O azul de lá e o vermelho de cá

“O derretimento da influência do apoio de Bolsonaro a seus candidatos nas capitais tem a mesma causa da vitória do democrata Joe Biden nos grandes centros urbanos norte-americanos: a má gestão da crise causada pela pandemia do coronavírus”, afirma Adilson Roberto Gonçalves

(Foto: ABr | Reuters)


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São contrastantes os clamores dos presidentes do TSE e dos principais partidos de oposição em relação à condução do processo eleitoral deste ano, exarados em artigos na seção Tendências/Debates da Folha de S. Paulo em 25/10. O ministro Luís Roberto Barroso clama para a segurança do eleitor e informação correta, mas as fake news que elegeram Bolsonaro foram aceitas, não julgadas ou tiveram denúncias engavetadas. A era dos não-debates está em curso, pois, mesmo nos que aconteceram na Band no mês passado, partidos conseguiram isolar candidatos não lhes fazendo perguntas, como o de Campinas-SP. Infelizmente, de parte a parte, eleição é interesse momentâneo e não parte da ação política duradoura.

O derretimento da influência do apoio de Bolsonaro a seus candidatos nas capitais tem a mesma causa da vitória do democrata Joe Biden nos grandes centros urbanos norte-americanos: a má gestão da crise causada pela pandemia do coronavírus. Nas eleições municipais devemos assistir no Brasil a uma virada semelhante, apenas invertendo as cores.

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Os números do Datafolha de outubro já mostravam tendências de crescimento da intenção de voto em Boulos em São Paulo, mas não foi avaliado o quadro de um eventual segundo turno entre ele e Covas. Isso seria importante para confirmar ou não a evolução do receio que o prefeito tem de disputar diretamente com o candidato do PSOL. A rejeição de Russomanno era maior do que a divulgada, pois se somar com os que rejeitam todos os candidatos atingia-se 43%; se normalizar somente pelos que responderam (96%) dava 45%, no limite de qualquer chance de ser eleito. Na mais recente pesquisa do Ibope, isso se confirmou porque Russomanno derreteu ainda mais para meros 12%, empatado com Boulos, que aparece numericamente à frente, com 13%. O destaque é a rejeição ainda alta de Russomanno (41%), mas obtida com metodologia diferente. Ainda que passasse a haver uma simulação de segundo turno entre Boulos e Covas, faltam dados mais atuais, uma vez que Russomanno obteve liminar na justiça para impedir a divulgação de nova pesquisa Datafolha.

A atenção foi voltada às eleições norte-americanas porque influenciarão diretamente nossa vida política, já que teremos também, espero, nosso tirano devoto e sem voto. Houve alguns erros estratégicos da campanha dos Democratas, mas há que se considerar o discurso de Trump rotulando de socialismo as propostas de Biden, o que convenceu o voto hispânico, notadamente imigrantes cubanos. Tivemos aqui nossa experiência de candidato contra mulheres, contra negros, contra todas as minorias e que venceu em todos esses segmentos.

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Com Bolsonaro, perdemos o pouco de protagonismo internacional e dignidade que tínhamos; com a reeleição de Trump, seríamos ainda mais humilhados. Joe Biden não resolverá os problemas criados pelos fascistas ignorantes brasileiros, mas fará o mentecapto-mor de Brasília baixar um pouco a bola, especialmente nas questões ambientais. Mas a eleição norte-americana parece indefinida e esperávamos que o espírito de Aécio Neves não baixasse sobre os Republicanos, caso perdessem. Porém, foi o que aconteceu.

Por fim, chamou a atenção que a Folha, em editorial um dia após o aniversário da Revolução Bolchevique, falou grosso contra Trump, elogiando a vitória da democracia, digo, de Biden, mas afinou ao criticar Bolsonaro, clamando ingenuamente para que as lideranças captem o espírito do tempo. Desde sempre o perigo no Brasil era explícito, mas o jornal resolver igualar o ogro do Planalto a Haddad e continua sua insana defesa de suposta política econômica, que em dois anos nada entregou. A Folha deveria captar o espírito do tempo de seus congêneres norte-americanos e fazer o que o bom jornalismo sempre deveria ter feito: assumir claramente uma posição.

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