Nem ditadura ousou bombardear palco de manifestação
soldo dos golpistas, a Polícia Militar, agindo de forma violenta, fascista e criminosa, atacou com bombas e balas de borracha dezenas de milhares de manifestantes pacíficos que se concentraram na Cinelândia para celebrar o sucesso da greve geral e comemorar antecipadamente o Dia do Trabalhador
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A classe trabalhadora escreveu um belo capítulo da história das lutas de resistência do povo brasileiro neste 28 de abril. A maior greve geral já ocorrida no país pautou inclusive a Globo, maior inimiga do Brasil e dos brasileiros. Como disse o deputado Wadih Damous, agora o caminho é em linha reta até o resgate da democracia.
Contudo, o que aconteceu na manifestação do Rio é de extrema gravidade. A soldo dos golpistas, a Polícia Militar, agindo de forma violenta, fascista e criminosa, atacou com bombas e balas de borracha dezenas de milhares de manifestantes pacíficos que se concentraram na Cinelândia para celebrar o sucesso da greve geral e comemorar antecipadamente o Dia do Trabalhador.
Na base do tiro, porrada e bomba conseguiram acabar com o ato, dispersando uma multidão apavorada. Nem nos anos de terror da ditadura se viu um palco de manifestação, que reunia sindicalistas, parlamentares, lideranças dos movimentos sociais e músicos, ser alvejado por bombas. Isso não pode ficar assim, o governo do estado tem de responder pela ação criminosa de sua polícia. A exoneração do comandante da PM deve ser uma exigência da sociedade.
A denúncia a organismos nacionais e internacionais de direitos humanos é outra providência a ser tomada, bem como a apresentação de uma queixa-crime contra o governo do estado, responsabilizando-o tanto pelas lesões corporais das pessoas como pelo sofrimento psicológico coletivo.
Vamos ao meu testemunho pessoal : no “esquenta” para o ato, eu, meu irmão Luiz e o amigo Lima tomávamos um chope no bar Vermelhinho, no coração da Cinelândia, ao lado do tradicional Amarelinho. Diante dos estrondos das bombas estourando cada vez mais perto, o bar, assim como já fizera minutos antes o Amarelinho, começou a cerrar as portas e os garçons a empilhar na correria mesas e cadeiras. Mas não deu tempo. Duas bombas caíram em frente ao bar, quando estávamos de saída, atingindo-nos em cheio.
Pânico generalizado, jovens e gente idosa passando mal. Deu para ver, antes de virarmos na primeira rua à direita, o palco envolvido também pelas fumaças dos artefatos lançados contra ele. Quanto mais a gente se afastava, mais a PM atirava bombas em nossa direção. De repente a inalação de tanta fumaça cobra seu preço no meu organismo. Com sérias dificuldades para respirar e quase às cegas devido à irritação nos olhos, sou acometido por um acesso interminável de tosse, seguido de vômito.
Nesse momento caminhávamos em direção à Glória, mas as bombas não davam trégua. Encontramos vários companheiros e amigos igualmente tentando se afastar do bombardeio. Enfim, conseguimos nos refugiar na Taberna da Glória, que logo teve suas portas fechadas a mando do gerente. Mas as bombas seguiam explodindo do lado de fora. Duas horas e muitos chopes depois ao sair percebemos que a situação se normalizara.
Sempre fui um crítico da ação dos black blocs, grupelhos pretensamente anarquistas que nada constróem coletivamente e que com frequência prejudicam e sabotam os protestos organizados pelas entidades dos movimentos social e sindical. Mas ontem era nítida a tática utilizada pela PM : para cada bomba atirada em direção aos mascarados que quebravam o que viam pela frente outra era jogada contra a massa de manifestantes pacíficos.
Moral da história : a polícia estava orientada a usar o pretexto da repressão aos black blocs para dissolver o ato das centrais sindicais e movimentos sociais. A Constituição garante, no artigo 5º, o direito à manifestação. Depois do golpe e da consolidação do estado de exceção, a PM se sente à vontade para violar a Carta Magna e atuar à margem da lei. Temos que exigir ela pague pelos seus crimes.
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