Golpe na Bolívia quer exterminar fisicamente apoiadores dos governos Evo
O golpe na Bolívia confirmou que, para um setor importante das classes dominantes latino-americanas, as urnas só valem quando eles vencem, escreve Valter Pomar, dirigente político petista e colunista de Brasil247 Valter Pomar
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Depois da eleição da Argentina, muitos setores da esquerda latino-americana passaram a imaginar que se havia detido e começado a reverter a ofensiva reacionária. Como se estivessem de volta os “bons tempos”, nos quais o que decide é a vontade que o povo manifesta nas urnas.
O golpe na Bolívia confirmou que não é assim.
O golpe na Bolívia confirmou que, para um setor importante das classes dominantes latino-americanas, as urnas só valem quando eles vencem.
O golpe na Bolívia confirmou que a postura das forças armadas venezuelanas é a exceção, não a regra.
O golpe na Bolívia confirmou que de pouco ou nada adiantam as concessões, os recuos, os acenos, os diálogos, as renúncias: prevalece em amplos setores do lado de lá uma disposição assassina, violenta e implacável por “dar uma lição” para os “insolentes” que “não sabem o seu lugar”.
No momento em que escrevo este texto, as 6h55 da manhã de segunda-feira dia 11 de novembro, os Estados Unidos, seu “departamento de colônias” (a OEA), a classe dominante boliviana, seus meios de comunicação, a extrema direita e toda a fauna de cavernícolas, fascistas e criminosos seguem estimulando e/ou praticando todo tipo de violência, inclusive atacando embaixadas e moradias. E o exército, depois de “sugerir” por escrito a renúncia de Evo, saiu às ruas e assumiu explicitamente seu lugar no golpe.
Ao anunciar sua renúncia, Evo Morales certamente imaginava que seu gesto contribuiria para deter a onda de violência. Mas não há nenhum sinal de que os golpistas tenham ou pretendam mudar de postura.
Está evidente que o golpismo boliviano não pretende apenas derrubar um presidente e impedir sua reeleição. O objetivo também é exterminar fisicamente os apoiadores do governo Evo Morales. Há notícias de que vários membros do governo foram presos. O próprio Evo denunciou, ontem de noite, que o estavam buscando.
É preciso seguir denunciando o golpe, é preciso seguir prestando solidariedade às vítimas, é preciso exigir que se respeite a vida dos bolivianos e das bolivianas, a começar por Evo Morales. Mas também é preciso apoiar aqueles que, na Bolívia, querem e estão resistindo ativamente ao golpe, por não acreditarem que acenar uma bandeira branca seja a maneira mais eficaz de deter o massacre.
PS: Ontem, logo após escutar o pronunciamento de Evo Morales renunciando, escrevi uma pequena nota de 11 linhas, afirmando que sua renúncia era um erro. Muitas pessoas divergiram enfaticamente de meu ponto de vista. Alguns por considerar que não temos elementos para opinar; outros por achar inapropriado falar dos erros cometidos por Evo num momento como esse; e vários acharam que fui muito “duro”, desrespeitoso e inclusive “covarde”, ao falar de “capitulação sem luta” e de “covardia facultativa”. Respeito e compreendo quem pensa assim; e aos que reagiram me insultando, só peço que não se esqueçam de debater o mérito da questão. E o mérito é muito simples: a renúncia de Evo foi útil para quem?
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