O alerta laranja

A imagem que fica é a de um militar saído do churrasco para ver o que havia sobrado do incêndio criminoso e acabou encontrando incendiários em fuga e com sede

General Gonçalves Dias
General Gonçalves Dias (Foto: José Cruz/Agência Brasil)


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Até o final de tarde de sexta-feira, a maioria das abordagens públicas sobre o general Gonçalves Dias o enquadrava como omisso diante do que aconteceu no 8 de janeiro no Palácio do Planalto e foi em parte por ele presenciado.

O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional era apontado apenas por omissão porque foi sendo descartada a hipótese de que pudesse ter virado cúmplice dos invasores.

Sua trajetória, seus vínculos com Lula e seu perfil não combinavam com a de alguém que teria se transformado em ajudante de golpistas.

A displicência do general configurava muito mais a postura de um guardinha de firma, atordoado pelo rescaldo de uma depredação e sem condições de intervir, do que a inação de um mancomunado.

Gonçalves Dias não era parte do esquema. Era a autoridade mais importante da área da segurança da presidência e incapaz de reagir ao que via diante dele.

Mas ao anoitecer de sexta-feira, depois do depoimento à Polícia Federal, o general já era mais do que fraco ou omisso.

Era um comandante que se reconhecia como ingênuo e simplório no cenário da guerra.

Gonçalves Dias admitiu à PF que um certo general Feitosa o alertou para as ameaças de 8 de janeiro com cenário de risco laranja.

Estes trechos são a transcrição sem cortes do que ele disse sobre o alerta de Feitosa:

“QUE não tem informações decoradas sobre como a segurança do Palácio do Planalto deve ser empregada no cenário de risco laranja, mas estas devem estar no Plano Escudo; QUE não sabe dizer qual a classificação de risco para o evento de 08 de Janeiro e se seria de normalidade; QUE o responsável pela classificação de risco do evento seria o Gen. FEITOSA; QUE não sabe em que dados o GSI se baseou para classificar o risco do evento".

Ficamos sabendo que a área de inteligência do governo estava sob os cuidados de um general imobilizado pela desinformação e pela falta de discernimento.

Conhecendo detalhes escabrosos da perseguição a Lula e sabendo que, depois de eleito, ele continuaria na mira do fascismo, o general manteve dentro da estrutura de arapongagem do governo os homens de Augusto Heleno.

Entre os quais estava Carlos Feitosa Rodrigues, chefe da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial.

Feitosa cuidava da estrutura de segurança do Palácio do Planalto, do presidente e da família do presidente. E era da turma de Heleno.

Imaginemos que fim de mundo teríamos se o alerta de Feitosa tivesse sido vermelho.

Profissionais de bisbilhotagem continuaram fazendo o que sabem fazer, agora dentro do governo que muitos deles não queriam que existisse. E em cargos de comando.

E o general Gonçalves Dias foi dizer à Polícia Federal que deve ter sido sabotado por quem? Pelos homens de Augusto Heleno.

Um general, o homem de confiança de Lula, escalado para ser o primeiro a saber do que ninguém sabe, tinha arapongas da extrema direita dentro da sua trincheira.

E no dia 8 de janeiro, quando os terroristas invadiram Brasília, esses arapongas estavam dentro do Planalto até oferecendo água aos invasores.

O general diz, com certa singeleza, que não sabia que poderia ser sabotado pelos homens de Heleno no GSI. Mas que hoje suspeita que eles seriam informantes do seu antecessor.

O general não intuía, antes do 8 de janeiro, que os ficados poderiam conspirar contra o governo que o bolsonarismo tentou derrubar logo depois de empossado. E ainda tenta.

O general mandou dizer ao amigo Lula, pelo depoimento à PF, que era mesmo o equivalente a um vigilante de firma cuidando da inteligência do Planalto.

E que não cuidou direito, como disse como desculpa, porque não foi convidado a participar das reuniões sobre o esquema de prevenção à invasão.

O GSI ficou de fora das conversas, não conseguiu antecipar-se ao que aconteceria e tinha, dentro do Planalto, homens do próprio GSI como garçons dos golpistas.

No depoimento à PF, o general disse que, no momento em que foi flagrado pelas câmeras do Planalto, fazia gerenciamento de crise. Ao lado de Feitosa, que só foi exonerado do cargo três semanas depois.

A imagem que fica é a de um militar saído do churrasco de domingo para ver o que havia sobrado do incêndio criminoso e acabou encontrando incendiários em fuga e com sede. Tudo no alerta laranja.

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