vergonhas alheias

(Foto: Arquivo/ABr)


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Quem acompanha o noticiário já não se assusta com os escândalos que se sucedem sob o sol da República brasileira, pois não há nada de novo, a não ser a maracutaia mais recente. Aqueles que passaram dos quarenta devem se lembrar de coisas como o “escândalo da mandioca”, o “escândalo das pedras preciosas” e o “escândalo dos anões do orçamento”, entre inúmeros outros casos que já caíram no esquecimento e se tornaram “folclore”, muito antes da Polícia Federal dar pomposos nomes às suas operações. Não há um só dia em que o trabalhador comum ligue sua televisão ou cheque seu celular, que não tenha uma notícia sobre o desvio disso, uma compra superfaturada daquilo ou tudo ao mesmo tempo todo dia. 

O pior de tudo isso é que mulheres e homens comuns, que carregam o país nas costas, praticamente não conseguem colocar comida na mesa da sua família, enquanto meia dúzia de privilegiados usa dinheiro público para tentar criminalizar um dos movimentos que mais produz comida saudável no país. Esses homens e essas mulheres têm que dizer todo santo dia aos seus filhos e filhas que o crime não compensa, embora não seja isso o que vêm no noticiário. Esses herois e heroínas (sim, eles/elas não usam capas) repetem aos seus rebentos para se manterem afastados das drogas, mas seus discursos vão por água abaixo, quando caminhões, barcos e aviões são apreendidos com cargas gigantescas de drogas e ninguém, simplesmente ninguém, é responsabilizado ou preso. 

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E vão se acumulando os escândalos, as falcatruas, as maracutaias e as vergonhas alheias. Assim, tem-se coisas como o deputado que acredita piamente que governa o país e o senador que, metido na sua ridícula sunga branca, gasta tempo e dinheiro para passar vergonha nacional, sugerindo ser o mais bem dotado no quesito estupidez. Como se não bastasse, há ainda o deputado cassado que insiste em não largar o osso, enquanto ataca os poderes constituídos da República, destilando mau caratismo, misoginia e fanatismo religioso na televisão, com o beneplácito de seus amigos e amigas da mídia.  Não se pode esquecer, é claro, a figura tacanha do ex-juiz que pôs um país inteiro de joelhos, vilipendiou seu sistema judiciário e agora, “tadinho”, afoga-se no vômito da sua própria arrogância. Tem-se ainda, os apaixonados por joias, dízimos e malas de dinheiro. Existem também aqueles que estão sempre a falar em nome de deuses que odeiam e perseguem os que não batem cabeça para esses amiguinhos imaginários. São os abusadores da fé alheia, os vendilhões dos templos modernos. 

Os palcos para tais bizarrices nos fazem lembrar, guardando todas as devidas proporções, Uma festa brasileira, de Ferdinand Denis. O Brasil de 2023, no entanto, não é a Rouen de 1550. E se Brasília, o cenário de quase tudo isso, não é uma “ilha da fantasia” é por que nos faltam a grandiosidade e a elegância de um senhor Roarke e um Tattoo, o que faz com que estejamos mais para A Ilha do doutor Moreau do que para A Ilha da Fantasia. Seja como for, o Brasil não é Paris, mas é uma festa, da cueca. 

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