Nikolas Ferreira legisla em nome da ideologia do “Mito” das Arábias

'Em que pese a intenção do deputado em criar cortina de fumaça, há uma crescente dos discursos criminosos', avalia o colunista Florestan Fernandes Jr.

Deputado bolsonarista Nikolas Ferreira
Deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)


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Nesta semana fomos surpreendidos, em plena comemoração do Dia Internacional da Mulher, com a fala machista e transfóbica do deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL). É apenas uma das edições dos incontáveis ataques desferidos por parlamentares de extrema direita, neonazistas, fascistas, terroristas, racistas, homofóbicos, seja lá qual for a definição, realizados nas últimas décadas.

O nada nobre deputado Nikolas, com o mesmo senso oportunista de seu mentor - curiosamente no epicentro do escândalo dos “diamantes das Arábias” envolvendo o casal Bolsonaro - usou a tribuna da Câmara dos Deputados para reproduzir a fala do seu “mito”, que em 2014 proferiu ofensas machistas e misóginas contra a deputada Maria do Rosário (PT).

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Em que pese a clara intenção do Deputado blogueiro em formar cortina de fumaça sobre o escândalo dos diamantes, é indispensável apontar a crescente desses discursos violentos e criminosos, todos protagonizados por bolsonaristas.

No mês passado, outro parlamentar bolsonarista, o vereador de Caxias do Sul, Sandro Fantinel (Patriota) subiu na tribuna daquela casa legislativa para destilar o seu preconceito contra trabalhadores baianos que viviam em condições análogas à escravidão na cidade vizinha de Bento Gonçalves. No plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado Fernando Cury assediou, diante das câmeras, a deputada Isa Pena (PSOL).

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Ano passado, em mais uma de suas “pílulas de sabedoria”, o deputado Kim Kataguiri (DEM) afirmou que a Alemanha errou ao criminalizar o nazismo em 1945. Para Kim Kataguiri, a melhor forma de impedir que um discurso de ódio cresça e se espalhe, é deixando que a sociedade, por si, o rejeite.

O fato é que esses parlamentares não se constrangem em proferir discursos de ódio e preconceito. Ao contrário, se sentem validados. Mais do que isto, se sabem estimulados por youtubers, animadores de televisão, jornalistas de rádio, empresários e até religiosos, que fomentam esse culto à lacração – responsável pela eleição de expoentes como Nikolas Ferreira.

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Mal comparando, o que temos hoje é um vírus ideológico, que contaminou boa parte da nossa sociedade e se alastra à velocidade das redes, de uma forma audaz e barulhenta, capturando mentes e deteriorando laços afetivos.

Estarrecido, ouvi em 2018, de um parente próximo, o seguinte comentário: “Pode-se falar o que quiser de Adolf Hitler, mas temos que admitir que ele foi um gênio da política. Um dos maiores líderes da história mundial”.

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Quantos de nós nos assombramos cotidianamente com a repetição dessas falas que demonstram, no mínimo, profundo desconhecimento histórico e indigência cultural? E o que fizemos para reverter a situação que levou milhões de cidadãos a serem abduzidos pela máquina de mentiras e discursos de ódio nas redes sociais e fora delas? Como permitimos que esses camisas amarelas levassem o país a uma situação de ruptura da nossa democracia?

Na quarta-feira passada, aceitei o convite do amigo Fernando Augusto Fernandes para presidir o Instituto de Defesa da Democracia 8 de Janeiro – IDD8, que dentre outros objetivos, visa o combate ao discurso de ódio e à desinformação, usadas à exaustão pela extrema direita brasileira.

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É necessário que a sociedade civil se engaje na cruzada contra a ignorância e a manipulação, que nos levaram, como nação, ao abismo histórico. Que contaminaram quase metade do país com o terraplanismo cultural, político, sanitário e jurídico, negando a ciência e a cultura, causando a morte de centenas de milhares de brasileiros durante a pandemia de COVID-19, além dos incontáveis episódios de violência. Período este coroado com ações terroristas como nunca antes vistas nestes trópicos.

Democracia se constrói todo dia, não é algo acabado. Pressupõe educação para a civilidade. Os valores democráticos se consolidam quando se ensina e se aprende, quando se investe no crescimento cultural, no conhecimento humano, histórico e científico.

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Para os Nikolas Ferreira da vida, a vacina é o Estado Democrático de Direito consolidado e fortalecido. Democracia, sempre!

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