Não se combate reforma com laranjas, mas com propostas

"Por mais criativa que tenha sido a brincadeira cítrica do PSOL no dia em que Jair Bolsonaro foi ao Congresso entregar a PEC, claro está que não se faz oposição à reforma da Previdência jogando laranjas", diz Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia; "Aliás, se os oposicionistas entenderem que não devem ser contrários ao simples fato de haver reforma, mas sim a tudo aquilo que pode prejudicar os mais vulneráveis e manter privilégios de outros, terão avançado muito no rumo da modernização e da própria reinvenção", afirma, sugerindo "encurralar um governo incapaz de se comunicar e de articular politicamente"

Não se combate reforma com laranjas, mas com propostas
Não se combate reforma com laranjas, mas com propostas


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Por Helena Chagas, para Os Divergentes e para o Jornalistas pela Democracia

Por mais criativa que tenha sido a brincadeira cítrica do PSOL no dia em que Jair Bolsonaro foi ao Congresso entregar a PEC, claro está que não se faz oposição à reforma da Previdência jogando laranjas. Aliás, se os oposicionistas entenderem que não devem ser contrários ao simples fato de haver reforma, mas sim a tudo aquilo que pode prejudicar os mais vulneráveis e manter privilégios de outros, terão avançado muito no rumo da modernização e da própria reinvenção.

Menos de uma semana depois da divulgação do pacote previdenciário, o clima anda favorável à oposição. Apesar dos aplausos da mídia e do establishment ao texto, a ocupação de espaços nas redes sociais pelo PT e entidades da sociedade contrárias às mudanças vem superando a dos defensores da reforma. Boa parte dos bolsominions parece confusa com a Previdência, sem saber bem como defendê-la.

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A PEC entregue por Bolsonaro ao Congresso traz, em seu próprio bojo, itens que desagradaram muita gente na própria base governista, como a redução do pagamento do BPC a idosos carentes e a instituição da contribuição rural, entre muitos outros.

Seria o momento de os divididos oposicionistas se reunirem para traçar uma estratégia conjunta – e quem sabe ela lhes permitisse atuar em sintonia no plenário, articular apoios e, finalmente, se reconectar com aqueles que um dia foram seus eleitores mas que, em 2018, lhes infligiram uma tremenda derrota. Esses dispositivos são fortes candidatos a cair, e evidentemente a oposição, embora minoritária, pode capitalizar com isso.

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Negar, porém, que o país necessita reformar seu sistema de aposentadorias a esta altura significa dar murro em ponta de faca. Segundo as pesquisas, boa parte da população já entendeu, por exemplo, que é preciso haver idade mínima. Integrantes de setores mais lúcidos à esquerda, como o ex-ministro da Fazenda do PT, Nelson Barbosa, e os governadores do partido – às voltas com seus rombos estaduais – reconhecem isso.

Que tal, então, pegar o projeto enviado pelo governo ao Congresso e apresentar ao país um substitutivo? Mostrar que é possível sanear as contas da Previdência de outras formas, sem cair na negação total de um déficit que de fato existe e sem formar ao lado de um batalhão de privilegiados do serviço público que só pensam na própria situação.

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É hora de propor emendas, virar o texto de ponta-cabeça, discutir transição, comunicar em linguagem simples e mostrar onde a reforma pega na vida de cada um. Dá trabalho, exige recuos em posições do passado, mas pode ser o caminho para se reconectar com o eleitor perdido ao longo do caminho.

Não seria, como muita gente diz, entrar na pauta do governo Bolsonaro – já que o tema Previdência, queira-se ou não,  virou pauta do país. Seria, quem sabe, encurralar um governo incapaz de se comunicar e de articular politicamente e se apropriar das mudanças que, de qualquer jeito, vão ser feitas no texto.

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