Não é por Letícia Sabatella
Enquanto esses monstros brancos e ricos estiverem soltos pelas ruas, a agredir e achincalhar qualquer um que pense diferente do que prega a mídia velha, estaremos a um palmo da barbárie
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é pela democracia.
chamaram-na de puta, em plena avenida.
a agrediram verbalmente, ofenderam sua honra e a sua dignidade.
isso é inaceitável.
mulheres - senhoras maduras! - surgiram diante da câmera da atriz espumando ódio e, pasmem, misoginia.
todos viram a cena. não vou me demorar nisso.
só vim a esse assunto para um esclarecimento.
estava certa a atriz quando disse, dentro do Palácio do Planalto, não estar a defender o mandato da presidenta Dilma, mas sim emprestando sua imagem e o seu prestígio para defender a democracia.
ela foi honesta. serei honesto com ela.
Sabatella já esteve do lado de lá.
e do lado de lá ela podia fazer pregações políticas, os jornais lhe abriam páginas, as TVs lhe focavam, midiotas a aplaudiam nas redes sociais.
nesse tempo, jamais alguém a chamou de puta, tentou cuspir nela ou coisa parecida.
era um tempo em que Sabatella montava um cavalo de batalha e lutava contra o governo Lula.
com a sua capa verde de heroína ecológica, Sabatella engrossava o coro dos que odiavam Lula e seu governo, mesmo se ele tivesse tentando levar água a quem tinha sede.
lembro-me de quando Sabetella emprestou sua imagem e seu prestígio a um certo dom Cappio, bispo de Barra (BA), que resolveu entrar em greve de fome para atrair a atenção da mídia em sua pregação contra a transposição do São Francisco,
Sabatella aparecia para as câmeras como uma espécie de Madalena de Cappio: esparramada aos pés do bispo chantagista, sempre chorosa, como uma beata.
seguramente, no tempo em que Sabatella pregava no sertão contra Lula, os mesmos homens e mulheres que a xingaram em Curitiba sofreram com a sua dor teatral.
era assim: quando ela criticava Lula, os haters a amavam.
tanto é que em 2014 ela teve sua imagem associada à campanha de aécio neves - grafemos sempre em minúsculas - por conta do bisonhíssimo vídeo de um tal grupo Gota D'água.
ela protestou, pediu que retirassem sua imagem e negou apoio a aécio. mas ali os haters já evidenciavam, do lado de cá terá amor e flores.
no tal vídeo, gravado em 2011, Sabatella aparece ao lado de atores e atrizes globais, como aquela senhora loira que ainda não se casou para não perder a pensão que recebe do pai ex-militar.
os gotas d'água protestavam contra a construção da Usina de Belo Monte. encenavam um texto sofrível, cheio de platitudes e clichêzinhos eco-chatos.
só que, nem no caso da Transposição e nem na tentativa de obstrução à belo Monte, ninguém foi à rua xingá-la, ninguém tentou agredi-la.
é por isso que temos que defender a democracia, o estado democrático de direito e a civilidade.
enquanto esses monstros brancos e ricos estiverem soltos pelas ruas, a agredir e achincalhar qualquer um que pense diferente do que prega a mídia velha, estaremos a um palmo da barbárie.
ou rezamos para que aquele grande meteoro que dizimou os dinossauros venha nos redimir, ou restabelecemos a ordem e a normalidade.
Schiller, no final do século XVIII, escreveu o poema Ode à Alegria, pregando uma sociedade mais fraterna, solidária e cordial.
o poema foi imortalizado na obra de Beethoven, e integra o quarto movimento da 9ª sinfonia.
o coro começa cantando-o assim:
Oh amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre (...)
a agressão à Sabatella mostra em que nível de civilidade estão alguns patrícios, ao invés de entoarem uma Ode à Alegria, haters midiotizados, estão nas ruas a esbravejar seu Ódio à Alegria.
quanto menos democracia tivermos, mais ódio nas ruas teremos, porque o golpe legitima a mão grande, o estupro institucional; é o tapetão dos mal perdedores, o triunfo dos sem voto, a vitória dos derrotados, dos midiotas e das mari(nh)onetes.
é preciso voltarmos já, àquele país onde Sabatellas tinham o direito de ter qualquer posicionamento político, sem que ninguém se achasse no direito de agredir sua honra por isso.
palavra da salvação.
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