No 1º aniversário da guerra na Ucrânia, EUA e aliados prometem guerra permanente contra a Rússia

Iniciada em 24 de fevereiro do ano passado, a guerra russo-ucraniana permanece no centro das tensões mundiais

Joe Biden, se encontra com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky
Joe Biden, se encontra com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (Foto: Divulgação)


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Por José Reinaldo Carvalho - A guerra na Ucrânia completa um ano nesta sexta-feira (24). Um fato que alterou profundamente a situação internacional, provocando abalos geopolíticos de consequências duradouras e imprevisíveis.

A resolução aprovada nesta quinta-feira pela Assembleia Especial da ONU foi um documento redigido pelas potências imperialistas visou ao fim precípuo de isolar a Rússia, apoiar a Ucrânia, legitimar todas as ações militaristas e as sanções econômicas patrocinadas pelos EUA e a União Europeia. 

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É um documento unilateral, que irá constranger historicamente os países que sob pressão votaram a favor. O compromisso com negociações e a construção de um caminho que conduza à paz, a partir de uma emenda brasileira ao documento belicista contrário ao espírito da ONU de promover a segurança coletiva, econômicas, foi vazado em letra morta e é por todos os ângulos que se leia, uma proposição inócua, porquanto tem como ponto de partida a tentativa de impor condicionalidades à Rússia, através do veredito de que esta tem de se retirar imediatamente dos territórios do Donbass e da Crimeia, que, por força do golpe fascista na Ucrânia em 2014, sob patrocínio dos EUA e da União Europeia, do massacre das populações de etnia e língua russa da região e das circunstâncias criadas pela própria Operação Militar Especial, passaram a ser território russo. 

As posições explicitadas antes e depois da votação na ONU são inequívocas. O imperialismo estadunidense, superpotência que pretende impor a sua hegemonia mesmo que à custa de uma tragédia humanitária, fez um discurso triunfalista e unilateral. A representante dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse em bom inglês: "Mostramos onde estamos – com a Ucrânia". E enfatizou a declaração do presidente dos EUA, Joe Biden, quando esteve em Kiev esta semana: “Estamos juntos. Estamos com a Ucrânia pelo tempo que for necessário”. O mundo inteiro viu, tanto na Ucrânia como na Polônia que o chefe da Casa Branca fez discursos que consistem numa declaração de guerra permanente à Rússia. 

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Por seu turno, o presidente ucraniano não conteve seu triunfalismo, confiante que está no indeclinável apoio das potências ocidentais: Em uma mensagem de vídeo, ele disse: "Somos fortes. Estamos prontos para tudo. Vamos derrotar todos". Decerto, o ocupante da presidência ucraniana sente-se seguro depois das confabulações que fez com Joe Biden, a quem não passa um dia sem devotar fidelidade, agradecer e prestar serviços. 

Coube a Olaf Scholz a declaração mais explícita do desapego das potências ocidentais com o caminho conducente à paz. Segundo ele, não é chegada a hora de negociações. O pressuposto para isso, segundo o social-democrata tedesco, é a capitulação da Rússia.

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O Brasil e outros países governados por forças de centro-esquerda latino-americanas, como Argentina, Chile, México e Colômbia, votaram a favor da resolução, numa demonstração de quão ainda são poderosas as pressões estadunidenses sobre a região e frágeis as convicções quando o mundo se vê desafiado pelas posições do imperialismo norte-americano.

Podemos testemunhar como o presidente Lula está empenhado em contribuir para que sejam feitas negociações para o cessar-fogo ou à paz. Sua posição de constituir um grupo de países dispostos a prestar seus bons ofícios a essa causa é apreciada por muitos países. Por isso, a posição mais adequada na última votação na ONU seria a abstenção. 

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A própria Rússia valorizou a posição brasileira, antes da votação na ONU. Há bons motivos, mormente a parceria estratégica com a Rússia e o compartilhamento coletivo de posições no âmbito do Brics, para acreditar que o erro cometido por nossa diplomacia ao votar a favor da Ucrânia, não danificará as relações com a Rússia. 

Em numerosas ocasiões ao longo deste período desde o início da Operação Militar Especial na Ucrânia, temos enfatizado que não se trata de uma guerra entre Moscou e Kiev. O cenário é bem mais amplo. Embora não estejamos em presença de uma conflagração militar generalizada com guerra direta entre as potências mundiais, o conflito no Leste Europeu mexe com todas as relações geopolíticas e já se tornou uma guerra mundial. 

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Para a Rússia, suas tomadas de posição não atendem a considerações morais sobre antinomias entre o bem e o mal ou filosóficas se a humanidade quer a guerra ou a paz eterna, porque tais considerações em situações como a atual são acompanhadas por platitudes da esquerda cirandeira, liberal e social-democrata que no fundo faz objetivamente o jogo das potências imperialistas. A Rússia decidiu agir militarmente na Ucrânia por uma questão de sobrevivência nacional. As declarações altissonantes sobre respeito ao direito internacional por parte de quem o viola sistematicamente não levam em consideração um princípio essencial na convivência entre as nações soberanas, o de que a segurança de uns não pode ser garantida às custas da insegurança de outros. 

É fato que a expansão contínua da Otan, esse terrível instrumento de guerra do imperialismo estadunidense e da União Europeia, para as proximidades das fronteiras da Rússia, constitui uma ameaça existencial ao país euro-asiático. 

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Sistematicamente, as potências imperialistas ocidentais menoscabaram as preocupações e advertências da Rússia nesse sentido. As maiores advertências foram feitas já em 2007 pelo próprio presidente russo, Vladimir Putin, na Conferência de Munique da própria Otan. Os países imperialistas não só continuaram a militarizar o conjunto do Leste Europeu como a fomentar e instrumentalizar as chamadas revoluções coloridas no entorno da Rússia, em países ex-soviéticos. Na Ucrânia, por duas vezes, a "revolução laranja” (2004-2005) e a "Euromaidan" (2014). 

Não foram poucas as vezes que a Rússia alertou que todas essas movimentações das potências imperialistas representavam uma ameaça direta à sua segurança nacional. 

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Tudo isso mostra também que não estamos em presença de uma guerra russo-ucraniana, mas de uma guerra dos países imperialistas liderados pelos Estados Unidos, contra a Rússia. 

No fundo, o que está em disputa é a reconfiguração da "ordem mundial", do "sistema internacional", processo que se acelera e vai ganhando contornos mais nítidos. À medida que a ordem mundial se altera, a hegemonia do Ocidente, liderado pelo imperialismo estadunidense, se enfraquece. Isto significa que o resultado da votação na ONU em 23 de fevereiro constituiu para os imperialistas uma vitória de Pirro. 

Em nada o falso triunfo diplomático dos EUA e aliados abala as posições da Rússia, como não altera a predisposição de inúmeros países emergentes para se envolver em um verdadeiro processo de paz, como o indicado no documento de 12 pontos lançado pela China no primeiro aniversário da guerra na Ucrânia.   

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