O álibi do seu Jair

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Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia - Às 17h10 do dia 24 de março de 2018, o sr. Élcio de Queiróz estacionou seu carro da marca Logan, placa AGH-8202 em frente à portaria do condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro e informou ao porteiro que iria visitar o morador da casa no. 58.

  O porteiro interfonou para o endereço, e recebeu do interlocutor, que tinha a voz de “seu Jair” a autorização para o visitante entrar.

  Ao acompanhar a trajetória do Logan dentro do condomínio, o porteiro verificou, porém, que ele se dirigia para outra residência, de número 66.

  Imediatamente voltou a interfonar ao morador da casa número 58, informando que o visitante se dirigia a outro endereço. De novo ouviu a voz que identificou como a de “seu Jair” lhe dizer que sabia para onde o sr. Élcio estava indo. Não havia problema.

  Alguns minutos depois, o sr. Élcio deixou o condomínio, em seu Logan, na companhia do morador da casa número 66, o sr. Ronnie Lessa.

  O resto da história é conhecido: eles trocaram o Logan por um Cobalt, dirigido por Élcio e, por volta de 21h30, na Rua Joaquim Palhares, no Estácio, emparelharam o carro com o veículo no qual estava a vereadora Marielle Franco.

  Ronnie Lessa fez treze disparos: quatro deles atingiram a vereadora (três na cabeça e um no pescoço) e três perfuraram as costas do motorista Anderson Gomes.

  Acusados pelo crime em decorrência de investigação da polícia civil do Rio de Janeiro, concluída mais de um ano depois, ambos estão presos em presídio de segurança máxima.

  O “seu Jair”, o então deputado Jair Bolsonaro, não estava em sua casa do condomínio no dia 14 de março de 2018. De acordo com registros da Câmara dos Deputados, ele votou duas vezes nesse dia, às 14h00 e às 20h30. E também postou vídeos mostrando que estava em seu gabinete.

  O fato de não estar no Rio e sim em Brasília no dia D, não quer dizer, no entanto, que o porteiro mentiu ou se enganou.

  O sr. Élcio foi visitar o morador da casa número 58, que era o deputado Jair Bolsonaro. Ou o próprio morador ou alguém que imitou sua voz autorizou a visita. A seguir, essa mesma pessoa, tenha sido o deputado ou alguém que imitou sua voz afirmou que não tinha importância que o visitante se dirigiu a outro endereço no mesmo condomínio.

  Ou seja: o morador da casa número 58 sabia que naquele dia e naquele horário receberia a visita do sr. Élcio e que o sr. Élcio na verdade iria visitar seu vizinho, morador da casa número 66.

  O elo entre o morador da casa número 58 e os srs. Élcio de Queiróz e Ronnie Lessa está configurado, com base em dois depoimentos do porteiro à polícia– de quem, é claro, não se revela o nome – e o registro por escrito no livro de visitas do condomínio.

  Tanto o deputado quanto o visitante construíram seus respectivos álibis: o primeiro postou vídeos no mesmo dia, em Brasília (“eu estou aqui, estão vendo”?), e o segundo constou no livro de visitas como visitante do morador da casa número 58 – um deputado federal - e não do da casa número 66, que algumas horas depois mataria a vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes.

  Há dois imóveis no condomínio Vivendas da Barra em nome de Jair Bolsonaro: o de número 58, onde morava e o de número 36, onde mora seu filho Carlos, o 03.

  Como se sabe, é aquele que tem acesso irrestrito à senha do twitter do pai.     

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