O Brasil de Bolsonaro e Brilhante Ustra e de Lula e Pabllo Vittar

"A democracia brasileira está tão degradada que um gesto de grandeza política pela democracia em meio a um show passa a ser atacado, censurado e debatido"

(Foto: Reprodução)


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Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

No mesmo domingo, Bolsonaro lança sua candidatura à presidência, sem temer represálias da Justiça por incorrer em ilegalidades, e um despacho de ministro do Tribunal Superior Eleitoral determina que artistas não podem fazer gestos ou declarações políticas num palco, sob pena de enquadramento em delito por propaganda eleitoral antecipada.

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No ato da propaganda antecipada de Bolsonaro, com direito a comício, em Brasília, a figura exaltada como exemplo do bem contra o mal foi Brilhante Ustra, o mais cruel torturador da ditadura.

No ato do Festival Lollapalooza, em São Paulo, que motivou a decisão da censura do TSE por interferência do partido de Bolsonaro, a protagonista era a cantora Pabllo Vittar, que se autodefine como gay e drag queen. 

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A figura abominada por ela e pelo público era Bolsonaro, e a figura exaltada era Lula. Num resumo, Bolsonaro e Ustra de um lado e Pabllo Vittar e Lula de outro. 

No meio, como árbitro, um tribunal que nunca censurou até agora nada do que possa ser definido como propaganda eleitoral antecipada da extrema direita.

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Bolsonaro discursou certo da impunidade, enquanto o TSE censurava por antecipação, a partir do que foi visto (o show de Vittar), todos os outros shows de artistas do Lollapalooza. 

Um Ustra morto e um Pabllo Vittar muito vivo testaram a democracia. E o que fizeram os jornais no dia em que misturaram, em notícias com falsas controvérsias, um torturador e uma artista drag queen? 

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O jornalões saíram atrás de juristas, para que eles dissessem o que todos já sabiam, inclusive a extrema direita sem medo da repressão da Justiça Eleitoral.

Os juristas disseram: manifestações de quem deseja se livrar de um governante arbitrário são um direito genuíno à liberdade de expressão. São atos políticos, não são propaganda eleitoral antecipada.

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Assim como as manifestações de quem ergue toalhas de mão ou de banho com a figura de um líder político defensor da democracia são também expressões das liberdades.

A democracia brasileira está tão degradada que um gesto de grandeza política pela democracia em meio a um show passa a ser atacado, censurado e debatido. 

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O Brasil é um país tão adoecido que, se decidirem prender Pabllo Vittar pelo fez ou disse, irão debater durante dias se a prisão foi legal, justa, razoável.

Foi o que aconteceu na Lava-Jato, quando debateram por mais de cinco anos se os crimes cometidos por Sergio Moro eram graves ou brandos ou se eram apenas excessos de um justiceiro.

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Conduções coercitivas, prisões preventivas sem fim, delações premiadas, vazamentos seletivos de conversas grampeadas, escutas ilegais de telefonemas de advogados, Powerpoints infantis, condenações sem provas, tudo na Lava-Jato ganhou o rótulo de controvérsia.

Como tentam agora transformar em polêmica a censura aos artistas que poderiam repetir no palco o que Pabllo Vittar já havia feito. 

Não há controvérsia alguma. Ninguém poderia impedir ninguém de gritar fora, Bolsonaro. Nem de gritar o nome de Lula ou de Bolsonaro ou de Carluxo e Damares.

Gritem o que quiserem, sem censura, e assumam responsabilidade por seus gritos. Mas que os tribunais não enquadrem e calem por antecipação os que desejam gritar contra o fascismo. 

Não tentem amordaçar os que ainda resistem. Não há crime nenhum em pedir o fim de um governo destruidor do Estado, da democracia, da ciência e das relações humanas.

Não há como calar artistas, como fizeram na ditadura. Não há como fechar a boca e atar os braços de Pabllo Vittar, Anitta, Emicida, Gal Costa, Caetano, Maria Bethânia, Chico, Renata Sorrah, Dira Paes, Lulu Santos, Letícia Sabatella, Wagner Moura, Maria Fernanda Cândido, Alessandra Negrini, José de Abreu, Juliette, Nei Lisboa, Xuxa, Matheus Nachtergaele, Paulo Betti, Daniela Mercury, banda Fresno, Marcelo Adnet, Camila Pitanga, Julia Lemmertz, Zélia Duncan e a memória de Marília Mendonça.

Gritem: fora, Bolsonaro. Não se acanhem. Gritem: abaixo a censura. Gritem: cala a boca já morreu. Vivam para gritar. Gritem para viver.

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