Negando o próprio negacionismo

Por que Ernesto não defende suas convicções na CPI? E para não dizerem que é uma fala de esquerda, aponto que no livro O Liberalismo Politico, de John Rawls, mostra sua teoria que admite que as pessoas, no âmbito da vida privada, tem “afetos, devoções e lealdades dos quais elas acreditam que não poderiam, ou na verdade não deveriam, afastar-se



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Qual a vantagem de defender um ponto de vista e negar esse próprio ponto de vista? Mas não é negar como em uma tese, onde a contra argumentação é importante nos textos dissertativos, pois mostra o ponto de vista oposto, gerando debates sobre o tema proposto. Mas como geramos debate ontem. Ernesto Araújo, assim como Fabio Wajngarten, assumiu que podem falar qualquer coisa para se livrarem de uma repreensão pública, mesmo com vídeos na rede, textos escritos e publicados e twittes debatidos. Vitor Hugo teria dito: “ Mentir é maldade absoluta. Não é possível mentir pouco ou muito; quem mente, mente. A mentira é a própria face do demônio”.

Como disse uma amiga, adolescente gosta de namorar, mas adulto gosta mesmo é da CPI. É como um bom seriado que as sextas acabam para retornar com novos episódios na terça seguinte. E Ernesto Araújo superou personagens como FLETCHER REEDE, de O mentiroso (papel clássico de Jim Carrey), a família inteira de dissimulados, no filme de Bong Joon-Ho e aquele que achava que o final poderia ser glamoroso, Frank Abagnale; personagem de Leonardo DiCaprio em Prenda-me se for capaz. Em 116 anos do cinema mundial, o enredo escrito pelos ouvidos desse governo na CPI estaria no top 10 do gênero mentiras. E com direito a ter medo de ir ao banheiro e perder, por exemplo, a fala de Kátia Abreu.

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Claro que temos ressalvas. Mas é que estamos tão carentes, no meio de uma pandemia com um governo de extrema-direita ceifando vidas, que qualquer fala bem dada é uma glória na alma. Randolfe Rodrigues mostrou que Ernesto Araújo sabotou o consórcio Covax Facility. O ex-ministro não se abalou em suas expressões faciais sobre isso. Pode ser que debaixo da máscara esteja rangendo os dentes, mas nunca saberemos. Mas o que esperar de alguém que acredita na Terra plana e que temos um vírus comunista que quer implantar a semente do comunismo na corrente sanguínea? É fácil citar dados falsos sobre China, consórcio de vacina e OMS. Falar que fizeram tudo ao alcance e se verifica que não fizeram, nem um mínimo telefonema para a Venezuela para agradecer o empenho na doação de oxigênio para a crise em Manaus.

Meu problema é que sou afeito a um gosto refinado, devido a muita leitura na juventude. Mas como a fala de Abreu e sua motosserra giratória nos representa nessa hora, independente de um respeito ao mentiroso. "O senhor foi uma bússola que nos direcionou para o caos, para um iceberg, para o naufrágio da política externa brasileira". Foi o resumo que precisava terminar meu dia de CPI. A compulsão pela mentira, não vai desviar a conclusão dos fatos, pois as provas são robustas. Nesses casos, não adianta a tese de que não fui eu, mas meu eu lírico; quando sempre chamou a COVID de comunavírus e fala que não houve atrito com a China.

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O poeta Alexander Pope disse: Errar nos torna humanos, admitir o erro e pedir perdão deveria nos tornar divinos. No entanto,  políticos da gestão Bolsonaro não aceitam o peso de seus equívocos. Achavam que esse dia nunca chegaria. Que poderiam fazer o que quisessem sem serem marcados como, no mínimo, incompetentes. Até uma determinada época, onde testaram limites, como das falas nazistas do primeiro secretário de cultura, achavam que o forte apoio de setores da população daria suporte para todas as suas medidas inconsequentes. Querem transmitir uma imagem de absoluta eficácia, sem existir e precisam da mentira para que seu público possa dar suporte nas redes sociais com a falsa ilusão de que estava sofrendo ataques injustos e que teria suporte sempre. Ledo engano.

Por que Ernesto não defende suas convicções na CPI? E para não dizerem que é uma fala de esquerda, aponto que no livro O Liberalismo Politico, de John Rawls, mostra sua teoria que admite que as pessoas, no âmbito da vida privada, tem “afetos, devoções e lealdades dos quais elas acreditam que não poderiam, ou na verdade não deveriam, afastar-se (…) As pessoas podem achar simplesmente inimaginável viver sem determinadas convicções religiosas, filosóficas e morais ou sem determinados apegos e lealdades duradouros.” Rawls ainda orienta: “Para saber se estamos seguindo a razão pública, devemos perguntar: Como veríamos nosso argumento se ele nos fosse apresentado como uma opinião da Suprema Corte?” 

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Aguardemos os próximos capítulos da CPI. 

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