O ataque ao mercado brasileiro de carne

Ninguém questiona as razões pelas quais uma operação da Polícia Federal que por sua natureza poderia receber um tratamento discreto tenha tido o tratamento espetaculoso como tem tido. Quais os interesses por trás disso?

Brasil, Promissão, SP, 09/03/2006 – Foto: Alf Ribeiro – Linha de produção e corte de carne do Frigorífico Marfrig, em Promissão, SP
Brasil, Promissão, SP, 09/03/2006 – Foto: Alf Ribeiro – Linha de produção e corte de carne do Frigorífico Marfrig, em Promissão, SP (Foto: Jose Carlos de Assis)


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O fato de o ataque contra a carne brasileira ocorrer no contexto da nova política de Donald Trump de usar o protecionismo comercial como instrumento de promoção dos produtores norte-americanos de carne não deve surpreender ninguém. Estava inscrito já na campanha presidencial dos Estados Unidos. O que surpreende é a rapidez com que a Polícia Federal e o Ministério Público brasileiros cumpriram as determinações norte-americanas de participar dessa conspiração contra o Brasil disfarçada de luta contra a corrupção.

Mais surpreendente, porém, é a suprema imbecilidade com que parte da sociedade brasileira está avaliando esse processo. Ninguém questiona as razões pelas quais uma operação da Polícia Federal que por sua natureza poderia receber um tratamento discreto tenha tido o tratamento espetaculoso como tem tido. Quais os interesses por trás disso? Se fosse de luta contra a corrupção poderia ter transcorrido em segredo de justiça para tornar-se pública apenas na hora da formalização do processo.

O caráter espetaculoso da operação denuncia a intenção deliberada de atacar a carne brasileira e afetar a liderança do país no mercado internacional de carne. Isso beneficia a custo zero o segundo colocado, justamente os norte-americanos. As consequências são terríveis. A internet está cheia de chamadas imbecis colocando em dúvida a qualidade do nosso produto. Circula nela um post idiota na qual papelão está envolvido em espetos, como se fosse carne. Quem inventou isso não se deu conta de que nem a PF insistiu nessa bobagem.

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No mercado de alimentos qualquer insinuação de qualidade provoca danos irreparáveis. Claro, é necessário cuidar da vida. Mas justamente por isso esse mercado está sujeito a ataques perniciosos, tão mais graves quanto maior é a capacidade de manipulação da informação pelos seus detratores. Em geral, uma parte da opinião pública sabe distinguir o que é chantagem do que não é. Grande parte, porém, se deixa levar pela onda, sobretudo quando se juntam vendilhões da pátria e ações coordenadas de potências estrangeiras.

Entretanto, consideremos a hipótese de que parte da denúncia seja correta. A primeira coisa que a Polícia Federal e o Ministério Público teriam que fazer seria realizar uma investigação preliminar sigilosa – eles tem amplos instrumentos para isso -, antes de apresentar denúncia pública, limitando essas aos casos comprovados de corrupção. No entanto fizeram o oposto. Denunciaram primeiro para investigar depois. Com isso, misturaram o joio com o trigo. E afetaram todo o mercado brasileiro de carne de forma totalmente irresponsável, na medida em que parte dele será irrecuperável a curto prazo.

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A forma como está sendo conduzido esse processo denota a bobagem bem intencionada da Constituição de 88 de conferir plena autonomia ao Ministério Público e à Polícia Federal. Eles se tornaram monstros dominadores da vida brasileira. Isso é muito bonito enquanto não estamos, nós, nossos parentes e nossos amigos sendo acusados injustamente por alguma suspeita, mas é terrível quando se pensa no cidadão inocente que cai nas garras deles, praticamente sem proteção jurídica. Lembram-se do projeto de lei de Abuso de Autoridade, relatado pelo senador Roberto Requião? Pois bem, por pressão MP ele não passou!

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