Ninguém segura Cunha
Os oposicionistas oportunistas, à frente os tucanos, se conscientizaram de que não valia a pena o desgaste que sofreriam se permanecessem ao lado de Eduardo Cunha, sobretudo no limiar de um ano eleitoral como 2016, de importância vital para a sucessão em 2018
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O plano maquiavélico concebido pela mente enferma do deputado Eduardo Cunha para criar a falsa ideia de apoio popular ao projeto de impeachment, materializado no acampamento montado em frente do Congresso Nacional, não contava com o imprevisto gerado pela intolerância e pelo ódio: ao tentar tumultuar a marcha das mulheres negras, usando bombas caseiras e até disparos de armas de fogo, o pessoal acampado acabou expondo a participação do presidente da Câmara na sua "manifestação". Como é proibido acampar naquele local, Cunha concedeu uma "licença especial" para que os "manifestantes" montassem suas barracas. Para o observador desavisado o acampamento seria uma "manifestação popular" espontânea em favor da queda da presidenta Dilma Rousseff.
Na verdade, tudo teria sido organizado pelos promotores do pedido de impeachment, encenando um respaldo popular para o golpe, mas não parece difícil descobrir os patrões dos "manifestantes", bastando para isso encontrar respostas para algumas perguntinhas: Quem pagou esse pessoal para ficar acampado ali todo esse tempo sem fazer nada? Quem forneceu alimentação para eles? Quem comprou as barracas? O que um policial militar reformado do Maranhão fazia lá armado? Um dos acampados, depois da decisão tomada pelo Congresso e pelo governador do Distrito Federal para que o acampamento seja desmontado, desafiou a ordem, afirmando que eles estão bem armados e não deixarão o local. E agora? A Policia Federal vai ficar olhando de longe, apesar da gravidade da declaração?
Se o ministro da Justiça não fosse tão fraco os acontecimentos na Praça dos Três Poderes, noticiados pela TV Globo como um "confronto de manifestantes", não teria acontecido, pois há muito ele já teria determinado à Policia Federal para investigar o acampamento. Cabe à PF investigar não apenas os assaltos aos cofres públicos mas, também, as conspirações, pois ambos são danosos ao país. Ao contrário do que disse o ministro Marco Aurélio Mello existe governo, sim, mas, ao que parece, a autoridade não está sendo exercida como devia. A democracia, que assegura as liberdades, deve ser bem administrada para evitar que se transforme em anarquia e permita a impunidade, por exemplo, de quem publicamente ameaça a Presidenta de morte. Já imaginaram se alguém faz semelhante ameaça nos Estados Unidos, país considerado modelo de democracia?
Na verdade, é preciso dar um basta às atitudes ditatoriais do deputado Eduardo Cunha que, à frente da Câmara, acha que pode tudo, inclusive atropelar a proibição para acampar na Praça dos Três Poderes. Parece estranho que esse parlamentar, que até agora só tem feito mal ao Brasil – a exemplo dos que o apoiam – ainda permaneça na presidência da Câmara Federal mesmo acusado de receber propina da Petrobrás e de possuir milhões de dólares em bancos suíços, uma fortuna não declarada acumulada com dinheiro suspeito. Por menos disso (apenas míseros trocados), o deputado Severino Cavalcante foi defenestrado do cargo em tempo recorde. O mais surpreendente é que, apesar dessa dinheirama de origem suspeita, Cunha tem sido mantido no comando da Casa pelos mesmos deputados que estão empenhados em tirar Dilma do Planalto sem que exista contra ela qualquer indicio de crime
Depois daquela faixa exposta na Câmara dizendo que "somos todos Cunha" os parlamentares sérios que ainda existem naquela Casa deveriam agir com mais determinação e rigor para higienizá-la, limpando os "Cunhas" que infestam o legislativo, a começar pelo deputado Paulinho da Força, que afirmou estar com ele "para o que der e vier". Depois dessa declaração de amor ao presidente da Casa, a esta altura Paulinho já deveria estar se preparando para acompanha-lo quando deixar o Parlamento, confirmando sua fidelidade. Afinal ele sabe que, apesar de todas as manobras destinadas a procrastinar a decisão do Conselho de Ética, Cunha será mesmo cassado, mais cedo ou mais tarde, pois não mais existe nenhuma possibilidade dele permanecer no cargo.
Além do agravamento diário da sua situação, com o surgimento de novas provas, a sua manutenção no cargo ficou insustentável após a realização de pesquisas sobre a posição da população, que já pede a sua saída da Câmara. A consequência imediata da manifestação popular foi a debandada dos oposicionistas que estavam empenhados em mantê-lo no cargo, convencidos de que ele era a única solução para assegurar o impeachment de Dilma. Os oposicionistas oportunistas, à frente os tucanos, se conscientizaram, porém, de que não valia a pena o desgaste que sofreriam se permanecessem ao lado dele, sobretudo no limiar de um ano eleitoral como 2016, de importância vital para a sucessão em 2018.
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