Não era orquestração “imperialista”, é bem mais embaixo o buraco

O governo Temer neste contexto parece muito mais ter sido uma solução no meio do caminho do que propriamente o desfecho planejado. O que pode estar por trás de tudo que foi insuflado em Honduras, Paraguai e Brasil é a substituição da democracia como conhecemos

U.S. Democratic presidential candidate Hillary Clinton speaks during a rally in South Broward Area at Broward College-North Campus in Coconut Creek, Florida, U.S., October 25, 2016. REUTERS/Carlos Barria
U.S. Democratic presidential candidate Hillary Clinton speaks during a rally in South Broward Area at Broward College-North Campus in Coconut Creek, Florida, U.S., October 25, 2016. REUTERS/Carlos Barria (Foto: Leopoldo Vieira)


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Na sexta-feira passada, o FBI concedeu uma entrevista reabrindo o caso dos e-mails pessoais para tratar questões de Estado da candidata democrata, Hillary Clinton, faltando apenas dez dias para o pleito presidencial nos Estados Unidos.

O caso já havia servido para tensionar a disputa das primárias do partido quando o senador Bernie Sanders concorria. Ele, como se sabe, era um candidato autodeclarado socialista, com retórica radical contra Wall Street, o que empolgou parcelas da juventude, mas, paralelamente, com certeza, afastaria financiadores democratas.

A Wikileaks de Julian Assange deu ampla repercussão para o caso na época e agora. Sem duvidar do papel do site pela transparência pública que encanta setores de esquerda no mundo, o chefe do grupo, exilado na embaixada do Equador em Londres, foi assertivo ao dizer que os EUA não tinham democracia, mas uma fachada manipulada desde as primárias. Sugeriu que como alternativa a Hillary e Trump, um meteoro caísse na Terra.

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Donald Trump, o bilionário que fustiga negros, latinos, muçulmanos e promete uma agenda que animaria seguidores de Adolph Hitler, no último debate presidencial ameaçou não reconhecer o resultado das eleições.

A revista The Economist tem alertado que a disputa não acaba na semana que vem, que o final não será feliz porque os candidatos ergueram muros na sociedade, extremamente dividida.

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Clima de caos total, que pode, inclusive, paralisar a atividade econômica.

Qualquer relação com acontecimentos recentes do Brasil parecem que não é mero acaso, ainda mais quando se vê (ainda) poucos manifestantes organizarem atos políticos a favor de Trump, comparando Hillary com Dilma e acusando a democrata de ser, pasmem, comunista.

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Enquanto isso, Hillary encaminha uma plataforma que envolve reforma política para reduzir o peso das corporações no financiamento eleitoral, reforma judicial para combater o encarceramento em massa e a criminalização de negros, proteger os imigrantes com ampliação de benefícios e um plano de recuperação de empregos, sobretudo para os Millenials.

O DNA do conjunto da obra - protagonismo corporativo policial contra Hillary, equivalência dela com lideranças femininas de esquerda, rejeição a ela como alternativa política progressista, incentivo da extrema esquerda como contraponto, deslegitimação da democracia e ventilação de hipótese de não-reconhecimento da vontade das urnas - parece, indubitavelmente, republicano.

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Quem apostou que a deposição de Zelaya e Lugo foi um ensaio para deposição de Dilma pode não ter enxergado até onde vai a toca do coelho. O ensaio parece ter sido para aplicar a fórmula nos próprios Estados Unidos.

O governo Temer neste contexto parece muito mais ter sido uma solução no meio do caminho do que propriamente o desfecho planejado. O que pode estar por trás de tudo que foi insuflado em Honduras, Paraguai e Brasil é a substituição da democracia como conhecemos para um regime de corporações estatais, manietado por inteligência a serviço de algumas grandes corporações. Nem todas estão com Hillary, assim como valeu prender parte relevante do PIB brasileiro para desestabilizar, vê-se agora, não o PT, mas o sistema político.

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Deste caldo que vai entornando nos EUA, pode se observar a antesala para encalacrar Hillary com o FBI, estabelecer uma polarização radical na sociedade com um líder disposto a desmoralizar o sistema político de lá, à espreita de erros inevitáveis (por serem naturais) de condução de governo a partir de mobilizações sociais "apartidárias" fora do esquema bipartidário, mas com núcleos parlamentares republicanos, de um lado, dispostos à guerra de alta intensidade e, de outro, militantes de esquerda emparedando Hillary.

Só que lá a habilidade deste tipo de jogada - a nova tecnologia de disputa política de direita - terá seu ápice de capricho, após ter sido analisada em seu processo de experimentação fora do país. Lá não tem Aécio como biombo e nem PMDB no meio do caminho como saída. É chumbo grosso em estado bruto.

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Os democratas e a sociedade americana estão preparados para este desafio? Os acontecimentos dirão, mas é fato que tal crise plantada no coração da maior potência do planeta tem riscos incalculáveis para a humanidade. O "deixe que se quebrem" pode ter consequências perigosamente imprevisíveis.

Putin está com Trump, mas, efetivamente, o que isso quer dizer além da aparência de que o líder do Leste joga no tabuleiro geopolítico? Está ele consciente dos riscos envolvidos ou é mais um interesse que está sendo arrastado numa estratégia onde é apenas linha auxiliar de algo que somente poucos círculos começam a perceber?

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Para além da sua plataforma, este cenário não deve deixar dúvida de que os progressistas devem ir de Hillary. Nunca foi tão importante ter clareza e estar atento sobre uma eleição americana.

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