Não há espaço para omissão do presidente da Câmara, quando a democracia está ameaçada

"Não há lugar em cima do muro para alguém que se investiu do cargo de presidente do poder Legislativo", escreve Denise Assis

Arthur Lira
Arthur Lira (Foto: Reprodução/Twitter)


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Por Denise Assis, para o 247 

A pesquisa Datafolha a ser publicada hoje (28/07), no final do dia, traz um dado importante. No centro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem 40%, o ex-ministro Ciro Gomes tem 19% e o atual ocupante do cargo, 14%. O dado reflete a movimentação dos últimos tempos de Bolsonaro que, a partir do evento onde reuniu 40 embaixadores estrangeiros no Planalto para dizer ao mundo que pretendia dar um golpe e criticar sem provas ou fundamentos técnicos, o sistema eleitoral brasileiro, deixou à mostra todo o seu radicalismo e a intenção de se perpetuar no poder. Tradução: pôr fim à democracia.

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Foi o seu momento de inflexão. Ali, selou o rompimento com o segmento da sociedade que ainda tolerava as suas grosserias, a sua pauta canhestra e retrógrada de costumes e o seu declarado pendor pelas armas e a violência, em nome de uma economia “liberal” que nem sequer pode ser chamada assim, pois tampouco o que prometeu foi entregue.  

Entre um país falido e faminto, sob o risco de um forte retrocesso, parte significativa da elite que se colocava ao seu lado se arredou para o centro, capitulou. Não marcharão para a aventura golpista com Bolsonaro e é isto que a pesquisa está a nos contar.

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Nem era preciso. No início dessa semana, o manifesto “Carta aos Brasileiros”, que começou com três mil assinaturas e já conta com algo próximo de 200 mil - podendo já esse número estar ultrapassado agora, quando este texto é escrito – foi o marco entre o silêncio cúmplice, mantido até o momento, e o brado de “chega!”, por parte do tal “mercado”, empresariado, banqueiros, intelectuais e todas as parcelas que contam nesse país. Não dirão nem para o próprio espelho que votarão em Lula, mas se não estão com Bolsonaro, a opção no segundo turno não é “uma escolha difícil”. É Lula.

De pouco ou nada adiantou o encontro do presidente do partido de Bolsonaro (PL), Valdemar Costa Neto, com o presidente do TSE, o ministro Edson Fachin, em que fez juras de conciliação e redução dos gritos do ocupante do Planalto. O STE, o STF, o mundo, as lideranças de todos os cantos sabem que dentro de Bolsonaro mora um demônio e um projeto, que o dominam, tornando-o indomável, inadministrável, incontrolável. Não há conversa por procuração que dê jeito no seu sonho de retornar com um regime algo próximo do que foi a ditadura (1964/1985).

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O que a pesquisa mostrou foi o movimento de retorno à razão, dos que ainda se encontravam tal como cracas de mexilhões, agarrados à proa do navio bolsonarista.  

A cena patética, humilhante e desabonadora de ver um presidente difamar o próprio país aos olhos externos foi a gota de óleo de peroba que faltava para que sentissem, finalmente, vergonha de estar do lado de uma história que tem tudo para acabar mal.  

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Para os que duvidam, basta observar que, depois de nove dias de incubação, até o (infelizmente) presidente da Câmara, Arthur Lira, depois de vestir o azul da camisa de lançamento da candidatura de Bolsonaro para ver se a sorte mudava, veio a público, finalmente, se posicionar. Disse que: "A Câmara dos Deputados fala quando é necessário falar, não quando querem obrigá-la a falar. Eu dei mais de 20 mensagens mundo afora e internas no Brasil de que sempre fui a favor da democracia e de eleições transparentes e confio no sistema eleitoral”.  

Falso. Ao envergar a camisa de Bolsonaro e ir para a linha de frente do palco da convenção que o lançou para o cargo de presidente da República, Lira endossou o recém acontecido ato vergonhoso de difamação do sistema eleitoral e a sua ameaça golpista. Assinou embaixo as críticas do “parceiro”. E, pior, se omitiu.  

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Não é verdade que o presidente da Câmara fala quando quer. O cidadão Arthur Lira fala quando quiser. De preferência, não muito, pois não estamos interessados nos seus resmungos, mentiras e desculpas esfarrapadas. Quanto ao presidente da Câmara, como titular da casa que representa o povo, Lira tem que se pronunciar todas as vezes que o nosso direito está ameaçado. E estamos ali, no limiar entre o dia e a noite. Não há lugar em cima do muro para alguém que se investiu do cargo de presidente do poder Legislativo. Sob pena da nossa democracia morrer, assassinada por sua omissão.

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