O beijo do casal Bolsonaro
A tecnologia política do macho predador e uma esposa bela, crente, recatada e do lar
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Por Marcia Tiburi
A tentativa de Bolsonaro de puxar um coro com a palavra “imbroxável” foi, na verdade, o coroamento de uma cena ridícula na era de sua capitalização. Bolsonaro se elegeu por meio dessa tática. Por trás das piadas, Bolsonaro, e políticos que o imitam, tentam normalmente esconder o autoritarismo e a corrupção e naturalizar os preconceitos e assim, extasiar e adular as massas ignorantes.
Na produção das cenas ridículas, entra agora Michelle Bolsonaro, a mesma do cheque de 89 mil reais provenientes de transações jamais explicadas. Mesmo que ela esteja de acordo com o que Bolsonaro faz com ela, está sendo usada como mercadoria na produção do espetáculo do fascismo no qual o machismo é um componente essencial.
Bolsonaro explora a condição de mulher de Michelle e, nessa cena, explora sua sexualidade. O beijo é um ato simbólico pelo qual ele tenta passar por “príncipe” diante de uma mulher “princesificada”. A instrumentalização do corpo e da imagem de mulher reduzida à princesa que pode ser beijada no comício para provar que o marido não é “brocha” é explícita.
Michelle é convocada na cena como esposa dócil (a nova bela recatada e do lar) e sensualizada que ameniza a imagem de homem mau do marido, muito mais associado a um espantalho do que a um príncipe.
A estratégia é novelesca: vender sexo como espetáculo e fortalecer a política como entretenimento das massas. Bolsonaro vem fazendo isso há tempo.
Há anos quando usou um vídeo com a famosa cena do “golden shower”, prática pouco conhecida da maioria da população, ele já operava com a manipulação das emoções e afetos negativos que é uma marca do seu governo, associado a muitos com a ideia de um “desgoverno”, considerando o estado de penúria em que se encontra o país.
Usar a sexualidade do casal heterossexual, serve para colocar Bolsonaro na posição de “macho” predador; no caso, sua própria esposa serve de exemplo de caça.
É toda uma tecnologia política que está na insinuação do sexo através da encenação do beijo no meio do discurso grotesco. É o beijo como poder. Se fosse preciso ele faria coisa pior como um dia prometeu à deputada Maria do Rosario.
A questão que precisa ser respondida é: por que a masculinidade é um capital político? Dela deriva uma outra questão mais importante: como superar o machismo como tecnologia política?
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