O barraco do Leblon

"Esse é o tipo de baixaria que eu gosto, a da Dias Ferreira no Leblon e a dos Jardins em São Paulo. Gosto porque mostra bem quem é esta elite brasileira ou quem se diz parte dela. As pessoas hoje, sobretudo dessa elite falida, vivem muito do que os outros pensam e dizem", escreve Miguel Paiva, do Jornalistas pela Democracia

(Foto: Miguel Paiva)


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Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia 

Esse é o tipo de baixaria que eu gosto, a da Dias Ferreira no Leblon e a dos Jardins em São Paulo. Gosto porque mostra bem quem é esta elite brasileira ou quem se diz parte dela. O comportamento destas pessoas tanto no Rio quanto em São Paulo durante a pandemia mostra bem do que eles seriam capazes. Entendo a paciência no limite mas pensem na paciência de quem mora em comunidade ou na periferia em péssimas condições? Eles também têm paciência e também a perdem. Aglomerar irresponsavelmente não justifica. 

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A Rua Dias Ferreira no Leblon virou o espelho quebrado dessa burguesia decadente. As pessoas vão para os bares beber e tentar esquecer quem são. Se imaginam num país sem problemas, sem pobres e sem pandemia. Um país onde eles reinam e um pai de todos vem para resolver os problemas, ou pelo menos, dizer que vai. Em São Paulo a briga foi no Gero, restaurante de elite nos Jardins que já foi muito bom e caro. Hoje continua caro. Nem sei como começou nem porque evoluiu, só sei que tinha gente dizendo que era amigo de delegado e outra dizendo que era dona do local. A famosa carteirada que em São Paulo é linguagem. 

Aqui no Rio deu hoje no jornal que duas das pessoas envolvidas já tinham passagem pela polícia. A arquiteta que havia agredido a ex-sogra e o motorista denunciado na delegacia por uma briga no Maracanã e por outra agressão que não lembro bem. Ou seja, aparentemente gente que ignora a pandemia, é contra a máscara e vota no Bolsonaro. Devem gostar da violência, porque atitudes das duas beirou a barbárie. O companheiro da arquiteta arrancou o sutiã de uma das moças de biquíni e depois disse que ela estava mostrando os peitos. Mostrou depois que ele cometeu a violência de arrancar a peça de roupa dela como mostra o vídeo. 

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Não existe moralismo que proíba pessoas de andar de biquíni dentro de um carro ou até mesmo ficar se beijando a 3. Para a arquiteta que disse que aquilo ofendia a filha dela que também estava ali eu respondo que beijar pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferente na rua não é crime. Se a filha dela ficar escandalizada acho que falta uma boa conversa com ela sobre os novos costumes. Vergonha mesmo é obrigar a filha a aglomerar num bar na Dias Ferreira em meio à pandemia. Quanto às duas moças e o rapaz desfilando seus corpos nus acho que fariam melhor se fossem, os três, para um quarto e colocassem seu tesão em funcionamento. Seria mais divertido e proveitoso. Mas talvez não fosse isso que estivesse interessando. 

As pessoas hoje, sobretudo dessa elite falida, vivem muito do que os outros pensam e dizem. Desfilar com duas mulheres de biquíni no carro, para ele deve ser muito mais prazeroso que se arriscar na cama com elas.

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De qualquer forma, tanto a baixaria do Rio quanto a de São Paulo nos colocam numa situação pelo menos vexatória. Situações assim sempre existiram na burguesia ocidental. Escândalos foram a marca da história da Grã Bretanha, da França e da Itália. Os americanos adoram um trelelê sexual e o mundo se diverte vendo essas histórias acontecerem com os outros. O problema é que aqui virou a tônica. O twitter bombou e as pessoas de fato se mobilizaram. Logo qualificamos os envolvidos e eu mesmo fiz isso também, separando bolsonaristas pra cá e oposição pra lá. Nesse caso acho que só havia bolsonaristas. 

O país está sendo tomado por esse tipo de linguagem. Os mais pobres estão cada dia mais excluídos e o padrão que rege é o pior possível, o lixo da elite e da burguesia que começa a vazar dos latões e das latinhas. Esse chorume que se espalha pelas ruas vai contaminando todos como uma covid social que, apesar do algum dinheiro e instrução que eles possam ter, acabará os levando à barbárie geral.

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Nada contra o biquíni das moças, o restaurante Gero e o convívio hedonista das pessoas, mesmo com o moralismo católico imperando. O que me incomoda é isso estar virando padrão. Só lembro aqui que o Brasil proíbe as mulheres de exercerem o direito de tomar sol de topless e fazem questão de organizar e manipular, através dos homens, o carnaval das bundas de fora o ano todo. O corpo da mulher com um direito delas é proibido e isso inclui o direito ao aborto. Já o corpo para ser exibido e, no caso, agredido é direito de todos, inclusive dos homens. Esse bloco não é o meu e nem quero botar ele na rua.

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