O Big Brother é o Brasil atual

“Com total desinteresse comecei a acompanhar meio de longe e pude perceber como ele se parece com o atual governo e o atual Brasil”

(Foto: Miguel Paiva)


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Por Miguel Paiva, do Jornalistas pela Democracia

Lembro que a primeira edição do BBB eu assisti com interesse. Trocava até telefonemas com a Marilia Gabriela decidindo opiniões. Escrevi sobre o programa e destacava a exposição de sentimentos básicos do ser humano enclausurado levados ao extremo. Era sádico, mas era novo e interessante. O programa foi adiante por mais de 20 anos e fui perdendo o interesse. Muita gente interessante saiu do BBB e destaco assim de imediato o colega Jean Wyllys que virou personagem fundamental da nossa política ao se eleger deputado e de esquerda. No ano passado, o programa voltou a causar algum efeito. Juliette, a vencedora acabou cantando com Gilberto Gil e sendo estrela de várias campanhas publicitárias. Tem opiniões que vão contra a atual ideologia do governo, mas isso hoje acaba nem sendo elemento de destaque. É o que se espera de todos. Este ano, com total desinteresse comecei a acompanhar meio de longe e pude perceber, não só por este, mas por todos os programas passados como ele se parece com o atual governo e o atual Brasil.

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As pessoas estão presas ali naquela casa exageradamente colorida e cafona como numa quarentena que ao final te dá um prêmio. Na nossa quarentena temos só que sobreviver ao Covid. Não está sendo fácil. As pessoas, toda semana, disputam uma liderança, assim como nossos políticos, ao final também de uma semana, uma dessas pessoas é eliminada através de um simbólico “paredão”. Uma espécie de cancelamento que envolve milhões de telefonemas ou mensagens eletrônicas que definem o futuro da pessoa. Não sei se a Globo paga um analista para esses rejeitados. Como na sociedade aqui de fora, as pessoas que não andam de acordo com aquele regime meio estranho da casa acabam canceladas. As que ficam se perdem entre teorias fajutas sobre tudo, psicologismos baratos e estratégias vencidas de vitória. Se entende pouco ouvindo o que eles dizem, mas ao final, depois das provas a que se submetem, o destino de cada um é selado. As pessoas também namoram, comem mais ou menos e vão a festas. Muitas festas beirando o alcoolismo e a erotização. Se pegam, se beijam, brigam e choram. Choram muito. É um micro Brasil que vai vivendo com problemas particulares, mas que acabam repercutindo mesmo que isolados os problemas aqui de fora. Eles se revelam racistas, bolsonaristas, esquerdistas (poucos) e sobretudo mal informados sobre a realidade brasileira. Quem consegue se destacar dá literalmente aula para os outros. Quem venceu nesses anos todos foi na sua maioria esquecido. Vários perderam o dinheiro que ganharam, outros, mesmo sem ganhar, ficaram mais famosos do que quem ganhou. Continua sendo um retrato deste país que mergulhou na mediocridade, que só escuta música popularesca, que come muito com medo de não ter o que comer no dia seguinte e que ama desesperadamente com medo de ficar sozinho. Em volta disso tudo temos a vida real patrocinada por diversos clientes que nos lembram que aquilo é um produto para fazer dinheiro e quem participa leva uma pequena parte se ganhar e se só participar leva um muito obrigado de quem financia. É mais ou menos o que nos restou. Estar vivos é uma propaganda involuntária do ser humano. É o que nos resta e o Big Brother que de big só tem os patrocinadores continua nos observando para ver até onde pode nos empurrar contra o paredão. Quem sobreviver verá.

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