No Curralzinho da História

"A hierarquia é uma coisa que os militares prezam muito. Essa sim foi o que podemos chamar de quebra de patente. Os generais obedecendo ao capitão. Já obedeceram a um pintor. Vejam só, a História é danada", escreve o cartunista Miguel Paiva

Eduardo Pazuello e General de Exército Paulo Sérgio com Bolsonaro
Eduardo Pazuello e General de Exército Paulo Sérgio com Bolsonaro (Foto: Reprodução | Miguel Paiva)


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Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia 

Chamar o Bolsonaro de fascista pode até ser um elogio. Verdade. Não se espantem. O fascismo além de todos os erros que cometeu, de toda a ideologia arbitrária, segregacionista e economicamente predadora foi um partido organizado. Havia todo um ritual, patético digamos a verdade, mas era um ritual. Havia uniformes, gestos com os braços e um culto ao Duce que passava longe dos encontros no cercadinho do planalto. Bolsonaro se veste mal, fala mal, não tem preparo nem para ser nem líder fascista. Mussolini enfrentou uma guerra que acabou com o que existia da Itália, levou à morte milhares de pessoas e ele terminou pendurado na Piazzale Loreto , em Milão pelos executado pela Resistência. 

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Com tudo o que criou e sedimentou- até hoje existe um partido de extrema direita na Itália- acabou pendurado, mas não foi esquecido pela História, apesar de estar no capítulo dos tiranos derrotados. Aliás, se formos ver pela História, quase todos os tiranos acabam derrotados.

Chamá-lo também de nazista é ainda mais forte. Perto de Adolph Hitler, Bolsonaro não seria capaz nem de ser convocado para alimentar o pastor alemão que tomava conta do Castelo na Floresta Negra. O oficial destinado a essa função tinha que passar por um período de preparação rigoroso. Afinal, esses animais mereciam o carinho e o respeito do Führer e isso exigia um atendimento padrão Fifa. Bolsonaro lida com emas e jacarés, quis se apossar de um cachorro perdido e acabou tendo que devolver o cão, mas tem muitos animais irracionais no seu governo.

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Devo dizer que isso não seria suficiente para trabalhar no Reich. Hitler formou um verdadeiro império com a ajuda de industriais alemães, juízes e forças armadas para derrotar o capital e a existência dos judeus na Europa. Foi um extermínio que misturou uma decisão econômica e política meio pífias com um sadismo criminoso que fez levantar o apoio de boa parte da Alemanha. Levados pelo medo ou não foi o que aconteceu. Além do espetáculo ser medonho, ele tinha elementos que ajudavam a reunir apoiadores. A motociata do Bozo foi ridícula apesar dele se inspirar em Mussolini que adorava se mover em duas rodas.

Pirotecnia a parte, o governo Bolsonaro é praticamente nada. Dá trabalho, é verdade. O Supremo, o Congresso, a sociedade e agora até a imprensa oficial têm que ficar alertas o tempo todo para impedir que o pior seja feito. Mas é um estilo de governo cafona, primário, desorganizado, elementar, rudimentar e violento. E foi eleito pela doença antipetista inventada e pelo desejo de um neoliberalismo cruel e falido. Prega a morte porque a morte é a única coisa segura que temos. Não precisamos questioná-la. Ela vai acontecer. Isso facilita o raciocínio de quem quase não o usa. A morte tem seu efeito. Ajuda nos números, diminui a divisão, afasta os inimigos. Morrer é um projeto, talvez o que se pareça mais com o italiano e o alemão aqui citados antes. Mas, desculpem-me todos, falta estilo. Estilo cruel, mortal, assassino e doentio. Mas falta. Se isso é bom ou ruim vamos saber daqui pra frente. Começamos bem com o Exército se recusando a punir Pazuello. A hierarquia é uma coisa que os militares prezam muito. Essa sim foi o que podemos chamar de quebra de patente. Os generais obedecendo ao capitão. Já obedeceram a um pintor. Vejam só, a História é danada.

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