No dia que inflação superou 100%, Alberto Fernández foi internado. Já passa bem
Nesta ciranda, o distanciamento entre Fernández e a ex-presidente e vice-presidente Cristina Kirchner é notório, como observam no próprio governo argentino
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O presidente da Argentina, Alberto Fernández, foi internado às pressas, na noite de terça-feira, após sentir fortes dores nas costas, segundo comunicado da Presidência do país. Os exames mostraram que o presidente sofre uma “hérnia de disco lombar”. A Unidade Médica da Presidência informou que o presidente foi recomendado a fazer repouso, pelo menos durante dois dias.
Poucas horas depois, o presidente argentino teve alta e foi para casa, a residência presidencial de Olivos, a cerca de uma hora e meia da cidade de Buenos Aires.
A “dor aguda” de Fernández, como seus médicos a definiram, ocorreu no mesmo dia em que o país registrou a inflação mais alta em 32 anos – 102,5% em doze meses, entre fevereiro de 2022 e fevereiro de 2023.
Na terça-feira, o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec, equivalente ao IBGE) informou que a inflação de fevereiro foi de 6,6% - a maior desde que o atual ministro da Economia, Sergio Massa, tomou posse em agosto do ano passado. A sua previsão era de que a inflação começaria a cair entre março e abril para cerca de 3% ao mês. Porém, após o resultado de fevereiro, já começaram as especulações, entre economistas de diferentes tendências, de que o índice poderia ser igual ou pior ao do mês passado. Melhor esperar o dado, apesar do cenário complicado tanto no âmbito internacional como no nacional, já que a seca histórica, que dura três anos, afetou, bruscamente, agora em 2023, a produção no setor de agronegócios, e consequentemente, a geração de divisas para o Banco Central da República Argentina (BCRA). Na segunda-feira (13), o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou comunicado informando que aliviava as metas exigidas para as reservas do BCRA. Mas também indicou sua antipatia pela ajuda dada pelo governo para amenizar os preços das tarifas dos serviços públicos no país. Com tarifas mais altas, a inflação tende a ganhar novo fôlego. O atual acordo da Argentina com o FMI foi assinado por Fernández, em uma renegociação que buscou suavizar as pressões contra a Argentina após o empréstimo bilionário que tinha sido assinado pelo ex-presidente Mauricio Macri.
Com estes números de inflação, em um ano de eleição presidencial, o panorama político mostra-se desafiante para Fernández e para Massa. As remarcações dos alimentos estão entre os influenciadores no incremento incessante no Índice de Preços ao Consumidor (IPC). Nos bastidores, aliados do presidente e do ministro responsabilizam as fabricantes de alimentos que estariam entregando produtos mais caros para os mercados de bairros que não estão na lista dos supermercados que oferecem as mercadorias com os preços controlados pelo governo. Entre as fabricantes, a justificativa é que a produção encarece porque os insumos sobem. Nesta ciranda, o distanciamento entre Fernández e a ex-presidente e vice-presidente Cristina Kirchner é notório, como observam no próprio governo argentino.
Faltam cerca de sete meses para o primeiro turno da eleição presidencial. Como no Brasil, uma eternidade. Antes, serão realizadas as primárias (Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias) quando os eleitores argentinos elegem os candidatos de cada coalizão ou partido. Falta muito também para agosto. Hoje, por exemplo, reinam várias perguntas: Cristina realmente não será candidata, como já disse, e apesar dos pedidos de seus apoiadores? Alberto Fernández disputará a reeleição? Massa será candidato a que? A oposição fragmentada do Juntos por el Cambio (Juntos pela Mudança) definirá um candidato antes das primárias? Ou partirá dividido para as primárias e para a eleição presidencial? Javier Millei, de extrema direita, se manterá na disputa? São muitas perguntas para um ano que só está começando.
Nesta quarta-feira (15), choveu em vários bairros de Buenos Aires, após quase 15 dias de calor extremo. Os termômetros chegaram a marcar a maior temperatura em mais de 100 anos. Calorão que esquentou ainda mais o consumo energético, a inflação e o debate sobre a corrida à Casa Rosada.
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