Não há “ameaça comunista” para um novo 31 de março

"Dizer que a ditadura não foi ditadura é elogiar a ditadura, além de falsear a história", diz Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia, em referência ao presidente Jair Bolsonaro; "Os ataques em série à imprensa, ao Congresso e ao STF expõem dramaticamente suas tendências autoritárias e sua falta de habilidade – e vontade – de governar dentro das regras da democracia", afirma

Não há “ameaça comunista” para um novo 31 de março
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Por Alex Solnik, colunista do 247 e membro do Jornalistas pela Democracia

Causam urticárias e ânsias de vômito em alguns e há quem arranque os cabelos em razão das declarações incendiárias e estapafúrdias do presidente Jair Bolsonaro.

Dizer que a ditadura não foi ditadura é elogiar a ditadura, além de falsear a história.

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Os ataques em série à imprensa, ao Congresso e ao STF expõem dramaticamente suas tendências autoritárias e sua falta de habilidade – e vontade – de governar dentro das regras da democracia.

Matar o trabalho para ir ao cinema enquanto o circo da Previdência pega fogo foi um dos pontos altos desse estilo que constrange e assusta o país. Viver às turras com o presidente da Câmara e o STF tem sido outro.

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Surgem, nesse contexto inédito na história brasileira recente, cogitações de que essa suposta falta de vontade de governar, esse corpo mole, essa sucessão de conflitos que provoca com os dois outros Poderes seriam movimentos com o objetivo de criar as condições para um autogolpe de estado, para usar a terminologia do vice Hamilton Mourão, à semelhança do que Getúlio fez em 11 de novembro de 1937: promoveu-se de presidente a ditador.

No entanto, apenas semear ventos, como Bolsonaro tem feito, não basta para formar a tempestade perfeita que deseja.

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Falta a Bolsonaro, em primeiro lugar, o que Getúlio (e os generais de 1964) tiveram: um pretexto. Um "bom" motivo. Um motivo convincente, do qual não há como a maioria discordar.

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Tanto o autogolpe de 1937 quanto o golpe de estado de 1964 foram justificados pela "ameaça comunista". Getúlio brandia o Plano Cohen, um suposto projeto de invasão do país pelos vermelhos "elaborado" pelo Komintern; golpistas de 64 convenceram a população de que estaria em marcha um suposto golpe comunista à la Fidel Castro e todos seriam expulsos de suas casas.

Getúlio e os generais de 64 alardearam a necessidade do golpe de estado para "proteger os brasileiros do comunismo". E uma grande parcela de brasileiros caiu nessa.

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A "ameaça comunista" não existe mais desde o fim da União Soviética. Não há mais Komintern. Ninguém mais exporta revolução comunista. E internamente, até onde se sabe, não há nenhuma movimentação da esquerda para tomar o poder pela força.

Não há do que "proteger os brasileiros". É necessário, isso sim, proteger os brasileiros dele.

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O pretexto de combater o "marxismo cultural" é muito ingênuo para justificar um autogolpe. Ninguém se sente ameaçado por ele.

A outra coisa que ele não tem e que é fundamental para um autogolpe é apoio popular. Ninguém protestou nas ruas quando Getúlio mandou tropas cercarem o Congresso. Ele era querido. Os milicos de 64 precisaram do apoio das Marchas Pela Família para tomarem coragem de colocar tanques na estrada.

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Generais ele tem. Mas é mais fácil um tanque passar pelo buraco da agulha que generais de 4 estrelas ajudarem um ex-capitão a virar ditador do Brasil.

Ainda mais porque o Exército é hoje a instituição mais respeitada pelos brasileiros exatamente por ter ficado distante do poder nos últimos trinta anos.

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