Não estamos contra a pessoa de Bolsonaro, estamos contra o que ele representa
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Qualquer pessoa que tenha dedicado alguma atenção à evolução política do Brasil nas últimas três décadas sabe o que significava Bolsonaro até pouco antes de sua eleição como Presidente da nação.
Após ter sido virtualmente expulso do Exército por má conduta, Bolsonaro passou quase 30 anos exercendo atividades parlamentares, primeiro como vereador, depois como deputado. Sim, foram quase três décadas de atuação parlamentar! E quais os frutos de seu trabalho durante todos esses anos?
Se o critério a usar for o da defesa das organizações milicianas que comandam o crime organizado em várias regiões do Rio de Janeiro, somos obrigados a admitir que seu trabalho foi bastante profícuo: Bolsonaro não escatimou esforços para glorificar as atividades das milícias fluminenses, chegando a propor e aprovar na Câmara de Deputados a concessão de menções honrosas aos mais conhecidos chefes de milícias do Estado do Rio de Janeiro.
Por outro lado, se o critério de avaliação for medidas ou propostas tomadas em benefício das maiorias populares, o panorama se apresenta de modo completamente diferente. Durante seus mais de 28 anos de mandatos, Bolsonaro nunca, nem uma só vez, chegou a encaminhar alguma coisa que pudesse ser considerada de interesse popular. Repetindo, *nem uma única vez*.
E como justificar sua reeleição por tantos mandatos parlamentares sem nunca ter feito nada de bom para a maioria da população? A resposta não é difícil de ser encontrada. Embora nada tenha feito a favor do povo, fez muito em proveito das organizações milicianas. E estas detêm um fortíssimo controle econômico e social sobre vastas regiões da periferia do município do Rio de Janeiro e áreas adjacentes.
Se, no passado, à menção à voto de cabresto costumava nos remeter à imagem de coroneis agindo nos sertões nordestinos, atualmente, esta é uma característica muito mais típica das zonas sob controle das milícias fluminenses. Então, ser o candidato preferido das milícias é quase que uma garantia para a obtenção de um mandato como vereador ou deputado. Ou seja, estamos explicados.
Quanto à eleição de Bolsonaro para a presidência, já sabemos o papel nefasto desempenhado pelos meios de comunicação corporativos (rede Globo à frente), o trabalho sujo em dobradinha com esses meios do juiz Sérgio Moro e da quadrilha Lava-Jato, assim como o financiamento de uma amplíssima rede de divulgação de mentiras e difamação por parte de vários empresários inescrupulosos.
Foi a atuação conjunta e orquestrada de todos esses elementos que deu vazão a um sentimento de enorme repulsa à política como um todo, o que, por ironia, acabou redundando na eleição do mais nefasto de todos os políticos existentes no país. Em seu afã de impedir mais uma vitória do PT, eles aceitaram consagrar como não-político aquele que incorporava tudo o que de pior podia haver na prática da política. Em outras palavras, grandes parcelas de nosso povo foram induzidas a tomar veneno como forma de combater uma dor de cabeça.
Mas, como pôde se dar a aceitação da figura de Bolsonaro por parte de todos esses grupos que se consideram a elite da nação? Seguramente, todos os envolvidos nesta trama estavam plenamente cientes de que Bolsonaro era o que Bolsonaro sempre foi. Ninguém dessa turma pode alegar ter sido enganado. Na verdade, o passaporte que permitiu a Bolsonaro cruzar as fronteiras e ser admitido pelas elites como seu candidato foi sua adesão às propostas econômicas mais queridas daqueles que controlam a maior parte das riquezas do país. Para não deixar dúvidas, o que fez dele um candidato de confiança da casa grande foi sua disposição e determinação de aplicar em sua totalidade o programa econômico dessas elites: a aplicação sem titubear do programa do neoliberalismo.
Não foi por uma mera questão de sua ignorância completa de tudo o que se refere à economia que Bolsonaro escolheu para o comando de seu projeto econômico de governo o conhecido porta-voz de banqueiros Paulo Guedes. Se a adesão ao neoliberalismo foi o passaporte para seu cruzamento de fronteiras com as oligarquias financeiras, a nomeação de Paulo Guedes como seu orientador em economia serviu como o carimbo de entrada neste mundo dos privilegiados.
Com Paulo Guedes eles têm a garantia de que o patrimônio público vai ser desmantelado e entregue a grupos privados do exterior e do Brasil, com Paulo Guedes eles sabem que poderão contar com o empenho do governo em eliminar direitos trabalhistas, com Paulo Guedes eles confiam que tudo vai ser feito para pôr fim ao SUS, com Paulo Guedes eles acreditam que a educação pública vai virar um negócio empresarial.
Portanto, quando vemos que há tanta gente pelo Brasil afora apavorada com os desatinos causados por Bolsonaro, isto não se deve à importância própria (para o mal ou para o bem) deste sujeito. Embora saibamos que Bolsonaro pessoalmente não passe de um politiqueiro ignorante, inculto e medíocre, sabemos também que quem está por trás do mesmo são as forças do grande capital, são aqueles que vivem do rentismo e da espoliação da nação e que não desejam abrir mão de seus privilégios.
Por isso, ao gritarmos *Fora Bolsonaro*, o que de fato queremos gritar é *Fora exploradores do povo brasileiro*, *Fora Paulo Guedes e sua política entreguista e de fome*, *Fora neoliberalismo*. O que de verdade faz mal ao povo não é a falta de modos de Bolsonaro, não é a boca suja de Bolsonaro, não é a pouca cultura de Bolsonaro. O que realmente prejudica a maioria dos brasileiros é a dedicação de Bolsonaro em atender os interesses dos grandes capitalistas financeiros e dos representantes do capital estrangeiro em detrimento do conjunto da nação.
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