Ninguém segura golpe em marcha com discurso
"O PT teve votos nas ruas em 2014, mas não teve na Câmara em 2016. Ponto. Reclamar do juiz não adianta mais. A essa altura ninguém mais convence ninguém com argumentos", diz o colunista do 247 Alex Solnik; segundo ele, não adianta querer “salvar a nação” de Michel Temer ou de Eduardo Cunha; "Se o impeachment passar no Senado, eles têm que assumir. Nem que seja para mostrar que são incompetentes e incapazes de tirar o país da recessão e da instabilidade política. É melhor que eles passem por esse vexame do que algum presidente que for eleito graças a essa emenda totalmente sem sentido que a Marina e alguns senadores querem vender como a solução mágica, numa espécie de ação de telemarketing", afirma

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Quem ganha, governa; quem perde, vai para a oposição.
Ninguém segura um golpe em marcha com discurso.
Tudo bem, aconteceu uma vez. Brizola segurou o golpe contra a posse do Jango na vice-presidência depois que Jânio renunciou, em 1961 falando sem parar pelas ondas da rádi0 Guaíba.
Mas naquele tempo não havia Rede Globo. E hoje não há Brizola.
Três anos depois não deu para segurar mais, entretanto. Nem para ele, nem para o presidente Jango que abandonou, em silêncio, a capital da República para tentar resistir ao golpe em Porto Alegre, onde verificou que Inês era morta.
Getúlio, que era o todo poderoso Getúlio, o maior líder político do Brasil de todos os tempos, depois de calejado em 15 anos no poder – poder absoluto – só evitou o golpe em 1954 dando um tiro no peito.
Não é fácil, portanto, senão impossível a presidente Dilma resistir ao golpe com discursos ou com denúncias de que seus adversários são conspiradores. Ela tem toda a razão, diga-se, mas não vejo como ela vai evitar o golpe dessa maneira.
Será que com seus discursos Temer e Cunha vão colocar a mão na consciência e mudar de ideia? “Puxa, ela tem razão, nós somos canalhas, traidores e vamos ocupar o poder de forma ilegítima; vamos desistir dessa aventura”! Somente num stand-up do “Seinfeld” isso seria possível.
Também não vejo algum sentido nessa proposta “salvadora” que a líder evangélico-bissexta Marina Silva resolveu espalhar aos quatro ventos e que foi adotada por alguns senadores de cujo alto QI não se pode duvidar.
Mas como levar a sério uma proposta de eleições para presidente em outubro desse ano que precisa ser aprovada no Senado e na Câmara, sendo que estamos praticamente em maio e a votação do impeachment no Senado está marcada para daqui a duas semanas?
Entra na cabeça de alguém que Eduardo Cunha, que costuma receber o espírito do Tranca-Pauta dia sim, outro também, vai colocar em votação uma proposta que vai impedir que ele assuma o poder em sociedade com o Temer e assim se livrar da Lava Jato, ganhar dois anos de mandato e depois partir para um doce exílio na Suíça?
De novo, só se Seinfeld interpretasse o pensamento do Cunha: “Ah, sim os senadores têm razão: vamos votar essa proposta de eleições em outubro, pois se eu e o Temer assumirmos vamos passar vergonha no Brasil e no mundo e vamos piorar ainda mais o nosso país e vamos deixar que outros ganhem, pois numa eleição direta a gente não ganha mesmo, as pessoas não gostam da gente tanto assim”.
Se não bastasse isso, haveria tempo hábil para escolher candidatos, fazer convenções e campanha a essa altura sem que isso parecesse casuísmo?
Ora, ora, ora. Já sabíamos que a oposição a Dilma é formada por pernas de pau, cabeças de bagre, oportunistas, hipócritas, despreparados, ridículos, corruptos, canalhas, traidores do povo etc, mas era de se esperar que o lado de cá não baixasse o nível ao patamar deles.
O fato é o seguinte: impeachment, golpe ou conspiração, seja o nome que for, os vilões ganharam no voto. “Ah, mas eles marcaram gol de mão, cometeram pênalti que o juíz não marcou, fizeram cêra, foram truculentos, não mereceram ganhar”. Tudo isso é verdade. Mas fizeram os gols. Alguém já viu um jogo de futebol ser anulado depois de proclamado o resultado? Nem aqui nem na China.
O PT teve votos nas ruas em 2014, mas não teve na Câmara em 2016. Ponto. Reclamar do juiz não adianta mais.
O governo terá votos no Senado? Tudo indica que não, pois apesar de os senadores não serem tão inconsequentes quanto os deputados – duvido que vão aparecer cobertos com bandeiras de alguma cor, ou mostrar cartazes para as câmeras ou dedicar seus votos a Deus – os partidos são os mesmos da Câmara, os mesmos que um dia estiveram no governo e o trairam na Câmara. Se o trairam na Câmara, é mais coerente acreditar que vão trair também no Senado. Afinal, como todos sabem, “trair e coçar é só começar”.
Nos próximos dias vamos ouvir aquelas velhas bravatas: “No Senado, não”! “A luta apenas começou”! “Daqui pra frente tudo vai ser diferente”!
Palavras, palavras. Ou alguém pretende colocar o Exército na rua? Ou pegar em armas? Certeza que não.
A essa altura ninguém mais convence ninguém com argumentos. “Ah, mas a presidente é honrada e não cometeu crime de responsabilidade”. Claro que não cometeu. Mas, se o outro lado, que tem mais votos, diz que cometeu, fica a palavra de um lado contra outro. Eles são políticos. E políticos nunca vão fazer um julgamento jurídico, pois não são juristas. Por mais que a constituição garanta que o impeachment é um troço jurídico-político.
Juristas têm por objetivo fazer justiça. Políticos, no entanto, têm por objetivo chegar ao poder.
Mas... e o STF não vai fazer nada? Não vai, não. O STF está lá para fazer cumprir a constituição. E a própria constituição diz que “crime de responsabilidade” justifica impeachment, sem definir muito bem o que é crime de responsabilidade. Se a própria constituição não define, isso quer dizer que cada um interpreta como quiser. E ninguém estará descumprindo a constituição qualquer que seja a sua interpretação.
Ademais, cá entre nós: todo golpe, como vimos em 1937 e depois em 1964 tem o seu conjunto de leis para justificar qualquer coisa; e, se tem lei, “é legal”.
Não adianta querer “salvar a nação” do Temer ou do Cunha. Eles são de um partido que nunca chegou à presidência no voto. Se não aproveitarem a oportunidade agora, a próxima talvez só no próximo século.
Não digo que é para jogar a toalha agora, isso não. Vamos à votação no Senado. Jogo é jogo. Mas, se o resultado for o mesmo da Câmara, Temer e Cunha devem assumir. Por seis escassos meses que seja. Se forem tão inábeis a ponto de pensar que o governo poderá durar dois anos e não apenas seis meses – quem garante que a presidente não volta? – problema deles. Serão enxovalhados e apredrejados da mesma forma que fazem hoje com a presidente Dilma.
O que o PT poderá fazer será atrapalhar esse governo mequetrefe do mesmo modo que Cunha atrapalhou o de Dilma. Não deixá-lo governar. Se esse “governo” vier com medidas impopulares, será paralisado por greves etc etc. Mas, se o impeachment passar no Senado, eles têm que assumir. Nem que seja para mostrar que são incompetentes e incapazes de tirar o país da recessão e da instabilidade política. É melhor que eles passem por esse vexame do que algum presidente que for eleito graças a essa emenda totalmente sem sentido que a Marina e alguns senadores querem vender como a solução mágica, numa espécie de ação de telemarketing.
Depois, se Cunha e Temer não cairem fora depois de seis meses, vão cair depois de dois anos. E não vão se reeleger, nem que a vaca tussa. E irão definitivamente para onde já deveriam estar: a lata de lixo da história.
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