Não basta ignorar o presidente
Mas, infelizmente, não é apenas deixar o ocupante do Planalto falando sozinho que resolverá o caos pandêmico e pandemônico em que estamos. Precisa ser urgentemente removido da função e responder pelos crimes que praticou
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A leitura da imprensa considerada séria – apenas por ser centenária – leva a contestações constantes de seus colunistas. No momento em que atravessamos o pior momento da pandemia do novo coronavírus e se acumulam os crimes do Presidente da República e de seu entorno, os jornalistas se contorcem para justificar suas posições pretéritas e arrependimentos.
São puro diversionismo bolsonarista os argumentos de Catarina Rochamonte na crítica à PEC da impunidade que fez no início de março. Oras, é o grupo que ela tanto defende que está à frente de tal estapafúrdia proposta. Quer ser de direita, é seu direito, mas seja menos covarde. Seu arrependimento tardio não me convence. Prega agora união contra o mal instalado na presidência, mas não reconhece que foi parte da ascensão desse nefasto ao poder. Símbolo dessa falsidade é terminar a coluna com receios de ameaça de “tentações totalitárias” da esquerda que nunca houve no país. Da direita, sim, tivemos e temos muitos exemplos.
Se houve crédulos – e ainda os há –, foram incompreensivelmente ingênuos ou, o mais provável, agiram de pura má-fé. O que Bolsonaro ia fazer era bem claro: destruir o Estado Brasileiro em benefício próprio e de sua familícia, como sempre o fez ao longo de mais de 30 anos vivendo das benesses militares e parlamentares a ele concedidas. Ao fugir de debates e bancar o disparo em massa de fake news na campanha, era evidente que havia um discurso para convencer e outro para desgovernar. Assim, não houve decepção, mas sim a confirmação de que, quando o mal é anunciado, ele se faz presente.
Nessa toada, Ruy Castro discorreu sobre sua incapacidade de fazer uma biografia do presidente por ainda estar vivo, mas cometeu um pequeno equívoco: os crimes de Bolsonaro de atentar contra a vida e à democracia não são “apenas desde quando assumiu a Presidência” e já vêm de antes, quando, no quartel, planejou explodir o sistema de água de Guandu e, na Câmara, fez apologia a torturador e à ditadura. O “Retrato narrado”, de Carol Pires, e “O cadete e o capitão”, de Luiz Maklouf Carvalho, dão as pistas iniciais dessa tragédia em curso. Mas concordo que do Plasil ao Vonau, não dá para combater a ânsia de vômito provocada pelo ogro que habita o Planalto.
Sim, algo houve de mal em Brasília, com a ascensão do nefasto necropolítico que sucumbe agora, ainda que muito parcialmente, à realidade dos fatos e determina a intenção de compra de vacinas, pois as tratativas ainda não são de certeza de aquisição dos imunizantes. Em cidades que conseguiram vacinar a maioria dos idosos acima de 80 anos, já se vê uma diminuição significativa do número de casos novos de covid-19 nessa faixa etária, provando a tese sempre correta da ciência médica.
O alerta não é de hoje, nunca houve “nova política”, e o triunfo dos 300 picaretas, que elegeram Arthur Lira, apenas consolida o desmonte dos incipientes sistemas públicos de controle e melhoria social construídos ao longo de décadas. Perderemos de vez o meio-ambiente, a harmonia entre os Poderes e a liberdade de expressão e ganharemos armas, muitas armas, para nos matarmos ainda mais. Com a devida vênia aos Paralamas do Sucesso, “parabéns, coronéis, vocês venceram outra vez, o Congresso continua a serviço de vocês”.
O jogo político é complexo, o tabuleiro e até as regras mudam, e os jogadores vêm e vão a todo instante. Mas não se pode tirar o foco do mal maior que está destruindo nosso país. O desgoverno de Bolsonaro acabou com a possibilidade de uma vacinação em massa no curto prazo e as novas variantes do coronavírus poderão tornar inócuos os pífios esforços até aqui. Ademais, a fala negacionista do presidente atinge um patamar insustentável, ao negar sua própria negação, propalada por ele mesmo! O personagem Tunéscio, que nada vê e em tudo crê, deve ter espasmos de satisfação, convencido de que vive em um país sem mortes pela covid-19 e com economia pujante.
A técnica de Bolsonaro é conhecida e foi institucionalizada por Goebbels: contar uma mentira tantas vezes quanto for necessário para ser entendida como verdade. Mesmo com as inúmeras gravações feitas pelo próprio genocida contrárias a tudo o que tem sido feito de esforços no combate à pandemia, ele insiste nessa novilíngua e duplipensar. Queremos que Orwell volte a ser ficção!
Mas, infelizmente, não é apenas deixar o ocupante do Planalto falando sozinho que resolverá o caos pandêmico e pandemônico em que estamos. Precisa ser urgentemente removido da função e responder pelos crimes que praticou.
Por fim, mesmo por uma ótica otimista, o que se vê é queda do PIB, covid sem controle, e o verme na presidência enviando turistas para Israel à busca de milagres. Precisamos de mais gestão e menos crimes.
Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador em Campinas-SP
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