Ninguém cancela Elza Soares!
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Depois do golpe que jogou o país no buraco em que estamos, nada mais surpreende. Assim, todo santo dia a sociedade brasileira é tomada de espantos, que incutiriam terror no próprio Stephen King. “O horror! O horror!”, que atormenta o ensandecido Kurtz na hora da morte, na narrativa Coração das trevas (1899), de Joseph Conrad, parece reverberar nas cabeças daqueles brasileiros e brasileiras que ainda não perderam nem a noção nem a decência, embora o atual governo se empenhe bastante para que isso aconteça.No dia 03/12, por exemplo, o presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Pedro Duarte Guimarães, disse em entrevista ter ficado horrorizado ao descobrir que, Brasil afora, existem pessoas vivendo em lixões. Disse ele: “quando nós viajamos pelo Brasil, há três semanas atrás, nós visitamos alguns lixões e o que a gente viu é algo que eu nunca tinha pensado que existisse: pessoas morando nos lixões e vivendo no chorume”. A declaração do senhor Duarte Guimarães nos leva a elencar, pelo menos, duas observações. A primeira, é que a fala de Duarte Guimarães vai de encontro a máxima repetida ad infinitum pelos membros do governo, que em situações assim, costumam dizer: “se estão lá é porque não se esforçaram por uma vida melhor”. Logo, ou o senhor Duarte Guimarães não corrobora a tal máxima ou não houve tempo de combinar o discurso.
A afirmação feita pelo senhor Duarte Guimarães nos permite a segunda observação, que tem a ver diretamente com o cargo que o referido senhor ocupa. Numa pergunta: ter amplo conhecimento da realidade social do país não deveria ser uma exigência natural para quem assume a presidência de um importante banco público, como a Caixa Econômica Federal? Em tempos normais, sim, mas em tempos de horror, fratura e desconstrução, o buraco abissal de espantos é mais embaixo. Por outro lado, a declaração do presidente da CEF vem reforçar seu lugar privilegiado de fala, classe social e etnia, pois, como membro da elite política e financeira do país, Duarte Guimarães sabe muito bem o que existe para além das salas acarpetadas de Brasília, bem como das benesses advindas da sua classe, sua cor.
Para além da janela do presidente da CEF, há um Brasil que se impõe há anos por melhores condições de vida, numa luta contra a escravização que nunca terminou por estas bandas, graças aos donos do poder. Assim, para declarações futuras, sugere-se ao nobre senhor uma leitura introdutória ao pensamento de Celso Furtado, Abdias Nascimento, Caio Prado Júnior e Jessé de Souza, por exemplo, para que não seja novamente traído pelo próprio discurso, ao se mostrar “horrorizado” com a nossa imensa massa de invisibilizados dos lixões, viadutos, barracos, favelas e quartos de despejo em geral, condenados a viver no chorume.
Ainda sobre o quesito “espantos e horrores”, o povo brasileiro soube pela imprensa, do “cancelamento” de 27 nomes de personalidades da cultura negra, indispensáveis para a compreensão sócio-histórica e cultural do Brasil em todos os tempos. O feito é resultado de mais uma das presepadas da pessoa que ocupa, por puro puxa-saquismo, a presidência de uma importante fundação nacional. A pessoa em questão, vazia no seu existir, faz de tudo para aparecer na mídia. Para tanto, costuma atacar personalidades negras, referências na cultura brasileira, tentando usá-las como escada. Contudo, para aparecer, como diz um amigo, natural do distrito de Custódio, lá no interior do sertão central cearense, melhor seria se a tal pessoa pendurasse um melão-pepina no pescoço e saísse, nua, pelas ruas da Asa Sul de Brasília. Talvez até funcionasse. Ou não.
Cá entre nós, será que a grotesca figura acha realmente que tem o poder de “cancelar” Elza Soares, Benedita da Silva e Sueli Carneiro, por exemplo? Sabe de nada, inocente! Não se pode cancelar uma obra, uma história, uma vida. Não há poder terreno capaz de cancelar 27 lendas. Ao serem instados a se posicionarem a respeito do ocorrido, alguns nomes optaram por ignorar. Madame Satã resolveria isso na navalha, sabemos. Mas, não! Isso é o que eles fariam. Segura a onda aí, Satã, pois o máximo que a criatura merece é um chá. Um chá de moringa com um pouco de valeriana. Aquele mesmo chá que o embaixador venezuelano, Jorge Arreaza, indicou ao ministro brasileiro das aberrações exteriores, como diz Eric Nepomuceno, na reunião extraordinária de ministros de Estado Ibero-Americanos, ocorrida na última segunda-feira, dia 30 de novembro. O chá, disse o chanceler, é capaz de abrir espaço até para a tolerância ideológica. Pense num chazinho bom!
Diante dos absurdos que se vê, não há como não lembrar Paulo Freire, que afirma: “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”. Assim, em tempos de espantos e horrores, retomamos Arreaza quando diz: “no final, esses anos serão apenas uma má lembrança e nada mais”. Que assim seja! Que Arreaza fale pela boca dos orixás!
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247