Ninguém dá golpe de estado por WhatsApp

"Ditadura não se implanta por WhatsApp. Dar um golpe de estado não é decisão de uma pessoa, por mais poder que tenha, e só se sagra vitorioso mediante determinadas condições", escreve Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia

(Foto: Carolina Antunes/PR)


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Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia

A situação, em 1937, era caótica no Brasil. Nas ruas da capital da República ocorriam confrontos sanguinários entre comunistas e integralistas. A população tinha pavor dos vermelhos. (E não dos fascistas tropicais.) Editoriais da imprensa reforçavam o temor. Acreditava-se que comiam criancinhas, dentre outras lendas.  Dois anos antes o governo sufocara uma Intentona Comunista. Não era preciso muito esforço, portanto, para fazer essa ameaça parecer real.

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A gota d’água foi a “descoberta” de que estava sendo tramada uma invasão soviética, formulada num documento denominado Plano Cohen, uma coleção de sandices na qual os brasileiros acreditaram.

A imprensa, a população, os deputados e o exército foram unânimes: Getúlio Vargas precisava de mais poderes para enfrentar esse cataclisma. Entregaram-lhe o que pediu. E ele implantou a primeira ditadura brasileira. Eliminando, para começo de conversa, os políticos.

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Em 1964, a ameaça comunista foi de novo o pretexto do golpe. Cinco anos antes Fidel Castro tomara o poder em Cuba. A imprensa, os políticos e a população, insuflada pela Marcha da Família com Deus pela Liberdade constataram, num surto de delírio coletivo, que o presidente João Goulart era o Fidel brasileiro. Pediram que as Forças Armadas o derrubassem. O resto da história é conhecido.

Estou dizendo isso para lembrar que ditadura não se implanta por WhatsApp. Dar um golpe de estado não é decisão de uma pessoa, por mais poder que tenha, e só se sagra vitorioso mediante determinadas condições.

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A primeira delas: é preciso um pretexto forte. Ameaça comunista não cola mais porque a União Soviética acabou há 29 anos e nenhum dos países que podem ser chamados de comunistas – China, Cuba, Coreia do Norte - demonstra intenção de invadir países capitalistas ou estimular qualquer revolução vermelha.

A outra condição para um golpe de estado ser bem-sucedido é o golpista ter apoio da maioria da população, da imprensa, dos políticos e das Forças Armadas.

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Bolsonaro não tem um bom pretexto nem apoio da imprensa, dos políticos e da maioria da população. Das Forças Armadas poderia até ter – já que o presidente da República é, formalmente, seu comandante-em-chefe – mas isso não basta.

Ao ameaçar as instituições democráticas de forma sistemática e inédita na história da nossa República ele tenta se defender de uma suposta ameaça de perder o mandato através do impeachment, como quem diz: “não mexam comigo, cuidado, sou perigoso”. E é mesmo.

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O lendário Beto Carrero ensinava como enfrentar um animal selvagem: ele tem de ser contido, sem que se sinta acuado.

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