Novo partido é jogada de alto risco para Bolsonaro

"Jair Bolsonaro não é um presidente como outros, sobretudo no quesito articulação política", escreve Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia. "Enquanto a Aliança não tiver sua criação confirmada, não poderá abrigar deputados que vão sair com o presidente do PSL, pois eles correm o risco de perder seus mandatos"

(Foto: ADRIANO MACHADO - REUTERS)


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Por Helena Chagas, para Os Divergentes e para o Jornalistas pela Democracia

Jair Bolsonaro — que, num gesto inédito para um presidente da República, deixou formalmente nesta terça o PSL —  vai precisar de uma senhora ajuda do Tribunal Superior Eleitoral para viabilizar seu novo partido, a Aliança pelo Brasil, antes das eleições do ano que vem. É grande o risco de dar com os burros n’água, segundo opinião de dez entre dez políticos experientes.

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Dois precedentes importantes da história recente apontam em sentidos contrários. Marina Silva, por exemplo, fracassou na tentativa de formalizar a Rede Sustentabilidade e fim de concorrer nas eleições de 2014. Acabou vice na chapa de Eduardo Campos pelo PSB e, com sua morte, candidata a presidente. Mas demorou para viabilizar a Rede.

Já Gilberto Kassab obteve, em 2011, as boas graças da Justiça Eleitoral e criou seu PSD em tempo recorde, participando das eleições de 2012. Foi uma proeza, e para sua realização certamente terá pesado o fato de Kassab, na época, ser aliado ao mesmo tempo da presidente da República, Dilma Rousseff, e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

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Não se deve subestimar a capacidade de um presidente da República, com a máquina, a caneta e o Diário Oficial nas mãos, de criar um partido. Mas Jair Bolsonaro não é um presidente como outros, sobretudo no quesito articulação política.

Coincidência ou não, na mesma terça-feira em que Bolsonaro assinou sua carta de desfiliação do PSL, o sub-procurador geral eleitoral, Humberto Jacques, enviou parecer ao TSE contrário à coleta das assinaturas necessárias por via digital. O parecer do procurador não é a decisão final do Tribunal, mas acendeu um sinal de alerta entre bolsonaristas, que pretendem usar a estratégia digital para reunir as 500 mil  assinaturas até março.

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Do ponto de vista político, a decisão de Bolsonaro de criar mesmo um novo partido também tem alto risco. Enquanto a Aliança não tiver sua criação confirmada, não poderá abrigar deputados que vão sair com o presidente do PSL, pois eles correm o risco de perder seus mandatos. Até essa formalização, vão viver numa espécie de limbo político, com um pé no partido antigo e outro no novo.

O que fará Eduardo Bolsonaro, hoje líder do PSL na Câmara?  Provavelmente deixará a função. Ele e seus aliados arriscam-se a perder as indicações para os postos que ocupam hoje em comissões e relatorias, até por represália de Luciano Bivar, confirmado também nesta terça na presidência do PSL.

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O primeiro grande prejuízo político da nova empreitada partidária da família Bolsonaro poderá ser a perda das vagas que seus aliados ocupam hoje na CPMI das FakeNews, aquela criada para investigar o esquema digital montado pelo hoje presidente nas eleições de 2018.

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