Não morre um canalha
Marcel Mauss chamava isso de expressão obrigatória dos sentimentos. Esse rito irritante nada tem a ver com o morto, nem com a morte, é apenas um teatro barato de atores de araque
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"Bom pai, bom filho, esposo amantíssimo".
Dizem as lápides.
Nunca vi uma onde se pudesse ler:
"Foi tarde. canalha, devia a Deus e o mundo, espancava as crianças e a esposa, votou errado a vida inteira, pagava mal os empregados e ainda batia na cara da mãe".
Ou uma anárquica pixação tumular, lacônica, honesta e sincera:
"Vim aqui só pra mijar na cova deste covarde".
Mas, por Zeus, o que se vê normalmente, em dia de finados, é a velha hipocrisia humana.
Nos cemitérios, contritos, chorosos, estão os parentes de algum defunto, convertidos em carpideiras ocasionais, tentando fingir-se humanos.
Porque a lágrima humaniza o animal cívico.
Marcel Mauss chamava isso de expressão obrigatória dos sentimentos.
Esse rito irritante nada tem a ver com o morto, nem com a morte, é apenas um teatro barato de atores de araque...
Dos vivos para os vivos.
Palavras sapienciais.
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