“Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos”

Não lançar pérolas aos porcos é a advertência de Mateus. Isso nos alerta que a Justiça divina não é uma teoria abstrata, mas é prática e deve ser observada no nosso dia a dia e nos ajuda a colocar em prática a boa Justiça



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O titulo do artigo faz referência ao evangelho de Mateus. Mateus, o primeiro evangelista que aparece no Novo Testamento para os habitantes de Jerusalém, trata-se de um evangelho escrito para que os judeus pudessem conhecer e compreender os ensinamentos de Jesus.

Mateus mostra uma face de Jesus numa linguagem compreensível aos judeus (tanto que aparecem centenas de citações do Antigo Testamento) e apresenta Jesus como uma espécie de novo Moisés, tanto que as bem-aventuranças foram proclamadas em um monte, remetendo a outra imagem, a dos “10 mandamentos” que foi dado por Deus a Moisés no Monte Sinai.  

Aprendi a interpretar Mateus com meu tio Chico, irmão de minha mãe, advogado, jornalista e professor reconhecido, mas o intelectual Francisco Isolino de Siqueira segue desconhecido por muitos...

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A famosa frase “não lance as pérolas aos porcos” se situa no primeiro livro de Mateus e trata da Justiça. É interessante ler e reler Mateus, pois ele nos apresenta uma narrativa afirmativa no sentido de que a Justiça é que liberta a pessoa, a verdade é libertadora. Eu acredito que o centro de gravidade do desenvolvimento jurídico não está propriamente na legislação, na ciência do direito ou na jurisprudência, mas na sociedade. Há na sociedade — entre a ação humana e as estruturas sociais — uma tensão contínua de natureza dialética, pois na ação humana a diversidade se contrapõe a unidade das estruturas sociais.

É nesse quadrante que encontramos as bem-aventuranças, as quais, creio, são uma espécie de “carta magna” do cristianismo.   

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Através da leitura das bem-aventuranças podemos alcançar a consciência de nós mesmos, a consciência de que não podemos coisa alguma sozinhos, pois dependemos uns dos outros e do exercício das virtudes humanas e divinas na construção cotidiana do bem.

Os que confiam na sua própria justiça e em seus próprios méritos, sendo orgulhosos e auto-suficientes que se afastam do bom caminho. O orgulho e a auto-suficiência nublam a nossa consciência sobre todas as coisas válidas, necessitamos o tempo todo exercitar a humildade e a autocrítica.

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Não lançar pérolas aos porcos é a advertência de Mateus. Isso nos alerta que a Justiça divina não é uma teoria abstrata, mas é prática e deve ser observada no nosso dia a dia e nos ajuda a colocar em prática a boa Justiça. Podemos dizer que são conselhos práticos: sobre o risco de julgar as outras pessoas; sobre o discernimento, a confiança em Deus e cuidado com os aproveitadores.

Lanço mão do meu evangelista favorito para dizer novamente que o PT falhou e que faltou a seus dirigentes discernimento e, principalmente, cuidado com os aproveitadores e faltando-lhes isso lançaram aos porcos suas pérolas, lançaram aos cães o que lhe era mais caro e agora todos se voltam contra essas atitudes e as conseqüências se nos apresentam trágicas.

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Penso que podemos comparar as “pérolas” com a honestidade de propósitos que acompanharam os fundadores do PT (e que acompanham boa parte da militância até hoje), com o desejo genuíno de romper com a lógica cruel das oligarquias nacionais que são o que são: autoritárias, antidemocráticas e que não tem nenhum compromisso com a nação.

Todos nós tínhamos certeza que a chegada do PT ao poder representaria garantia de que Política poderia ser feita com ética e tendo em perspectiva irrenunciável o interesse público, o desenvolvimento econômico e social e a necessária distribuição de renda. Mas em nome da governabilidade e para conseguir implantar políticas sociais essenciais o PT perdeu-se e perdeu a luz, perdeu – pelo menos de mim -  a confiança irrestrita e defesa incondicional, deixou-se cooptar pelos porcos e vê-se sendo despedaçado.

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É verdade que não podemos perder de vista que as oligarquias não perdoam e que buscam tomar o poder com ou sem votos, nossa História é rica nisso... D. Pedro II foi deposto através de um golpe militar apoiado pelas oligarquias que um ano antes se opunham à abolição da escravidão no país; em 1954 Getúlio Vargas suicidou-se após resistir o quanto pôde às pressões e às denuncias de corrupção, nunca provadas, as quais eram veiculadas diariamente na grande mídia da época, tudo porque resistiu ao modelo de exploração do petróleo que interessava a mesma oligarquia; em 1961 elas levaram Jânio Quadros a renuncia e em 1964 depuseram João Goulart e apoiaram uma ditadura. E hoje se movimentam novamente buscando fazer prevalecer seus interesses. Paralelamente também é verdade que ao manter relações “de amizade” com empreiteiros e banqueiros o PT deixou de ser o PT, deixou-se cooptar e transformou-se em um partido igual aos demais.

Por isso repito, ou o PT faz uma autocrítica pública e honesta, recompõe-se e põe fim ao delírio da inatacabilidade e inalcançabilidade de seus quadros ou a socialdemocracia e os setores progressistas do país estarão sob risco de serem varridos nas eleições desse ano e enterrados em 2018. Sem autocrítica pública e honesta, sem debate político qualificado boa parte importante da militância e dos simpatizantes da esquerda seguirá solidários a Lula, reconhecendo sua História e valor, gratos aos heróis da redemocratização, mas cada vez mais distantes da ação Política necessária e válida, espaço que será ocupado por aproveitadores e heróis fabricados para cada ocasião.

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Sem uma esquerda responsável e democrática, sem os lideres progressistas distantes de suspeitas que nos constrangem corremos o risco de ouvirmos bater à nossa porta algum tipo de Donald Trump tupiniquim.

Por isso tudo o momento é de autocrítica, pacificação, reconciliação e abrir nossas casas a todos que acreditem na democracia, do Estado democrático de Direito e na Justiça Social acima de tudo.

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