O Brasil e a ameba

Aparentemente esquecido dos sofrimentos que lhe causaram os nazistas, na barbárie do holocausto, Israel não hesita em matar mulheres e crianças sob o pretexto de defender-se dos ataques do Hamas



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Há 67 anos, mais precisamente no dia 29 de novembro de 1947, graças a uma manobra do seu presidente, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovava a resolução que permitiu a criação do Estado de Israel, por 33 votos contra 13 e 10 abstenções. O presidente da AG, que adiou seguidamente a votação da resolução para dar tempo às negociações para a sua aprovação, já que havia a ameaça de rejeição, foi o brasileiro Oswaldo Aranha, hoje nome de rua em Tel-Aviv. Foi, portanto, graças ao representante do "anão diplomático" que o "gigante beligerante" existe como Estado.

Israel, no entanto, parece ter esquecido não apenas o papel do Brasil como, também, da própria ONU, na histórica decisão que marcou o seu nascimento, no dia 14 de maio de 1948, data em que os judeus dispersos no mundo pela diáspora voltaram a se reagrupar como nação. E hoje, com a sua arrogância escorada no poder bélico, despreza as resoluções das Nações Unidas que lhe contrariam os interesses e ignora os seus apelos. E, também, esquecido dos sofrimentos que lhe causaram os nazistas, na barbárie do holocausto, não hesita em matar mulheres e crianças sob o pretexto de defender-se dos ataques do Hamas.

O Brasil, um país reconhecidamente pacífico e que sempre se manifestou contra as ações que provocam morticínio em qualquer parte do mundo, foi um dos 29 países que aprovaram a resolução do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas que condena a ofensiva militar de Israel na faixa de Gaza e cria uma comissão internacional destinada a investigar as violações e julgar os responsáveis. Os Estados Unidos votaram contra e entre as 17 abstenções estão a Inglaterra, França, Alemanha e Japão que, com essa posição, parece que lavaram as mãos diante do problema, que pode evoluir para um conflito mundial. Além disso, o Itamaraty emitiu nota condenando os ataques dos dois lados em guerra e recomendou o imediato cessar fogo.

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O governo de Benjamin Netanyahu, no entanto, não gostou da posição brasileira e através do seu porta-voz, Yigal Palmor, deu uma resposta que está bem distante de qualquer diplomacia: chamou o Brasil de "anão diplomático" e afirmou que a posição do nosso país é "irrelevante". O porta-voz, que mais parece uma ameba, foi mais além: evidenciando desconhecer qualquer sentimento humanitário, debochou do sofrimento dos palestinos, comparando a reação desproporcional de Israel aos ataques do Hamas à goleada de 7 x 1 que a Alemanha impôs ao Brasil na Copa do mundo de futebol. O mais lamentável é que alguns maus brasileiros, como os colunistas Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino, aprovam a ação israelense e, também, os conceitos do porta-voz Palmor sobre o Brasil.

Estranhamente, afora manifestações populares contra a ofensiva israelense em vários países, os governantes de algumas das grandes potências do planeta, a começar pelos Estados Unidos, silenciam ou contemporizam com a situação. Quando algum porta-voz fala a respeito o faz com enorme cautela, como se temesse desagradar Israel, e o resultado disso é que afora a resolução inócua da ONU não existe nenhuma ação concreta para por fim ao conflito: o secretário geral da ONU, Banki-moon, fez um "apelo" em favor de uma trégua humanitária, o mesmo que o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, em suas idas e vindas ao Oriente Médio.

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O presidente Barack Obama, que conquistou as simpatias do mundo com promessas de atitudes pacificadoras – e, como o homem mais poderoso do planeta, poderia ser o fiador da paz na região conflagrada - decepcionou a todos, inclusive a seus eleitores. Constata-se hoje, infelizmente, que a sua única diferença de George Bush está no físico, pois suas atitudes são semelhantes. E a presidenta Dilma Rousseff, que articula uma reunião do Mercosul para firmar posição continental em torno da questão, foi uma das únicas governantes a manifestar publicamente sua posição diante do conflito, posição que não é a favor do Hamas ou de Israel, mas contra a estúpida guerra, contra a morte de inocentes.

Enquanto isso, os candidatos oposicionistas Aécio Neves e Eduardo Campos, sempre dispostos a criticar o Planalto por qualquer coisa, preferiram o silêncio, sequer defendendo o país que pretendem governar da agressão verbal do porta-voz israelense. Diante dessa atitude não é difícil imaginar como o Brasil se comportará, como nação importante no concerto das nações, num eventual governo dos dois presidenciáveis: certamente voltará a ser obediente à política exterior dos Estados Unidos, conforme se observou no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Vale a pena destacar, no entanto, que é melhor ser "anão diplomático" do que "gigante", carregando nas costas o peso do sangue de mulheres e crianças inocentes. Afinal, não custa recordar Jesus, quando disse: "Os mansos e pacíficos herdarão a terra".

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