No Rio, resistência política nas rodas de samba

"Centenas de pessoas – jovens, na sua maioria – praticam uma nova forma de resistência política no Rio de Janeiro. A resistência musical", escreve Marcelo Auler

(Foto: Reprodução | REUTERS/Washington Alves)


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Por Marcelo Auler, em seu Blog 

Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé
Manda o Bolsonaro embora
Basta acreditar que um novo dia vai raiar
O Lula vai voltar!

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(Adaptação da música “Tá Escrito” – Carlinhos Madureira/Gilson Bernini/Xande de Pilares – Grupo Revelação)

A música substitui os discursos políticos. As caminhadas em passeatas pelo asfalto são trocadas pelo samba no pé, sem sair do lugar. Desta maneira, centenas de pessoas – jovens, na sua maioria – praticam uma nova forma de resistência política no Rio de Janeiro. A resistência musical.

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Elas ocorrem nas incontáveis rodas de samba que se espalham pela cidade. Algumas acontecem a poucos metros de distância da outra, como na noite de sábado/madrugada de domingo (14-15/05) na Praça da Harmonia (oficialmente Praça Coronel Assunção, no bairro da Gamboa, Zona Portuária da cidade).

Debaixo da tenda erguida na Rua Antonio Lage, o grupo Prata Preta, bloco de carnaval criado em 2004 para homenagear Horácio José da Silva, vulgo “Prata Preta”, morador da região que no início do século XX notabilizou-se ao enfrentar a Revolta da Vacina – agitava dezenas de foliões já em plena madrugada de domingo.

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A poucos metros dali, na Rua Sacadura Cabral, defronte do Bar do Jorge, quem puxava o samba desde o final da tarde de sábado, eram os sete músicos do Casa de Marimbondo. Foram eles que ao entoarem os versos de “Tá Escrito” levaram o público, adaptando os versos originais, ecoar que “Bolsonaro vai embora e Lula vai voltar!”. Foi iniciativa da plateia, em uma adaptação da letra original da música de Carlinhos Madureira, Gilson Bernini e Xande de Pilares, tal como mostra o vídeo.

Roda de Samba


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Na realidade o publico da Praça da Harmonia repetia o que ocorreu, à tarde, na Roda de Samba do Sambastião, realizada, há três anos, aos pés da imagem de São Sebastião, padroeiro da Cidade, na Praça Luís de Camões, na Glória. Ali também, na noite de sábado, a música “Tá Escrito”, do Grupo Revelação, teve sua letra adaptada para o “Bolsonaro vai embora”. Mas, logo depois, a audiência entoou o “Lula lá!”, como o vídeo registra.

A mesma cena se repetiu no início da noite de domingo (15/05) já na Roda de Samba Gloriosa, comandada por Paulão Sete Cordas (Paulo Roberto Pereira de Araújo), no Largo da Gloria. Uma semana antes, na Prainha de São Francisco (junto à Praça Mauá, Zona Portuária do Rio) foi a vez do grupo feminino Moça Prosa, uma cria das tardes de samba na Pedra do Sal, acabar comandando os gritos de Lula Lá! Algo que também aconteceu no Teatro Rival, em abril, quando da apresentação de outro grupo feminino, Mulheres de Chico, um bloco feminino que canta apenas Chico Buarque de Holanda.

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Com a música e, principalmente, com o samba, os cariocas – e os muitos turistas que têm aportado por aqui – está se posicionando politicamente diante da próxima eleição. Curiosamente, nestas rodas todas não se encontrou candidatos para o próximo pleito. A exceção foi a professora e suplente de vereadora, Luciana Boiteux, que pretende concorrer ao Senado pelo PSOL. Esteve em duas delas.

No domingo pela amanhã, o deputado federal Alessandro Molon, também pré-candidato ao Senado, e o deputado estadual Waldeck Carneiro, que tentará a reeleição, ambos do PSB, apareceram no Chorinho da São Salvador, uma tradicional apresentação do grupo de chorinho Consertando o Coreto, no bairro das Laranjeiras. Ali também já ocorreu o Lula Lá, como em primeiro de maio, mas normalmente por ser um grupo multipartidário, evitam discursos ou posicionamentos mais partidarizados. Quando eles ocorrem, partem da própria plateia, uma vez que moradores de Laranjeiras são tradicionalmente politizados e de esquerda.

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