Não é o governo que nos pauta, mas, sim, a nossa história

A historiografia oficial já mentiu e deturpou a história do Brasil ao ponto de ainda hoje o Estado ter dívidas com suas vítimas

(Foto: Foto: Projetemos/Instagram)


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“Comissão Nacional da Verdade (CNV), faz parte do ‘passado’. O momento é de normalização. Vivemos um momento da CNV, que foi necessário. Esse momento está superado. Não vamos mexer mais nisso” (Embaixador Celso Amorim, ontem, 29/09).

Passado não se esquece, sob pena de continuar assombrando o mundo dos vivos. Passado é para ser conhecido, com a sua verdade integral, para ser reverenciado ou repudiado, sobretudo, para repará-lo.

A historiografia oficial já mentiu e deturpou a história do Brasil ao ponto de ainda hoje o Estado ter dívidas com as vítimas da ocupação colonial, da escravidão e das ditaduras. 

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Algozes foram transformados em heróis, e os verdadeiros heróis esquecidos. 

A revisão da história escrita pelos opressores é essencial para o povo ter orgulho do passado dos nossos lutadores ancestrais. 

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Não é colocando sob o tapete sujo da história que se constrói um país altivo e ativo na construção de um futuro antítese de um passado inglório, de torturas, de etnocídio e genocídios.

O povo não deve esquecer, mas conhecer, lembrar eternamente para impedir que seja repetido.

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Se a justiça de transição não tivesse malogrado no Brasil, provavelmente não teríamos tido 2013, 2016 e 2018, não teríamos ainda hoje os que desconhecem o que foi a ditadura militar e pugnam por sua volta.   

Bolsonaro e o Estado policial não são consequências da CNV, mas, exatamente do contrário, por não ter havido a criminalização dos agentes da ditadura que cometeram as graves violações dos direitos humanos. 

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Assim como alguns artífices do golpe de 64, mesmo que somente após 50 anos, pediram desculpas, assim como no presente defensores da lava jato fizeram a sua contrição, assim como o Judiciário corrigiu alguns dos seus erros dos processos do mensalão e do Lula, é imprescindível que as Forças Armadas reconheçam e peçam perdão à nação pelas suas tentativas e realização de golpes durante a história do nosso país. 

Um país que caminha sob o manto da mentira e da amnésia tende a andar em círculos e recorrentes tragédias.

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A conjuntura atual, de ampla conciliação, não deve ser, porém, a ditadura do esquecimento na construção do futuro.

Falar em esquecer o passado, é esquecer os nossos mortos e desaparecidos, insepultos e sem os familiares terem vivido o luto.

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O país da desmemória, não será nunca altivo e ativo, já que, com vergonha do passado, prefere esquecer para não desagradar os protagonistas das ignomínias que produziram e perduram com seus efeitos transgeracionais.  

Uma nação sem memória é uma nação com o DNA da impunidade.

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Os piores traumas não carecem de ser esquecidos e, sim, enfrentados e superados com coragem e crença no país do esperançar.

Quem tem medo de mexer com o passado? 

Não se esquece as guerras, o fascismo, o nazismo, as ditaduras, e suas vítimas, por mais dolorosas que sejam as memórias. 

As lembranças periódicas não são somente uma homenagem às suas vítimas, mas, sobretudo, para a humanidade não esquecer do que em seu nome já foram capazes de fazer.  

A CNV e outras comissões da pauta memória, verdade e justiça, realmente são experiências passadas, que prestaram, inobstante as limitações, importantes serviços, porém, incompletos e inconclusos. 

Para o futuro será necessário a constituição de uma Comissão Estatal Permanente de Memória e Reparação, que abranja todos os períodos traumáticos do Brasil – escravidão, ditaduras e o genocídio bolsonarista, a fim de ser realizada a justiça de transição necessária à construção de uma democracia sólida.   

Quando se acredita numa ideia, num ideal, não se luta somente numa conjuntura, mas por toda a vida.

Esquecer é matar a esperança da justiça! 

LEMBRAR SEMPRE, REPETIR JAMAIS!

Francisco Celso Calmon

 

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