Não há saída sem diálogo e negociação
Para o jornalista Hélio Doyle, a presidente Dilma "está certa em falar na discussão de uma agenda para o país", como fez nesta sexta-feira; "O maior papel que o governo pode exercer, neste momento extremamente difícil, é convidar todos os segmentos políticos e sociais para encontrar uma saída", defende; antes de um debate, porém, ele diz que é preciso que o STF decida se Cunha permanece presidente da Câmara, o TSE se as acusações contra a presidente são precedentes e o Congresso se haverá impeachment; "Removidas essas questões preliminares, será hora de, sem desculpas, o governo sair da defensiva e tomar a frente desse processo, a oposição parar com seu discurso vazio, demagógico e contraditório e a sociedade se mobilizar para defender seus pontos de vista"
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É uma grande irresponsabilidade do governo e dos políticos deixarem que o Brasil continue afundando, e cada vez mais, como está acontecendo. A crise econômica e financeira pela qual passa o país, com causas internas e externas, já seria motivo mais do que suficiente para que as forças políticas e da sociedade civil estivessem debatendo políticas, programas e medidas para enfrentá-la, em busca de caminhos e saídas. Mas, em vez disso, os políticos contribuem para agravar ainda mais a crise, substituindo a discussão qualificada dos problemas do país por temas irrelevantes, incluindo, entre eles, o impedimento da presidente.
Por isso, a presidente Dilma está certa em falar na discussão de uma agenda para o país, embora, como sempre, tenha apresentado a proposta de forma confusa e secundária em relação a outros temas. O maior papel que o governo pode exercer, neste momento extremamente difícil, é convidar todos os segmentos políticos e sociais para encontrar uma saída. Que cada um apresente suas propostas, saiba defendê-las e as coloque sob julgamento da população.
É esse tipo de negociação política que tem de acontecer, não as negociatas fisiológicas de loteamento do governo, liberação de emendas e nomeações de apadrinhados. Uma negociação de nível, com substância. Por que não, por exemplo, debater seriamente a reforma da previdência, em vez de simplesmente colocá-la sob o tiroteio de opiniões preconcebidas, demagógicas e no baixo nível dos palpiteiros e militantes dos dois lados na internet?
Mas não é debater uma reforma da previdência, com todo o seu significado social, econômico e político, de modo fragmentado e fora do contexto de medidas mais amplas para enfrentar a crise e fazer o Brasil retomar um processo de crescimento. Não é discutir a reforma política em bases casuísticas, nem tratar o sistema tributário como vem acontecendo, na base do “mais impostos versus menos impostos”. Não se debate uma verdadeira reforma tributária para fazer com que o sistema seja justo socialmente e que simplifique procedimentos que hoje oneram desnecessariamente as empresas.
O governo tem o dever de apresentar propostas elaboradas, e não apenas ideias esparsas. Os parlamentares, os governadores e prefeitos, independentemente de seus partidos e de serem situação, oposição ou muro, têm de entrar nesse debate com vontade. A sociedade civil, principalmente os representantes do empresariado e dos trabalhadores – mas não somente eles – têm de apresentar suas propostas com clareza e transparência, sem subterfúgios.
Mas, para que esse debate aconteça de verdade, é preciso remover algumas questões preliminares. O Supremo Tribunal Federal tem de decidir rapidamente se Eduardo Cunha pode continuar deputado e presidente da Câmara. Tem de decidir também sobre o rito do processo de impedimento. O Tribunal Superior Eleitoral tem de resolver, com a mesma rapidez, se tem procedência ou não as denúncias contra a chapa Dilma-Temer, vitoriosa em 2014. E o Congresso tem de votar se haverá ou não o processo de impedimento.
Removidas essas questões preliminares, será hora de, sem desculpas, o governo sair da defensiva e tomar a frente desse processo, a oposição parar com seu discurso vazio, demagógico e contraditório e a sociedade se mobilizar para defender seus pontos de vista.
E a Lava-jato e as demais operações contra a corrupção? Continuam normalmente, investigando o que tem de ser investigado e punindo quem tem de ser punido.
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