Nada Pior que Bolsonaro, Nada Melhor que Haddad
"Qualquer coisa é melhor que Bolsonaro. Melhor não só para o país, seu povo e sua democracia, mas também para o chamado 'ambiente de negócios'", diz o colunista Marcelo Zero; "Bolsonaro não tem proposta racional para o Brasil. Ele, e seu vice, Mourão, o Ariano, não conseguem articular um discurso minimamente crível para tirar o Brasil da crise. São reacionários estrito senso", afirma; "O voto em Haddad, um intelectual muito preparado e comprometido com os valores democráticos, abre a perspectiva concreta para a conciliação e a pacificação do país e, consequentemente, para a sua recuperação econômica", acrescenta
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As nossas oligarquias têm uma imensa dificuldade em pensar. Em agir racionalmente a partir de um diagnóstico fidedigno da realidade do país.
Não têm visão clara e projeto concreto para o país. Em geral, agem politicamente com base em impulsos e emoções. Principalmente medo e ódio. Também em preconceitos historicamente arraigados. Empresários racionais, esclarecidos e com um mínimo de sensibilidade social, como Ricardo Semler e Abílio Diniz, parecem ser minoria num bando de lêmingues apavorados e propensos ao suicídio coletivo.
Nos últimos anos, tais oligarquias foram acometidas por uma histeria anti-PT, estendida também a setores expressivos da classe média, que tornou-a cega e a levou, muitas vezes, a tomar decisões em contra de seus próprios interesses de longo prazo.
Agora mesmo, ante a impossibilidade emplacar um candidato viável de “centro”, ou suposto centro, consideram seriamente a possibilidade de apoiar a aberração Bolsonaro, pois, para eles, conforme escreveu Ricardo Semler, “qualquer coisa seria melhor do que o PT”. Tal apoio já começa a se refletir nas pesquisas de opinião, que estão cevando o Coiso.
Ora, é exatamente o contrário. Qualquer coisa é melhor que Bolsonaro. Melhor não só para o país, seu povo e sua democracia, mas também para o chamado “ambiente de negócios”.
Em primeiro lugar, porque Bolsonaro não tem proposta racional para o Brasil. Ele, e seu vice, Mourão, o Ariano, não conseguem articular um discurso minimamente crível para tirar o Brasil da crise. São reacionários estrito senso. Isto é, só reagem a avanços com os quais não concordam. Seu projeto de futuro é essencialmente uma volta ao passado de exclusão, preconceitos, autoritarismo e violência, muita violência. Como Duterte, o ditador filipino que já está sendo enquadrado pelo Tribunal Penal Internacional, por ser conivente com execuções extrajudiciais e tortura, Bolsonaro também aposta abertamente em armas e violência para resolver os problemas do país.
Em segundo lugar, porque Bolsonaro e as forças que o apoiam jamais seriam capazes de reconciliar o Brasil e compor uma aliança política capaz de conduzir e dar sustentação a políticas ponderadas e minimamente consensuais.
Ao contrário, Bolsonaro incendiaria o Brasil com seu ódio, seus preconceitos e sua evidente sociopatia. Sem base partidária e social organizada, com ele o cenário mais provável seria o do derretimento definitivo das instituições democráticas e de um agravamento da instabilidade e da crise política. Ante a sua evidente incapacidade de negociar, articular e mediar conflitos, não se pode descartar também um provável recurso à força, um golpe dentro do golpe, que acabaria de vez com o que restou da democracia brasileira.
Ora, um ambiente de confrontação e conflito impediria qualquer perspectiva de recuperação econômica do Brasil. Na realidade, o fator principal que impede tal recuperação é a crise política-institucional instalada pelo golpe. Sem um governo com credibilidade e capacidade de mediação e negociação, a economia brasileira não sairá do buraco. Bolsonaro, nesse sentido, é um buraco negro. Nada consegue escapar dele, inclusive a luz, a luz da razão.
Em terceiro lugar, porque Bolsonaro, por não ter programa racional e capacidade de articulação e mediação, além de apostar na violência e no conflito, é completamente imprevisível. Faz o que lhe dá na telha e se aconselha no Posto Ipiranga do Paulo Guedes, cujas propostas são totalmente regressivas e politicamente inexequíveis. Simplesmente não dá para saber o que faria de fato ou o que poderia fazer, para além dos chamamentos ao autoritarismo e à violência e das propostas mirabolantes.
Em quarto, porque um presidente clara e brutalmente machista, misógino, racista, homofóbico, defensor das ditaduras e da tortura e com evidente desprezo pelas instituições democráticas e pela civilização rebaixaria ainda mais o Brasil no cenário mundial.
Na realidade, um presidente como Bolsonaro envergonharia o país perante o mundo. Ele é um Trump muito piorado. Uma caricatura da direita brucutu latino-americana. Recorde-se que ele e seu pitoresco vice são militares. Golbery, se vivo estivesse, os colocaria na categoria da “tigrada”, as feras encarregadas do trabalho sujo. Nosso país, que se tornou praticamente um pária mundial com o golpe e com Temer, viraria motivo de chacota planetária.
Ante tal quadro, muito realista, mesmo a mais fértil imaginação teria imensa dificuldade em conceber como a eleição de tal aberração política poderia ajudar o Brasil e sua economia a se recompor. Até mesmo a conservadora The Economist, a bíblia do capitalismo, considera Bolsonaro uma ameaça para o Brasil e a América Latina.
A admiração de Bolsonaro a Trump de nada adiantaria, pois o atual inquilino da Casa Branca está decidido a implantar o American First em todo o mundo. Não haverá concessões. Trump até poderia usá-lo para fazer uma intervenção na Venezuela, contrariando os interesses do Brasil, mas não haveria compensações econômicas para a aventura insana.
Só mesmo uma absoluta cegueira estratégica e a histeria anti-PT podem explicar uma aposta suicida do “mercado” e daqueles que se consideram sofisticados herdeiros da socialdemocracia europeia em Bolsonaro.
Em contrapartida, o voto em Haddad, um intelectual muito preparado e comprometido com os valores democráticos, abre a perspectiva concreta para a conciliação e a pacificação do país e, consequentemente, para a sua recuperação econômica.
Há de se recordar, goste-se ou não do PT, que foi durante seus governos que o Brasil viveu seu melhor momento, nas últimas décadas.
Lula foi o melhor presidente da história do país. Não é exagero. Ele saiu do poder com 84% de aprovação, uma façanha reconhecida internacionalmente. E não foi por ser bonitinho, foi por amplo mérito político.
Lula e o PT fizeram um governo de conciliação e pacificação, não de confrontação. Em seu período, os rendimentos dos 10% mais pobres cresceram 40%, mas os rendimentos dos 10% mais ricos também cresceram expressivos 10%. Nenhuma classe social foi prejudicada e os empresários puderam fazer grandes negócios.
O confronto se deu com a fome, a miséria, a desigualdade, o racismo, os preconceitos, a ausência de oportunidades. Curiosamente, foi o PT que fez os governos de tinte socialdemocrata que a nossas elites foram incapazes de realizar.
Naquele período, o volume do comércio varejista foi duplicado, a produção de carros saltou de 1,498 milhão (2002) para 3,802 milhões (2012), a produção de grãos pulou de 119 milhões de toneladas (2003) para 208 milhões (2014), o volume produzido de petróleo cresceu de 1 milhão e quinhentos mil barris/dia (2002) para 2 milhões e quinhentos mil (2015) e a produção de cimento, um bom indicador da saúde da construção civil, saltou de 35 milhões toneladas (2003) para 71 milhões (2014). O Brasil pulou da 12ª posição na economia mundial para ocupar a sexta.
As reservas próprias cresceram exponencialmente de US$ 16,3 bilhões (2002) para quase US$ 380 bilhões, as exportações saltaram de US$ 60 bilhões (2002) para US$ 255 bilhões (2011), a dívida externa foi totalmente equacionada e nos livramos da tutela da FMI. A dívida publica interna caiu de 60,4% do PIB (2002) para 37,9%, em 2015, já em plena crise. Houve superávit primário até 2013 e a inflação manteve-se dentro do regime de bandas até a crise de 2015. De quebra, tiramos 35 milhões da pobreza extrema, colocamos cerca de 40 milhões na nova classe média e retiramos o Brasil do Mapa da Fome.
Tudo isso foi realizado de forma inteiramente democrática e republicana, sem agredir ninguém. O PT não dividiu o país. Quem mais tarde dividiu o país e rompeu com o pacto democrático foi o golpe contra a presidenta honesta.
Houve erros? Houve. Não há governos perfeitos. Se quiserem achar um, leiam Thomas Morus. Mas não foram esses erros que mergulharam o Brasil na maior crise da sua história. Isso é responsabilidade maior do golpismo e da histeria antipetista, que colocou no poder a “turma da sangria” e um governo desastroso, sem legitimidade alguma. Tal situação pioraria muito com uma eventual vitória da aberração fascista representada por Bolsonaro.
Por conseguinte, dizer que Haddad e o PT são uma opção “extremada” como Bolsonaro e que este último é uma alternativa melhor que o PT é de uma estupidez inacreditável. Estupidez ou simples má-fé. Ou então a opção ditada pelo ódio cego ao partido mais popular do Brasil.
Nas atuais circunstâncias, nada pior que Bolsonaro e nada melhor que Haddad. Para o povo, para a democracia, para a economia e para a soberania do Brasil.
Querem alternativa melhor? Libertem Lula.
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