Neoliberalismo populista?

"Bolsonaro descobriu que a aplicação rígida da política ultra neoliberal de Paulo Guedes é uma via de derrota segura nas eleições", segundo o jornalista Emir Sader

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes
Jair Bolsonaro e Paulo Guedes (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)


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A tendência a perda de apoio do Bolsonaro foi brecada com a concessão do auxílio de emergência de 600 reais. A concessão foi feita contra a vontade do ministro da economia, Paulo Guedes, mas que tolerou uma vez, por alguns meses. 

A reafirmação do teto de gastos, pedida sistematicamente pelo grande empresariado e pela mídia, obrigou Bolsonaro a uma moderação. Chegou a afirmar que estenderia os 600 reais até o fim do ano, mas cedeu às pressões e, no máximo, não aceitou a redução para 250 reais, proposta pelo Paulo Guedes. Depois de discurso demagógico, de que não tiraria dinheiro dos pobres para dar para os paupérrimos, fixou em 300 a continuidade do auxílio e jogou o Renda Brasil pra mais adiante.

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Bolsonaro descobriu que a aplicação rígida da política ultra neoliberal de Paulo Guedes é uma via de derrota segura nas eleições. Quando passou a especular com a extensão dos 600 reais como auxílio emergencial, sofreu os duros ataques da mídia de que se trataria de medida populista da parte do presidente.

A direita usa o termo “populista” para se referir a governos que privilegiam os direitos sociais da população em detrimento do ajuste fiscal. Mas os governos do PT, sem ter teto de gastos, promoveram o desenvolvimento econômico, com distribuição de renda e aumento do salário mínimo 70% acima da inflação, sem desequilibrar as contas públicas, nem gerar inflação. 

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O que demonstra que fazer um governo que garante os direitos básicos das pessoas nao precisa de um teto de gastos. Que não se trata de populismo, mas de justiça social. 

A demagogia do governo atual não se sustenta, porque as concessões dos auxílios se chocam com o ajuste fiscal do modelo neoliberal. Bolsonaro teve no passado posições aventureiras,  mas hoje ele sabe que precisa do apoio do grande empresariado e da mídia econômica. Daí o retrocesso da posição do governo e, certamente, da recuperação do apoio que havia conseguido.

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Bolsonaro vive e viverá o dilema entre buscar a reeleição e manter a política econômica ultra neoliberal. Tentações que farão com seu governo tenha zigue-zagues, com concessões e revisões das posições o tempo todo.

Bolsonaro não tem posição, é um aventureiro, chegou a condenar vigorosamente as privatizações, agora jura pelo mercado. Tem os olhos postos na reeleição, mas sabe que depende do Paulo Guedes para a política econômica.

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A esquerda tem que propor uma política de resgate e recuperação do país,  que contemple centralmente a retomada do crescimento da economia, que depende de investimentos estatais e que não pode depender dos auxílios emergenciais. Para o que é indispensável uma reforma tributária ou, pelo menos, impostos às grandes fortunas, combate à sonegação e à fuga de capitais para paraísos fiscais.

Ao mesmo tempo que o refortalecimento das políticas sociais, como forma de retomada da diminuição das desigualdades, com programas de distribuição de renda, com recuperação da educação e da saúde pública.  Indispensável à volta do papel ativo do Estado, que deverá comandar o processo de expansão da economia e do mercado popular de consumo de massas.

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Isso só será possível com um novo governo, com a derrubada  deste - um governo que responde aos interesses dos ricos e das milícias. O que só poderá ocorrer com a unidade da oposição democrática, apoiada em novas ondas de manifestações de massa, que expresse a rejeição do governo.  É verdade que a quarentena conspira contra, mas cabe a oposição encontrar as distintas formas de expressão da rejeição desse governo. 

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