Não haverá golpe!

Para J. Carlos de Assis, não haverá golpe pois "não há espaço para isso." Ele argumenta: "Aqui não é Miamar, não é Haiti. O projeto Bolsonaro, que levou ao poder um imenso grupo de militares da reserva, fracassou"

(Foto: Felipe Campos Mello)


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Por J. Carlos de Assis

Basta de especulação sobre se os militares vão dar ou não um golpe. Não vão dar, absolutamente. Não há espaço para isso. Aqui não é Miamar, não é Haiti. O projeto Bolsonaro, que levou ao poder um imenso grupo de militares da reserva, fracassou na economia e na pandemia, e comprometeu os militares da ativa. São estes que dão golpe. Mas é preciso que haja clima para isso, e não existe.

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A primeira condição é a unidade militar. Diante do fracasso absoluto de um presidente paranoico, a “unidade” militar em favor de Bolsonaro está na razão inversa da quase unanimidade da sociedade (80% segundo as pesquisas) contra ele. Não se esqueçam de que Bolsonaro realmente testou os comandos para um golpe. Não colou. Teve que demitir os comandantes das três Forças para dar prova de autoridade. Esses comandantes continuam lá, nos Altos Comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Se fossem golpistas, não teriam sido demitidos. Já os que entraram em seu lugar cumpriram um rito institucional. A nota que assinaram junto com o ministro da Defesa é estapafúrdia, porém não mais que isso. Acham que têm que defender o resto de honra das Forças Armadas no meio do caos bolsonarista. 

A segunda condição para um golpe é a desordem institucional. Fui e continuo sendo um crítico persistente da degradação das nossas instituições. Entretanto, diante do descalabro imposto à economia e à sociedade brasileira pelo atual desgoverno, elas acordaram para a monstruosidade da situação em que nos encontramos, e se deram conta dos riscos, não de golpe, mas de completa destruição do país se persistir o caos. 

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A reação dos presidentes dos Poderes à nota dos comandantes militares é uma prova inequívoca de que há unidade institucional em defesa da democracia e das eleições. O documento dos oito principais partidos mostra que, a despeito de profundas divergências ideológicas e pragmáticas, há unidade política contra qualquer tentativa de golpe. Diante das ameaças, a honra política se levantou. 

A terceira condição são as circunstâncias internacionais. Os aliados ideológicos de Bolsonaro no mundo, Trump e Netanyahu, foram derrotados em seus próprios países em eleições históricas. Não servem de âncora a qualquer projeto golpista militar no Brasil em nome de uma geopolítica anacrônica. Exceto por alguns países que não contam no cenário internacional, Bolsonaro está absolutamente só. 

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A quarta condição são os movimentos sócio-políticos internos. O povo está na rua contra Bolsonaro. E não são apenas partidos de esquerda. São os partidos progressistas, é a sociedade civil, são os intelectuais, os artistas, a mídia, os blogs, os defensores da igualdade étnica e de gênero. A base esquálida de Bolsonaro está hoje reduzida a motoqueiros e líderes religiosos desqualificados, ladrões do povo.  

Também resta com ele um bando de caminhoneiros ignorantes, que não compreenderam que foram traídos pela política bolsonarista de combustíveis, a qual está por trás da retomada da inflação brasileira, e que atinge sobretudo os pobres. Mas isso tudo não vai além de 20% dos eleitores e da sociedade. A maioria dos cidadãos quer ver Bolsonaro fora, qualquer que seja o sucessor. 

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Uma quinta condição é que houvesse pelo menos uma parte da economia e da administração pública onde se pudesse apontar algum progresso deste governo, ao ponto em que interessasse ao povo e aos próprios militares continuá-lo. Mas qual foi a agenda de construção de Bolsonaro? Pelo que consigo ver, foi uma agenda de destruição de empresas estatais e de tolerância com desmatamento e queimadas. Com que base as Forças Armadas atuais dariam um golpe? Em nome de quê? Em nome da defesa de uma Nação que estão involuntariamente ajudando a destruir? E não é essa destruição fruto do despreparo político dos próprios militares em questões civis, como demonstrou o general Villas Boas, então comandante do Exército, ao se tornar o principal eixo eleitoral de Bolsonaro entre os militares da ativa e da reserva? 

Não gostaria que esse artigo fosse tomado como uma provocação aos militares. Eles estão armados, e não devemos, enquanto civis, provocar pessoas armadas. O grande risco que corremos, na verdade, é que os militares se vejam desmoralizados junto com Bolsonaro. E, como ele, decidam apelar para o tudo ou nada. Nesse sentido, é fundamental que não se impute apenas a eles responsabilidade pelo caos existente. Quero acreditar na parte do livro do general Villas Boas onde ele assegura que, com a redemocratização do país, os militares, sobretudo os do Exército sob seu comando, dedicaram-se especialmente à profissionalização. A torcida pela eleição de Bolsonaro foi um deslize que deve se creditar, em parte, ao despreparo das esquerdas ao lidar com questões militares. 

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Em qualquer hipótese, porém, não haverá golpe!

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