Não é apenas futebol!
Muito dizem que eventos como a Copa do Mundo de Futebol, e até mesmo os Jogos Olímpicos, nada mais são do que “pão e circo” para a população alienada – principalmente quando vemos que nos últimos anos, tais eventos ocorreram em países carentes de lisura política, e muitos foram golpeados pelas mãos imperialistas
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Muito dizem que eventos como a Copa do Mundo de Futebol, e até mesmo os Jogos Olímpicos, nada mais são do que “pão e circo” para a população alienada – principalmente quando vemos que nos últimos anos, tais eventos ocorreram em países carentes de lisura política, e muitos foram golpeados pelas mãos imperialistas.
Há muito a se discutir sob o efeito alienante dos eventos esportivos – em especial a Copa do Mundo. Não quero aqui julgar quem gosta ou quem não gosta. Mas quero pontuar uma coisa bastante evidente: o futebol hoje, não é apenas um jogo.
(Vale lembrar aqui que o romantismo do futebol finda com a dominância da Fifa, sob a batuta de João Havelange, na década de 1970 – contando com Pelé como cabo eleitoral. De lá para cá, o futebol e sua magia, passou a ser negócio e interesses políticos).
Lendo alguns livros, e mais recentemente assistindo a série “Campo de Batalha – os Mundiais e a Guerra Fria”, apresentada por João Barone na ESPN Brasil, não há como desvincular a questão geopolítica – este documentário, ao contrário de outros como o tal “Mecanismo” de José Padilha, não é uma obra mentirosa e fictícia, mas um apanhado de evidências históricas, comprovadas por documentos, e sem distorção dos fatos.
Lembremos que o evento “Copa do Mundo” surge, pela primeira vez, exatamente no momento de grande crise mundial: 1930, após a quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929.
De lá para cá, são várias as histórias envolvendo jogadores e personagens do futebol. Em 1938, por exemplo, após indexação da Áustria ao regime alemão, o craque austríaco Matthias Sindelar (que na verdade era tcheco), recusa-se a jogar junto a seleção nazista e aparece morto, junto de sua noiva em Viena.
Já em 1954, dado o acirramento entre capitalistas e comunistas, na final do campeonato a Alemanha Ocidental conquista o título sob a até então imbatível Hungria. No entanto, há quem afirme que alemães, que já haviam perdido de goleada outras vezes da Hungria, teriam jogado dopados para evitarem novo vexame – afinal, se ela ganhasse, quem sairia vencedor seria o comunismo.
A década de 60 também foi bastante intensa – e tensa. A disputa entre capitalismo e comunismo continuava acentuada. Quem não se lembra da “Crise dos Mísseis” de 1962, entre Cuba, apoiada pela URSS, e os EUA? Paralelamente, a América Latina era o quintal dos ianques, que faziam tudo ao atendimento dos próprios interesses, promovendo e apoiando golpes militares nos países do cone Sul, na tentativa de evitar a propagação dos regimes comunistas e as ideias socialistas que tanto ameaçava sua hegemonia.
E várias são as histórias envolvendo os mundiais – o que inclui a direção técnica da seleção brasileira de 1970, pelo jornalista assumidamente comunista, João Saldanha, em pleno regime ditatorial.
Nas eliminatórias para a Copa de 1974, Chile e URSS se enfrentariam para disputar uma última vaga. No entanto, como Chile havia promovido o golpe militar contra o governo socialista de Salvador Allende, e jogaria no estádio que serviu de covil para torturas dos presos políticos, a seleção da URSS se recusou a entrar em campo. Resultado: 1x0 e classificação garantida. Seu capitão, no entanto, opositor de Pinochet, recusa-se a cumprimenta-lo e vê sua mãe ser presa e torturada, além de perder a faixa de capitão.
Em 1978, o mundial foi realizado na Argentina, na evidente tentativa de distrair o povo argentino dos gravíssimos problemas nacionais. E a interferência política também entrou em campo. Precisando golear a seleção do Peru, eis que Argentina de Mario Kemps faz 6x0, e vai para a final, sagrando-se campeã em cima da Holanda. Em pleno regime militar.
Não seria coincidência se as situações não fossem tão obscuras, incluíndo militares nos vestiários e até ameaças aos jogadores da seleção adversária, com destaque ao goleiro que era argentino naturalizado peruano. A vitória futebolística também serviu para amenizar e abafar os protestos das “Mães da Praça de Maio”, que buscavam informações dos filhos desaparecidos, que protestavam contra o governo militar do país. Ou seja, a seleção campeã era tudo o que os militares desejavam.
A mais espetacular, para um torcedor argentino e admirador da gana e raça portenha como eu, é o acontecimento em 1986, no México. A guerra entre Inglaterra e Argentina pelas ilhas Malvinas, em 1982, dizimou e humilhou os argentinos, dizimados em verdadeiro genocídio armado. Eis que o gramado acalentou parcialmente essa dor nacional. Além do gol antológico – se não o mais bonito, um dos mais belos dos mundiais – onde Maradona sai do campo de defesa e dribla mais da metade do time inglês e marca, há o famoso gol “la mano de Dios”.
Como bem define Juck Kfouri, “esse jogo é a reprodução da Guerra das Malvinas...era uma questão de honra nacional”.
Na ocasião, não era apenas um clássico do futebol mundial. Era a chance da Argentina se vingar, ainda que em campo, aos abusos cometidos pelos ingleses. O gol de mão, defendido por Maradona como “a mão de Deus”, surge como troféu – e, para desespero de seus adversários, ainda interpretaram a frase como se Don Diego se intitulasse Deus, enquanto na verdade dizia que foi uma providência divina para promover a justiça aos argentinos derrotados nas Malvinas.
Torcer para a Argentina – assim como tenho carisma pelos latino-americanos e países menos desenvolvidos – é fruto de minha consciência política. Não nego que já torci pela seleção brasileira (leia-se: seleção da CBF). A última vez em 1994, quando anda era um garotão e achava que era apenas uma questão futebolística. Com o passar dos anos, e conhecendo os bastidores asquerosos que se revelavam no futebol brasileiro e a falta de raça dos jogadores brasileiros, meu encanto pela “amarelinha” foi se desmanchando.
Minha queda pelos hermanos, no entanto, tenho que confessar, começou com o gol de Caniggia em 1990, o mesmo que desclassificou o Brasil de Taffarel e cia. Lembro-me que estava na sala com minha mãe e irmãs, que lamentavam o gol, mas eu, ao contrário, achei o lance magnífico, começado com aquela esplendorosa jogada de Maradona, finalizado com o golaço e o abraço entre eles. Coisa linda!
Além do ímpeto e dedicação dos argentinos, é louvável a consciência política desse povo. Lutam bravamente pelo país; fazem greves nacionais, mobilizam-se pelo social; são verdadeiros patriotas, e não apenas em época de Copa do Mundo. Já aqui, é lamentável que esses eventos sejam alienantes, com “patriotas” (muitos “PATOtriotas”) fantasiando-se com o manto golpista da CBF, torcendo para jogadores sem o mínimo de laço nacionalista, que se omitem quanto a posições políticas e preferem ostentar seus milhões. Não há qualquer relação da seleção com o país. São marionetes de um sistema capitalista, sem o discernimento e a inteligência que tinha Dr. Sócrates, por exemplo.
Assim, se torço para a Argentina, Uruguai, Chile e cia., é uma torcida que transcende a paixão futebolística. É uma torcida pela justiça. É uma demonstração de luta contra a hegemonia imperialista. Pelo povo, pela igualdade e contra o poder do dinheiro e seus abusos.
Admiro Maradona por seu posicionamento político e humanitário. Impossível não olhar para Diego e não lembra-lo ao lado de Fidel, Chávez, Lula, Maduro e tantos outros cidadãos que lutam pela igualdade entre os povos, denunciando e escancarando, sem papas na língua, toda barbárie estadunidense e de seus aliados europeus. Já o “herói” verde-amarelo, o tal “menino de 26 anos”, prefere apoiar e se aliar a candidatos golpistas e sequer se redime de suas atitudes estapafúrdias. Enquanto o tal “menino” marqueteiro visa única e exclusivamente alimentar seu ego e dar piruetas para enganar a arbitragem, os melhores mostram-se jogadores completos: a simplicidade e genialidade de Messi, e o profissionalismo de Cristiano Ronaldo, não impediram que se posicionassem contra o imperialismo e o sionismo de dos terroristas EUA-Israel, por exemplo.
Em 2014, às vésperas do início do mundial no Brasil, os jogadores argentinos, confrontando as ordens da Fifa, entraram no gramado do Estádio Cidade de La Plata segurando uma faixa com os dizeres “As Malvinas são argentinas”. Como consequência, a Fifa multou a Associação do Futebol Argentina (AFA) em 30 mil francos suíços, uma vez que proíbe qualquer tipo de manifestação política em partidas controladas por ela.
Na edição atual do mundial, tivemos mais uma demonstração que quase passou batida, quando os suíços Xhaka e Shaqiri, ao marcarem gols contra a Costa Rica. Na comemoração, em homenagem ao Kosovo, cuja origem é albanesa, fizeram menção a bandeira da Albânia - grupo étnico ao qual pertencem – em protesto contra Sérvia, que não reconhece Kosovo. Novamente, a ditadura da Fifa atuou, e aplicou multa aos corajosos jogadores.
Assim, a cada dia, a cada jogo, não olho – e não deveríamos olhar – apenas duas seleções que se enfrentam em um gramado. Por trás de cada jogo, carregam-se histórias. E dentro do campo, apesar de ser um esporte, o que deve estar em disputa é algo muito além de um mero gol. Afinal, não é apenas futebol.
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