No Chile, ministério de Boric terá maioria de mulheres e neta de Allende como ministra
"O perfil do gabinete apresentado coincide com as premissas que Boric prometia adotar: intergeracional, paritário e com diversidade política", diz Miola
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Por Jeferson Miola, em seu blog
O presidente eleito do Chile Gabriel Boric anunciou hoje [21/1] os 24 nomes que integrarão o ministério do seu governo a partir de 11 de março, quando será empossado no cargo.
O ministério terá maioria de mulheres [14, ao todo] e, dentre elas, a neta do legendário presidente Salvador Allende – Maya Alejandra Fernández Allende – como Ministra da Defesa Nacional, ao qual as Forças Armadas estão subordinadas.
Maya é filha de Beatriz Allende com o diplomata cubano Luiz Fernández Oña, que era ministro conselheiro na embaixada de Cuba em Santiago à época do golpe, em 1973. Com a derrubada de Allende, com 2 anos de idade Maya partiu para o exílio em Cuba com a família e viveu sua infância e a adolescência na ilha caribenha. Regressou ao Chile em definitivo em 1990.
A indicação da neta de Allende carrega um importante significado simbólico, mas também traduz a identidade política dela, que exerce o mandato de deputada nacional pelo Partido Socialista, com a Frente Ampla. Ainda no 1º turno eleitoral, Maya Allende discordou da candidatura de Yasna Provoste, da Democracia Cristã, apoiada pelo seu partido, e declarou apoio a Boric.
Os ministérios palacianos do centro do governo – Secretaria Geral de Governo e Secretaria Geral da Presidência – serão ocupados, respectivamente, por lideranças políticas centrais da coalizão eleita: Camila Vallejo, 33 anos, do Partido Comunista, e Giorgio Jackson, 34 anos, do partido Revolução Democrática.
A médica Izkia Siches, de 35 anos, que entre os dois turnos eleitorais renunciou ao prestigioso cargo de presidenta do Colégio de Médicos do Chile para dedicar-se à coordenação da campanha de Boric, será ministra do Interior e da Segurança Pública, função extremamente desafiadora. É a primeira vez que uma mulher ocupa este cargo. Izkia pertence à “quota” de ministros/as independentes, ou seja, não-partidários.
O perfil do gabinete ministerial apresentado hoje [21/1] coincide com as premissas que Boric prometia adotar: intergeracional, paritário em termos de gênero e com diversidade política em torno do programa da Frente Ampla. Mais que paridade de gênero, há uma notável maioria feminina, o que traduz o protagonismo essencial dos movimentos de mulheres e feministas nas rebeliões populares dos últimos anos.
Não foi anunciado nenhum representante dos povos indígenas para o gabinete ministerial. A Convenção Constitucional [Constituinte] tem 17 cadeiras dentre as 155 de constituintes asseguradas para os 10 povos indígenas reconhecidos.
Além do ineditismo da maioria feminina em postos-chave de poder, a composição ministerial também combina juventude com experiência. A ministra mais jovem, do ministério da Mulher e da Equidade de Gênero, Antonia Orellana, da Convergência Social, mesmo partido de Boric, tem 32 anos de idade.
O ministro mais idoso, com 75 anos, é o economista político e senador pelo Partido Socialista Carlos Montes, que ocupará o ministério de Habitação e Urbanismo.
A média de idade das ministras é de 46,6 anos, inferior à média de idade dos ministros, de 52,3 anos. Já a idade média geral dos/as integrantes do ministério de Boric é de 49 anos, com a seguinte distribuição etária:
A diversidade política, que se caracteriza pela representação de forças políticas e sociais vinculadas ao programa da Frente Ampla, está concretizada na presença de 8 ministros/as [1/3 do todal] de independentes, como a ministra Izkia Siches e outros/as; 5 ministros/as da Convergência Social de Gabriel Boric; 3 do Partido Comunista; 2 da Revolução Democrática e 2 do Partido Socialista.
Os partidos Liberal, Radical, para a Democracia e Comunes estarão presentes no gabinete ocupando, cada um deles, um ministério.
Para o ministério da Fazenda Boric indicou o atual presidente do Banco Central, Mario Marcel Cullel, economista chileno próximo ao PS e a setores da centro-esquerda chilena.
O “deus-mercado” “aceitou” bem a indicação, como demonstrou a queda do dólar, porém há expectativas em setores da Frente Ampla sobre a atuação econômica de Marcel mais além da austeridade e do dogmatismo fiscal.
Com a definição do ministério do governo eleito se inicia, desse modo, a etapa mais avançada da transição de governo.
Boric assume a presidência do Chile dentro de poucas semanas, em 11 de março. O governo liderado pelo mais jovem presidente da história do Chile e um dos mais jovens chefes de Estado e de Governo do mundo é acompanhado de enormes expectativas e desafios.
O mundo acompanha com atenção e interesse o destino deste país cujas placas tectônicas da política estão em forte movimento.
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