Não precisamos "ensinar o Padre Nosso ao vigário"
A solução está sempre numa ação Política
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Tive a oportunidade de conviver com Jacó Bittar e ouvir dele frases geniais, numa ocasião ele me disse: “poucos podem ensinar o padre nosso ao vigário, mas o vigário deve ouvir sempre”.
Quem conviveu com Jacó de forma fraterna, respeitosa e se dispôs a ouvi-lo, como Wanderlei Almeida, o Wandão vice-prefeito de Campinas e Edison Cunha, também do PSB -, sabe que seu pensamento merece mais atenção de todos que se apresentam como socialistas, trabalhistas e democratas de centro ou mesmo de direita; Jacó foi um intérprete honesto do seu tempo.
Mas não vou escrever sobre o Jacó hoje, trago essa lembrança para afirmar que (i) a sua visão de ação sociopolítica sempre esteve à frente de todos os seus companheiros, seja os do sindicato, da CUT, do PT, do PDT – partido no qual ele teve uma rápida passagem -, ou do PSB, e, que (ii) se ele estivesse entre nós ainda, Lula deveria ouvi-lo para não criar turbulências desnecessárias.
Vamos lá.
Para mim é muito claro: foi uma frente partidária, da esquerda até a direita-democrática, que venceu as eleições em 2022 e não o PT (é verdade que sem Lula seria improvável a vitória).
Sem os votos de todos os democratas que apoiaram a chapa no segundo turno estaríamos vivendo sob a presidência de um representante genuíno da extrema-direita, sempre cioso por um golpe na democracia, “para salvar a democracia”.
A vitória só foi possível porque, além do PT e PSB - coligados na chapa Lula-Alckmin -, o Cidadania se colocou ao lado de Lula na segunda fase do pleito; o PCdoB, PV, Solidariedade, Psol, Rede, Agir, Avante e Pros, estiveram ao lado de Lula e o MDB, de Tebet, o União Brasil, o Podemos e o PSDB deixaram que filiados tomassem decisão individual, assim como não pode ser desconsiderada que a candidata do MDB, Simone Tebet recebeu 4,9 milhões de votos.
A vitória da chapa Lula-Alckmin deu-se pela diferença de apenas dois milhões, cento e vinte e oito mil e trezentos e quarenta e oito votos, menos de 2%, noutras palavras, se o inominável tivesse tido mais um milhão, sessenta e quatro mil e setecentos e setenta e cinco votos ele teria vencido as eleições por “um” voto.
O PT não venceu as eleições sozinho, mas com um importante número de partidos, com visões políticas coincidentes em alguns aspectos, mas divergentes em outros tantos, por isso cada um desses partidos é “sócio” na vitória de 2022.
Me permito fazer uma analogia envolvendo uma sociedade anônima, ou por ações.
Nesse tipo de sociedade o poder de voto cada acionista é representado pelo número de ações que ele detém e que representam o capital.
Nessa “sociedade”, que venceu as eleições em 2022, o PT e o PSB são os acionistas majoritários, mas não são os únicos acionistas; há os acionistas minoritários, cujos interesses não são irrelevantes e não podem ser ignorados.
Se imaginarmos uma assembleia de acionistas numa S.A, por mais ações que um acionista tenha ele não pode decidir de forma plenipotenciária questões estratégicas da companhia.
Ou seja, a articulação política, que nada mais é do que um processo de convencimento acerca da pertinência de ações e projetos do governo, não pode ser feita apenas com o congresso, senadores e deputados, mas também internamente, com cada um dos representantes dos acionistas e, principalmente com a sociedade como um todo.
Não se faz política dentro de gabinetes com ar-condicionado, poltrona de couro, tendo a cafezinho sendo servido por um copeiro ou copeira; política precisa de envolvimento da sociedade, precisa de “sangue nos olhos e lama nos sapatos” (Chico Buarque).
E antes que alguém leia o que não está escrito registro que “sangue no Olho” tem sentido figurado significa que para vencer é necessário ter vontade de vencer, caracteriza também as pessoas que são destemidas, que amam desafios e encaram os obstáculos com uma gana incondicional de superá-los, confiança e força espiritual.
Onde estavam os ambientalistas quando a câmara desmontou o Ministério do Meio Ambiente e aprovou o “marco legal”? Onde estava a sociedade? Não estavam na câmara porque não houve articulação política de verdade, porque a sociedade foi colocada à margem do debate.
Sejamos honestos, salvo por alguns movimentos populares, o institucionalismo apropriou-se verdadeira política; a política é dominada por burocratas, sempre em busca de privilégios, que fingem preocupação com o país e com as políticas públicas propostas pelo governo, mas fazem ouvidos moucos para as divergências internas, sempre para agradar a Lula e a corte instalada no seu entorno.
Nem vou aprofundar o tema “congresso nacional” – hoje majoritariamente conservador e que, em alguns temas, flerta com ideias que tangenciam o fascismo.
Lula tem que conversar com Lira e Pacheco; Padilha e Rui Costa devem dar atenção a todos os líderes de partidos que apoiaram a chapa vencedora, bem como aos congressistas que não nos apoiaram, as que são sensíveis às demandas sociais, caso contrário o governo vai perder todas as votações que envolvam uma agenda progressista, vide o que está acontecendo com o “meio ambiente” e a tragédia que representa o tal “marco legal”.
Por que vai perder? Porque a correlação de forças hoje é 350 x 150 na câmara, e não preciso explicar que tem mais votos.
A solução está sempre numa ação Política.
A ação política a qual me refiro deve fazer sentido para quem a prática por isso, para fazer sentido, é necessário diálogo, negociação, convencimento; em fazendo sentido ela é capaz de envolver positivamente a sociedade, os movimentos sociais, os interesses da indústria, do agro, da agricultura familiar, os ambientalistas etc., sempre com apoio da sociedade civil.
É verdade não precisamos “ensinar o padre nosso ao vigário”, mas seria bom ele nos ouvir.
Essas são as reflexões.
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