Nas cinzas desta quarta-feira

"No carnaval propriamente dito, predominou a crítica política e social contra o governo Bolsonaro, acompanhada em muitos lugares pela brutalidade policial contra foliões e a população em geral", escreve o membro da Executiva Nacional do PT Valter Pomar. "Enquanto as escolas e blocos desfilavam, nas redes a extrema direita convocava um ato para o dia 15 de março, de apoio a Bolsonaro, mas principalmente de ataque brutal ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal", adverte

(Foto: Reprodução)


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Na sexta-feira 21 de fevereiro, escrevi um artigo que terminava assim: "as escolas de samba não são as únicas que estão se preparando para desfilar”.

Pois bem: no carnaval propriamente dito, predominou a crítica política e social contra o governo Bolsonaro, acompanhada em muitos lugares pela brutalidade policial contra foliões e a população em geral.

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Enquanto as escolas e blocos desfilavam, nas redes a extrema direita convocava um ato para o dia 15 de março, de apoio a Bolsonaro, mas principalmente de ataque brutal ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal.

Uma das mensagens convocando o ato de 15 de março trazia imagens de generais-ministros e de um general-vice. O fato reacendeu a discussão sobre qual a extensão do apoio, na caserna, à extrema direita. E estávamos nisso quando o próprio Bolsonaro entrou na avenida, em plena terça-feira de carnaval.

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Os fatos: através de sua conta de zap, o “presidente” divulgou um vídeo que o apresenta como salvador do povo brasileiro e uma mensagem reforçando a convocação para o ato de 15 de março.

Mais detalhes sobre o referido vídeo estão aqui.

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A reação ao zap do “presidente” Bolsonaro foi a perfeita materialização da “frente ampla em defesa da democracia”. 

Um bom resumo das declarações contrárias (e da réplica de Bolsonaro) pode ser visto aqui.

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A rigor, estamos vendo um remake do remake, uma espécie de Alien 25. Pois não é de agora que o presidente da República, o vice-presidente da República e vários de seus ministros vem defendendo publicamente um golpe dentro do golpe. Por exemplo, através da edição de um novo AI5.

Portanto, o “problema” não está na convocação de um ato “contra” o Congresso e “contra o Supremo”. Pois este é um direito democrático, assim como é um direito democrático que um presidente apoie o direito de um setor do povo se manifestar. 

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O "problema" é que Bolsonaro apoia abertamente um ato cuja pauta real é o fechamento de fato do Congresso e do STF. Ou seja: a consumação de um golpe dentro do golpe.

E nesse ponto cabe lembrar: não é a esquerda que controla o Congresso e o Supremo. Muito antes pelo contrário. Ambas instituições já deram seguidas mostras de que lado estão. 

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Sendo assim, caberia perguntar: 1) por qual motivo a disputa no andar de cima está tão aquecida? 2) por qual motivo os que controlam o Congresso e o Supremo se demonstram, pelo menos até agora, tão cordeiros frente as agressões do presidente?

Uma resposta à primeira pergunta talvez esteja no que estamos todos vendo: há uma deterioração crescente nas condições de vida do povo, o ultraliberalismo conduz a tratar a questão social como caso de polícia, mais cedo ou mais tarde o caldo vai entornar... e Bolsonaro já tem o seu plano de contingência, uma espécie de GLO nacional, na qual o Congresso e o Supremo não teriam grande papel a desempenhar.

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Uma resposta à segunda pergunta talvez esteja no que todos sabemos: os que controlam o Congresso e o Supremo participaram do golpe contra Dilma, aplaudiram a condenação e prisão de Lula, apoiaram ou lavaram as mãos frente a eleição de Bolsonaro e, principalmente, defendem o programa ultraliberal. Sua principal diferença em relação à Bolsonaro é que consideram possível fazer tudo isto e manter as aparências de que seguem valendo as liberdades previstas na Constituição de 1988.

Gente com esta ficha corrida sabe muito bem qual o preço que teriam que pagar, caso fizessem a única coisa que cabe fazer: afastar o presidente da República. O preço seria ter que mobilizar o povo e as esquerdas em defesa das liberdades democráticas. E como fazer isso, ao mesmo tempo em que o Congresso aprova e o Supremo respalda um programa de corte de direitos?

Esse é o problema deles. O nosso problema é outro: impedir tanto o golpe dentro do golpe, quanto a continuidade do status quo. Por isto, ao mesmo tempo em que devemos pressionar as instituições para que reajam à altura (e só há uma reação possível, frente a agressão tão violenta: afastar o presidente, o vice e os ministros golpistas), precisamos decuplicar a aposta nas mobilizações sociais convocadas para os dias 8, 14 e 18 de março.

Pois senão a disputa será resolvida no e pelo andar de cima. Sobrando para nós as cinzas. 

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