Nosso Hitler é a agenda de Paulo Guedes

"Nosso Hitler não é propriamente Bolsonaro, mas o Guedes. Evidentemente, não o Guedes pessoa física, mas a sua agenda selvagem, grotesca e anticivilizatória, a qual promete criar uma sociedade baseada na desigualdade extrema, na miséria, na exclusão de dezenas de milhões de cidadãos e no cada um por si", afirma o colunista Marcelo Zero

Nosso Hitler não é propriamente Bolsonaro, como diz o Estadão, mas o Guedes.
Nosso Hitler não é propriamente Bolsonaro, como diz o Estadão, mas o Guedes. (Foto: José Cruz/Agência Brasil)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Nosso Hitler é a Agenda de Guedes

Marcelo Zero

continua após o anúncio

A demissão sumária do explicitamente nazista Alvim, nulidade intelectual plagiadora de Goebbels, pode ter dado a impressão de que o governo Bolsonaro não compartilha do ideário nazifascista.

Engano crasso. O inacreditável ex-secretário de cultura não diverge do bestiário fascista que é o governo do capitão. Ele foi colocado à frente da pasta da cultura justamente para cumprir com a agenda nazistoide de promover uma suposta “cultura nacional” pura e reprimir quaisquer manifestações culturais divergentes. Ele citou Goebbels porque a agenda cultural do capitão é a mesma do ministro nazista da propaganda. 

continua após o anúncio

O governo Bolsonaro teve de demitir Alvim apenas porque esse não soube manter as aparências. Com isso, provocou escândalo nacional e a pronta reação de Israel, um dos poucos governos do mundo que é aliado do infame governo do capitão. 

A agenda cultural nazistoide, porém, prosseguirá, provavelmente sob a gestão temerária de destemida atriz. 

continua após o anúncio

Da mesma forma, prosseguirão todas as ouras agendas autoritárias do governo do capitão, especialmente na área econômica. 

Entretanto, o chamado “centro” político do Brasil, ou a velha direita, agora faz de conta que não tem nada a ver com a barbárie política que tomou conta do país. Compreende-se. O bestiário bolsonarista é constrangedor para quem tem um mínimo de pudor.

continua após o anúncio

Mas não pode fazê-lo.

Em primeiro lugar, porque foram eles, partidos políticos tradicionais, mídia corporativa, sistema financeiro, agronegócio, patronato industrial etc. que colocaram Bolsonaro no poder. Estimularam, cevaram e apoiaram o bolsonarismo, o antipetismo e o antiesquerdismo, da mesma forma que a direita tradicional alemã acabou fazendo com Hitler. O intuito maior era evitar que o PT e seus aliados voltassem ao poder e, dessa maneira, impor a agenda das reformas ultraneoliberais. 

continua após o anúncio

Não adianta agora, que a caixa de Pandora foi aberta, vir reconhecer tardiamente que Bolsonaro é nazista, como faz o Estadão. O Estadão e todos os outros apoiadores sabiam muito bem, há bastante tempo, que Bolsonaro era um fascista declarado.

Em segundo lugar, porque o bolsonarismo é o regime político apropriado para a imposição da agenda ultraneoliberal, que eles tanto apoiam. Um não pode ser dissociado da outra. 

continua após o anúncio

Bertold Brecht tem um pequeno texto, datado de 1935, que me parece esclarecedor sobre as relações entre nazifascismo e capitalismo. Intitula-se “O Fascismo é a verdadeira face do Capitalismo”. Nele, Brecht critica a visão ingênua de que o nazifascismo podia ser dissociado do estágio do capitalismo naquele tempo e naquelas circunstâncias.

Escreveu ele:

continua após o anúncio

De acordo com essa visão, o fascismo é um terceiro poder novo ao lado (e acima) do capitalismo e do socialismo; não apenas o movimento socialista, mas também o capitalismo teriam sobrevivido sem a intervenção do fascismo. E assim por diante. Esta é, obviamente, uma reivindicação fascista; aderir a isso é uma capitulação ao fascismo.

O fascismo é uma fase histórica do capitalismo; neste sentido, é algo novo e ao mesmo tempo antigo. Nos países fascistas, o capitalismo continua a existir, mas apenas na forma de fascismo; e o fascismo apenas pode ser combatido como capitalismo, como a forma de capitalismo mais nua, sem vergonha, mais opressiva e mais traiçoeira.

....................................................................................................

Aqueles que são contra o fascismo sem serem contra o capitalismo, que lamentam a barbárie que sai da barbárie, são como pessoas que desejam comer carne de vitela sem matar o bezerro. Eles estão dispostos a comer o bezerro, mas não gostam da visão de sangue. Eles ficam satisfeitos com facilidade se o açougueiro lavar as mãos antes de pesar a carne. Eles não são contra as relações de propriedade que geram a barbárie; eles são apenas contra a própria barbárie.

Claro está que o capitalismo também pode florescer em outros regimes políticos, inclusive os democráticos. Não obstante, naquelas circunstâncias históricas específicas, de ampla crise econômica, social e política e de avanço dos movimentos dos trabalhadores, os regimes nazifascistas se constituíram nas formas ideais, talvez as necessárias, naqueles países, para assegurar a continuidade da acumulação capitalista. 

Algo semelhante aconteceu no Brasil. 

Ante a profunda crise, o medo da volta do “lulismo” e o desejo imperioso de fazer vingar a “pinguela para o passado”, escolheu-se o bolsonarismo, que impõe a agenda ultraneoliberal e, ao mesmo tempo, se encarrega de reprimir quaisquer movimentos para combatê-la. O bolsonarismo tem (ou tinha) a “virtude” de manter as esquerdas e os movimentos populares na defensiva, cooptando vastos setores das camadas populares para o campo da direita, pela sua linha ideológica, religiosa e comportamental. 

O “centro político” do Brasil, na realidade um bolsonarismo envergonhado, é extremamente hipócrita. Constrange-se com as menores barbáries ideológicas, culturais, políticas e gramaticais de gente como Alvim, Weintraub, Damares e o próprio Bolsonaro, mas não sente o menor pudor em apoiar entusiasticamente a grande barbárie de atirar dezenas de milhões de brasileiros no lodaçal hediondo da miséria, da desigualdade, da desesperança e do abandono do Estado mínimo. Não vê o menor problema em eliminar direitos trabalhistas e previdenciários ou em restringir os serviços públicos dos quais os pobres mais dependem. Não sente pejo também em vender o Brasil, em retornar o país à condição de colônia e em torná-lo pequeno e submisso. Vale tudo, desde que não se atropele o vernáculo e as aparências sejam mantidas. 

Voltando à metáfora de Brecht, se lambuzam com a vitela das taxas de lucros aumentadas, mas não querem saber do bezerro sacrificado, inclusive do bezerro da democracia, imolado pelo golpe, a lawfare e o crescente regime de exceção. 

Contudo, como assinalava Brecht, uma coisa não pode ser dissociada da outra. O bolsonarismo existe para pavimentar a implantação de um ultraneoliberalismo pinochetista. As constrangedoras barbáries do bolsonarismo existem para permitir a grande selvageria ultraneoliberal. Bolsonaro et caterva existem para propiciar um bom trabalho para Guedes.

Assim, nosso Hitler não é propriamente Bolsonaro, como diz o Estadão, mas o Guedes que eles apoiam. Evidentemente, não o Guedes pessoa física, mas a sua agenda selvagem, grotesca e anticivilizatória, a qual promete criar uma sociedade baseada na desigualdade extrema, na miséria, na exclusão de dezenas de milhões de cidadãos e no cada um por si. Uma sociedade de “empreendedores” individuais, desde o grande banqueiro até o entregador de Uber Eats. Um grande e falido Chile. 

Bolsonaro, por mais constrangedor que seja, não passa do retrato de Dorian Grey das nossas oligarquias, as quais nunca sentiram vergonha em submeter a população ao que Gandhi chamava de “a pior forma de violência”: a miséria. Ele é a feiura que as nossas elites horrendas tentam esconder. 

Por conseguinte, como diria Brecht, não dá para combater o bolsonarismo sem se lutar contra o ultraneoliberalismo. Não dá para se eliminar a barbárie sem se lutar contra a causa última da barbárie.  

Não há ultraneoliberalismo pulcro, democrático e civilizado. O que é há é muita hipocrisia. 

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247