No baile de máscaras, mais uma caiu
A terceira via ou a nova política era como algodão doce, atrativa mas inconsistente. Sem saída com Marina Silva, a direita agora se reúne em torno de Aécio Neves, dos oportunistas aos menos ou mais obscurantistas
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Marina Silva e sua rede, e a coligação que a apoiou, o PSB e o PSC vão apoiar Aécio Neves porque, simplesmente, seus interesses são os mesmos: a defesa da elite econômica e financeira deste país.
A máscara de Marina Silva, quatro dias depois da do PSB, caiu e com ela veio a certeza- para os que ainda tinham dúvidas: ela e seu programa já demonstravam de que lado estava, o oposto ao dos interesses da classe trabalhadora e de todos daqueles brasileiros que defendem crescimento juntamente com garantia de emprego e distribuição de renda. O de Aécio não é diferente.
Enquanto Marina tinha esperanças de chegar ao segundo turno pregava que a questão programática era ponto fundamental para sua política de alianças, e que estas só ocorreriam se garantissem o cumprimento dos pontos considerados importantes. E agora ?
Ataca-se o PT com o discurso de que a corrupção foi maior nos governos petistas. Mas não se acaba com a corrupção se não acabarmos com os corruptores.
Que promessas terá Marina Silva ouvido de Aécio Neves para decidir oficialmente manifestar a ele o seu apoio? O que terá ouvido de FHC na visita que fez ao ex-presidente na noite de quarta-feira (08) enquanto todo o PSB, reunido em Brasília, decidia pelo apoio oficial ao candidato Aécio Neves?
Só ela poderá dizer aos brasileiros o que ouviu do ex-presidente tucano mas será que alguém tem alguma dúvida de que a prática do fisiologismo se insinuou na conversa de “amigos de infância” e de “companheiros de política” que todos sabem os dois nunca foram ?
Será que Aécio lhe prometeu defender e lutar pela mudança da legislação em torno de uma de suas principais bandeiras, a não reeleição para Presidência da República? Sabemos que não.
Interrogado pela imprensa nos últimos dias ele não foi nada enfático na defesa do tema. Disse apenas o que todos já sabemos, que a questão depende do Congresso Nacional e que se aprovada a matéria só deveria ser válida para 2022, ou seja, não para o período que ele, teoricamente, poderia se reeleger. Aham!
Será que Aécio pediu desculpas a Marina sobre ter qualificado no primeiro turno o programa da candidata de um conjunto de colagens modificadas ao sabor do vento, que mais parece escrito a lápis para que se possa passar uma borracha quando determinado compromisso contraria segmentos que ela acha estratégico para sua campanha? Não precisou. Os interesses maiores dos dois são os mesmos.
Na carta de Marina em apoio a Aécio, distribuida neste domingo, todos os pontos citados por ela, sem execessão, foram tratados como prioritários pelos governo Lula e Dilma, e algum deles, inclusive, propostos durante o governo Dilma, como a reforma política e o fortalecimento dos conselhos populares. Basta checar a lista para ver que nenhum deles é uma proposta inovadora nem muito menos originada no PSDB, PSB ou Rede.
Marina Silva continua com seu discurso de sempre, falando para iniciados na sua religião predileta “a nova política”. Dou um prêmio a quem decifrar uma das pérolas por ela usada na carta, ao já prever que seria criticada – e quem sabe inconscientemente estar arrependida de trair suas origens seringueiras .
Ela disse : prefiro ser criticada por aquilo que acredito ser melhor para o Brasil, do que me tornar prisioneira do labirinto de defesa do meu interesse próprio, onde todos os caminhos e portas que percorresse e passasse, só me levariam ao abismo de meus interesses pessoais. Alguém entendeu?
Pontos importantes para os destinos do país citados por ela e Aécio não foram explicitados. Os dois falam da diminuição do número de ministérios, mas ninguém explica quais seriam cortados.
Vamos combinar que basta pensar um pouquinho para concluirmos com alta possibilidade de acerto: aqueles criados durante os governos petistas para implementar políticas públicas de igualdade racial, de gênero, de defesa dos movimentos e segmentos LGBT. E por ai vai.
Mais difícil fica ainda entender a decisão de Marina quando se coloca a principal questão de sua trajetória política, a defesa do meio ambiente e a sustentabilidade (que deu nome ao partido que criou (Rede Sustentabilidade).
A maioria dos deputados do PSDB votaram contra os avanços do Código Florestal, enquanto que no governo Dilma dados do MMA informam que enquanto no governo FHC o desmatamento atingiu uma média de 18 mil km ano, no governo Lula este número foi de 15 mil km ano, decaindo até que no governo Dilma ficou em 5.200 km ano. E Marina Silva não conhece estas cifras? Aham!
As notas lançadas sequencialmente em blogs e colunas sobre a resistência de membros da rede e do PSB em apoiar abertamente um candidato, aventando-se que as agremiacões optariam pela neutralidade nos levam a uma conclusão: ou estavam mal informados ou tudo não passava de uma farsa para ganharem tempo de osquestrarem todos, um após outro, o apoio a Aécio. Como a imprensa comercial brasileira opta sempre pelas elites, é mais sensato acreditar na segunda opção.
Na tentativa de vender a impressão de que ocorria uma onda sem volta de apoio a Aécio Neves, dentro de um período de 24 horas, políticos independentes e partidos declararam seu apoio. Senão vejamos: os ambientalistas da Rede, Eduardo Jorge do PV, os socialistas históricos e os menos históricos do PSB, o ultrareacionário Levi Fidelix ( o homofóbico que disse em cadeia nacional que gays devem ser segregados e tratados à distância ) os fundamentalistas Malafaia e o Pastor Everaldo, candidato à presidência pelo PSC.
Além disso, aconteceu dentro das mesmas 24 horas, o apoio da direita mais radical deste país, como o do deputado federal carioca Bolsonaro e de militares da reserva, os mesmos que criticam a Comissão da Verdade, instalada pelo governo Dilma em cumprimento de sentença da Corte Internacional da OEA, para esclarecer os crimes de tortura, assassinatos e ocultamento de cadáveres ocorridos durante os anos de ditatura militar no país- não passíveis de anistia por serem considerados crimes contra a humanidade.
Em resumo, o apoio recebido por Aécio Neves dos setores mais obscurantistas no país, deixa claro que sua eleição, caso ocorra, representará um retrocesso para a história política brasileira e se traduzirá obviamente em menos direitos civis; menos políticas sociais e de inclusão; mais criminalização dos movimentos sociais e repressão à dissidência política; e principalmente pelas prática de uma política econômica ultraliberal (menos crédito, menos emprego, menores índices de aumento para o salário mínimo, mais apoio ao agronegócio e menos à agricultuta familiar).
Isso é bom? Não, isso é péssimo. O eleitor de 26 de outubro tem tempo para refletir e tomar uma decisão conciente a respeito. É o futuro do país nas nossas mãos.
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