Não bastassem os mortos, ainda há o oportunismo

Denise de Assis escreve sobre o oportunismo de grandes empresas que tentam faturar com doações irrisórias em meio à epidemia



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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

O cenário é o de 100.667 mortos, até hoje, pela Covid-19 no Brasil. Ou seja, mal nos recuperamos do susto de atingirmos a terrível marca das 100 mil vítimas, e esse número já ficou para trás, engolido pela voracidade do coronavírus e pela incapacidade e inapetência do governo em lidar com a calamidade. Melhor “tocar a vida” e comemorar a vitória do Palmeiras.

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Como se a compensar tamanho descaso, matéria publicada em 07/08/2020 às 21:26, pela Agência Brasil (agora canal oficial do governo),  atribuía à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o anúncio do recebimento de R$ 100 milhões, em doação de um grupo de empresas, para investir no aprimoramento de suas instalações que serão usadas na produção da vacina da covid-19.

“A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) recebeu a doação de uma coalisão de empresas e fundações para adequações em seu parque fabril e aquisição de equipamentos necessários à produção da vacina para covid-19, desenvolvida pela Universidade de Oxford, por meio do acordo com a AstraZeneca. A doação também auxiliará na expansão da estrutura de controle de qualidade, em função da grande demanda de testes que a nova vacina irá gerar”. O trecho, segundo a matéria da Agência Brasil, fora retirado de nota emitida pela “Agência Fiocruz de Notícias”.

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E complementava: “a expansão será importante para a realização dos testes de qualidade do imunizante desde a sua primeira fase de incorporação, que consiste no recebimento de 100 milhões de doses do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) para processamento final (formulação, envase, rotulagem e embalagem), dentro de um acordo de encomenda tecnológica respaldado pelo governo”.

Nos “finalmentes”, a Agência Brasil divulgava, claro, a lista dos “grandes beneméritos” – as aspas são minhas. “A doação, de cerca de R$ 100 milhões, foi feita por Ambev, Americanas, Itaú Unibanco, Stone, Instituto Votorantim, Fundação Lemann, Fundação Brava e a Behring Family Foundation”. E advertia: “Um comitê composto por todas as empresas e fundações será formado para acompanhar as iniciativas”.

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O “pool do bem” tratou logo de anunciar aos quatro cantos a benfeitoria, em forma até mesmo de peças de propaganda. A “providência” levou a que a Fiocruz colocasse as coisas em seu devido lugar, – agora, sim, em nota.

“A Fiocruz foi surpreendida, nesta sexta-feira (7/8), pela divulgação de peças publicitárias inadequadas que tratavam de uma doação para a instituição. As peças em questão abordavam a montagem e construção de uma fábrica de vacinas que seria doada à Fiocruz. Por tratar-se de uma divulgação que gera interpretações equivocadas, a Fiocruz publicou, na noite do mesmo dia (7/8), um release na tentativa de esclarecer o real objetivo do aporte financeiro que seria doado. Atenção ao tempo do verbo: “seria”.

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No entanto, mais tarde, ainda na própria sexta-feira, houve a informação de que, embora as empresas já a estivessem divulgando, a doação em questão ainda não foi concluída e está em fase de tratativas. É o que se pode chamar de “oportunismo vergonhoso”, em véspera do anúncio do total de 100 mil mortes, já acrescidos dos mil casos nossos de cada dia.

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