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Militares ucranianos caminham perto de um prédio escolar destruído por um bombardeio em Zhytomyr, Ucrânia, em 4 de março de 2022
Militares ucranianos caminham perto de um prédio escolar destruído por um bombardeio em Zhytomyr, Ucrânia, em 4 de março de 2022 (Foto: REUTERS/Viacheslav Ratynskyi)


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O que a Guerra Híbrida da Ucrânia pode ensinar a quem procura entendê-la em seu passo a passo? Esta é uma pergunta que muitas pessoas estão buscando responder. Para entender qualquer guerra, primeiramente é preciso distinguir quem é o agressor e quem é o agredido. O agressor é aquele que inicia a guerra, porque pretende atingir certos objetivos por meio de sua realização; e o agredido, ao defender-se, procura também, a seu modo, retirar consequências não intencionais das quais pode auferir alguma vantagem. No caso da Guerra Híbrida da Ucrânia, os lados têm interesses bem diferentes.

O agressor é os EUA, desde 1991. A política externa executada por Bill Clinton, e pelos presidentes subsequentes, a partir da falência da União Soviética, com a dissolução do Pacto de Varsóvia, descumpriu o acordo feito com Mikhail Gorbatchev e focou em empreender uma maciça expansão militar, via OTAN (NATO), modificando a política externa da Europa Ocidental, e de outros aliados, tornando-a submissa aos interesses das três oligarquias no controle da política externa dos EUA, com a OTAN exercendo total controle contra quaisquer ameaças de resistência domésticas europeias.

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A convergência desses três blocos oligárquicos  caracteriza o capitalismo financeiro pós-industrial contemporâneo. Assim, a dinâmica desta guerra híbrida reside no estímulo dessa convergência oligárquica emparedando a Rússia seja por meio dos ataques violentos dos grupos neozanistas ucranianos contra as províncias do leste, Luhansk e Donetsk, de língua russa, como também pelo conjunto de outras ameaças mais amplas perpetradas pela OTAN. O sonho dessa convergência é restaurar a cleptocracia gerencial dos anos 1990, sob o comando de Boris Yeltsin com os Harvard Boys.

O primeiro bloco oligárquico é o complexo militar-industrial, com os fabricantes de equipamentos bélicos Raytheon, Boeing e Lockheed-Martin, cuja renda monopolista é obtida com a venda de armas à OTAN, aos países exportadores de petróleo e a países com superávit na balança de pagamentos. As ações dessas empresas dispararam imediatamente após a notícia do ataque russo. A escalada militar dessas semanas promete um forte aumento nas vendas de armas para a OTAN: por exemplo, a Alemanha rapidamente concordou em aumentar seus gastos com armamentos para mais de 2% do PIB.

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O segundo grande bloco oligárquico é o complexo de extração de gás e petróleo, junto com a mineração, aproveitando das benesses fiscais dos Estados Unidos concedidas às empresas que assaltam as riquezas naturais do solo poluindo o ar, os oceanos e os reservatórios de água potável. O objetivo deste bloco é aumentar o preço da sua energia e matérias-primas, com preços mais altos de gasolina (como ocorre atualmente no Brasil bolsonarista, pelo desmonte da Petrobrás executado por Sérgio Moro) e de outras energias, de forma a maximizar a sua renda de recursos naturais. 

Monopolizar o mercado do petróleo da área do dólar, isolando-o do petróleo e gás russos, tem sido a grande prioridade dos EUA no tempo recente, uma vez que o oleoduto “Nord Stream 2” ameaçou ligar mais estreitamente as economias da Europa Ocidental e da Rússia. Isolar o Irã e a Rússia dos mercados ocidentais, entre outras consequências, reduzirá a oferta de petróleo e gás, elevando os preços e os lucros corporativos ocidentais. Há mais de um ano, Joe Biden vem exigindo que a Alemanha impeça o funcionamento do gasoduto “Nord Stream 2” no abastecimento de sua indústria e de sua população, com preços cinco vezes mais baixos, e se volte para adquirir o gás dos fornecedores estadunidenses. Como consequência a Alemanha não emitiu o Certificado de funcionamento do gasoduto russo.

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Por fim, o terceiro maior grupo oligárquico estadunidense é o setor simbiótico de Finanças, Seguros e Imóveis, o moderno capitalismo financeiro sucessor da velha aristocracia fundiária pós-feudal da Europa que vivia das rendas da terra. Cerca de 80% dos empréstimos bancários norte-americanos são para o setor imobiliário, inflando os preços dos imóveis para gerar ganhos de capital. Internacionalmente o objetivo deste setor é privatizar as economias estrangeiras, de modo a transformar a infraestruturas dos governos e os serviços públicos em oligopólios privados para fornecer serviços básicos (saúde, educação, transporte, comunicação, tecnologia da informação) a preços máximos em vez de preços subsidiados para reduzir o custo de vida das populações.

Por sua vez, o objetivo da agredida Rússia é o de imediatamente remover o núcleo anti-russo neonazista que o massacre da Praça Maidan (2014) colocou em movimento, desmontando de todas as formas o palco de ações gerenciadas pelos EUA, como ocorreu na Chechênia e Geórgia. O segundo objetivo é dissolver completamente a OTAN, uma vez que o propósito da OTAN é o ataque e não a defesa; é a expansão rumo ao leste visando à destruição da Rússia. Por fim, iniciar um processo de “desdolarização” da economia mundial. Recentemente os EUA confiscaram as reservas internacionais do Afeganistão e a Inglaterra apreendeu os estoques de ouro da Venezuela; Cuba sofre sanções internacionais comandadas pelos EUA há mais de 60 anos. E o roubo recente das reservas monetárias da Rússia, pelos EUA, é mais uma ameaça a todos os países ao se submeterem ao padrão dólar.

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Numa guerra híbrida, o híbrido é a capacidade de transformação, de inversão dos sinais de mais em menos, de criar possibilidades de mudar de opinião, de ponto de vista, e este é o aspecto mais potente de uma guerra híbrida que se materializa em IMAGENS IRRADIADORAS que “viralizam” pelos novos meios de comunicação digital e que carregam em si mesmas o poder de produzir um apagamento dos seus próprios rastros. O HÍBRIDO aposta na sua condição de maleabilidade e mutação. E é nesta concepção imagética que a guerra híbrida se associa à produção de indivíduos autômatos, capturados por coisas que não existem, mas que ganharam existência pelas IMAGENS. E que, por serem imagens, como registra Platão em sua Caverna, revelam e enganam simultaneamente. Os posts (imagens), armas por excelência da guerra híbrida, se apoiam justamente na crença da agência das imagens e de seu poder de interferência nas mentes e comportamentos das pessoas. É um preço muito alto que os EUA estão cobrando da comunidade internacional. Quem vai pagar a conta de mais um almoço global estadunidense?

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