No divã do Dr. Freud (de novo)

Um diálogo entre o psicanalista e seu cliente inusitado, por Miguel Paiva

(Foto: Miguel Paiva)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

CLIENTE

- Valeu aê por ter vindo, doutor.

continua após o anúncio

ANALISTA

- Eu não tive escolha. Seus filhos praticamente me sequestraram.

continua após o anúncio

CLIENTE

- Eles são mal educados e estão preocupados comigo. Eleição deixa todo mundo tenso.

continua após o anúncio

ANALISTA

- Mas eu estava tranquilo na memória das pessoas, nos livros de psicanálise, nos sonhos de todo mundo e vocês foram lá me buscar.

continua após o anúncio

CLIENTE

-Me dá uma força, doutor. Não consigo nem explicar o que está acontecendo. Estou sentindo umas coisas estranhas.

continua após o anúncio

ANALISTA

- Se chama intuição.

continua após o anúncio

CLIENTE

- Boa intuição?

continua após o anúncio

ANALISTA

- Péssima. O senhor está sentindo que vai perder. É isso e não é fantasia, é verdade.

CLIENTE

- Preciso de ajuda, um remedinho, umas palavras mágicas...Não nasci para participar de debates.

ANALISTA

- E o senhor segue conselhos? Se seguisse não teria feito tanta merda.

CLIENTE

- É que eu sei tudo, estou sempre certo. Os outros é que são o problema.

ANALISTA

- Não dá pra fazer uma sessão de terapia de grupo com o país todo. Mais fácil tratar do senhor.

CLIENTE

- Todo mundo reclama da minha truculência, da minha agressividade, do meu jeitinho de ser.

ANALISTA

- Não tenho explicação psicológica pra isso. É fascismo mesmo.

CLIENTE

- Também dizem que eu trato mal as mulheres, sou a favor do feminicídio, acho que os homens são superiores e só tive uma filha mulher por conta de uma fraquejada.

ANALISTA

- As mulheres não perdoam.

CLIENTE

- Mulher tem que ficar em casa.

ANALISTA

- Mas a sua está na campanha.

CLIENTE

- Só pra falar de religião...

ANALISTA

- Não sou chegado. Também não posso falar nada.

CLIENTE

- O senhor acredita em Deus?

ANALISTA

- Eu não, e o senhor?

CLIENTE

- Cä entre nós...deixa pra lá.

ANALISTA

- Seu tempo está quase acabando. Preciso voltar para a História.

CLIENTE

- Peraí doutor, todo mundo diz que eu sou maluco, doidão, fora da casinha. O senhor concorda?

ANALISTA

- Quem sou eu para julgar isso. O que eu sei é que seu caso não é pra mim. É um caso de polícia. 

CLIENTE

- Não foi pra isso que eu lhe chamei...

ANALISTA

-Chamou?

CLIENTE

- Enfim, preciso dos seus conselhos. O que eu faço se o barbudo ganhar?

ANALISTA

- Fica na sua. Deixa a festa acabar e vai durar, e depois. se for possível, some ou se entrega.

CLIENTE

- No sentido real ou figurado?

ANALISTA

- Nos dois. O senhor foi uma contingência dessa virada do mundo à direita, mas uma contingência inesperada, surpreendente. Nem quem apostava no senhor achou o resultado bom. Direita eles até querem, mas com o senhor, não conseguem implantar o projeto deles.

CLIENTE

- Pô, doutor, assim vou me sentir rejeitado.

ANALISTA

- Vamos aguardar o dia 2 de outubro para saber se o senhor está se sentindo rejeitado ou está de fato sendo rejeitado.

CLIENTE

- Não entendi.

ANALISTA

- Normal. Seu tempo acabou. Posso ir embora?

CLIENTE

- Só um minuto. É que tem uma fila enorme lá fora de gente querendo uma sessãozinha também.

ANALISTA

- Jura?

Ele abre a porta e grita para a fila enorme que se forma.

CLIENTE

- Ciro, vem, pode entrar

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247