Não é só para fumar, estúpido

"Países mais progressistas já deram os primeiros passos na transformação das folhas, frutos e fibras da cannabis em remédios essenciais, cremes eficazes, óleos para diversos fins, papel, tecidos, cordas, velas, o que não acarretou, até onde se sabe, no aumento do consumo de maconha", diz o colunista do 247 Alex Solnik; "Fumar é só uma das coisas que se pode fazer com essa planta"

Em Rovigo, na Itália, cientista do exército trabalha em cultivo de cannabis para uso medicinal
Em Rovigo, na Itália, cientista do exército trabalha em cultivo de cannabis para uso medicinal (Foto: Alex Solnik)


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Uma das coisas mais estúpidas e inexplicáveis do Brasil é a proibição e criminalização – no país onde o sol brilha 365 dias por ano - de uma planta que não é venenosa, não é nociva, ao contrário, tem mil e uma utilidades benfazejas inclusive à saúde das pessoas e um imenso potencial comercial em vários setores da atividade humana.

Em vez de ser utilizada em benefício da população, como ocorreu no passado no Brasil mesmo e como ocorre em outros países, ela ainda se transformou em pivô de uma guerra sem fim que mata todo dia, principalmente no Rio, mas em todo o país, bandidos, policiais, crianças, donas de casa, funcionários, sem discriminação e que consome, nessa guerra, centenas de milhões de reais arrecadados da própria população.

Uma planta que é sinônimo de vida virou sinônimo de morte.

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Estigmatizada. Subutilizada. Banida.

Foi carimbada como "droga", "erva do diabo" e outros epítetos negativos.

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Quanta ignorância!

Chama-se cannabis, mas ficou mais conhecida, entre nós, vulgarmente, como "maconha", que não é nem palavra mais, é palavrão, banida das salas de visita das "pessoas de bem" e vista como perigo que merece vigilância constante.

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E que a maioria das pessoas acha que só serve para fumar e com isso destruir a saúde física e mental do fumante, em especial, o adolescente. Os fundamentalistas – e os leitores de gibis - chegam a associá-la a uma arma de uma suposta conspiração internacional para "destruir a família".

Dizem o mesmo dos comunistas. E muita gente acredita, esquecendo-se do fato inconteste de que os comunistas vivem em família. Pode parecer estranho, mas até mesmo um comunista da pesada como Lênin tinha pai, mãe e irmãos. E viviam todos juntos.

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A irracionalidade – mas que tem respaldo em decisões políticas nacionais e internacionais – operou a estupidez de entregar uma das plantas mais preciosas do planeta em mãos que não sabem o que fazer com elas senão vendê-las em bruto, a peso, para consumo em forma de cigarro, o que impede que seja utilizada para seus outros inúmeros fins – na indústria farmacêutica, cosmética, papel e papelão, têxtil, etc.

O que teria de ser operado no âmbito do Ministério da Agricultura e no da Ciência e Tecnologia, gerando lucros para a nação, gerando empregos, está sob a jurisdição da polícia e da Justiça, provocando luto, perdas milionárias, lotando as prisões medievais, causando tragédia em cima de tragédia.

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E nenhum deputado toca no assunto desse ponto de vista – quando fala é para aumentar a repressão ao tráfico -, não consta do programa de nenhum governo descriminalizar a cannabis não apenas para o consumo que se conhece, mas para a pesquisa, para a produção de papel, de cosméticos, de medicamentos, tecidos, bolsas, etc.

Fernando Henrique rendeu-se às evidências, mas só depois de deixar o Planalto.

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Em tempos nem tão remotos o cânhamo – derivado da cannabis – era matéria prima, ao lado do algodão, da indústria têxtil no Brasil, e em tempos remotos, em Portugal, das velas que trouxeram os primeiros portugueses ao Brasil e na Alemanha do papel das primeiras bíblias impressas por Guttenberg.

Mas o Brasil criou suas próprias leis de repressão à maconha, consumida tradicionalmente pelos escravos nos quilombos, depois pelos negros libertados – e reprimir a maconha era reprimir os negros - e além disso embarcou nas medidas de repressão às drogas adotadas pela ONU, em 1946, mais tarde aprofundadas por Richard Nixon, que iniciou o combate nacional às drogas e por Ronald Reagan, que o internacionalizou.

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Sob o argumento de que seu país era o maior consumidor, Reagan outorgou-se o direito de invadir "países produtores" a fim de extirpar as plantações e a exportação.

Essa política possibilitou a infiltração de agentes da CIA nesses países, inclusive no Brasil, que entram por essa porta e depois colaboram em outras atividades políticas subterrâneas, como a deposição de governos legítimos.

A pretexto de, supostamente, proteger a saúde dos cidadãos - uma falácia, já que as bebidas alcóolicas e o cigarro matam e não são proibidos – o estado brasileiro conspira contra o seu próprio desenvolvimento.

Conspira contra todos nós.

Países mais progressistas já deram os primeiros passos na transformação das folhas, frutos e fibras da cannabis em remédios essenciais, cremes eficazes, óleos para diversos fins, papel, tecidos, cordas, velas, o que não acarretou, até onde se sabe, no aumento do consumo de maconha.

Fumar é só uma das coisas que se pode fazer com essa planta.

Não é só para fumar, estúpido.

(Estúpido é o próprio consumidor de maconha, que também acha que ela serve só para fumar e insiste em sua liberação só para esse fim.)

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