Nação de joelhos

Em toda a América Latina, as experiências progressistas estão submetidas a poderoso cerco, em especial aquelas que não adotam o receituário neoliberal



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O escritor Eduardo Galeano na monumental obra As Veias Abertas da América Latina afirmou que há dois lados na divisão internacional do trabalho: os países especializados em ganhar, e outros especializados em perder. A expensas de desoladas maiorias, os países centrais enriquecem. São as chamadas perdas internacionais, assim cunhados por Leonel Brizola, a injustiça estrutural básica das sociedades nos países periféricos.

Dizia-se que a prata saqueada no século XVI nos países andinos era suficiente para fazer uma ponte desde o cume da montanha de Potosi – Bolívia até o palácio real espanhol do outro lado do oceano. Em dezembro de 2015, a dívida interna brasileira, cujos detentores majoritários (62%) são os usurários estrangeiros, consumiu 958 bilhões do orçamento público. O suficiente para forrar de cédulas a imaginada ponte de mais  de 9.000 km.

A crise econômica internacional colaborou para acentuar os pendores entreguistas da burguesia nacional. Ao cerrar as cortinas do assustador ano de 2015, a Gaspetro foi vendida a uma companhia japonesa – retirando dos cofres da companhia 750 milhões por ano. Outros ativos estratégicos, como a Transpetro, Fábricas de Fertilizantes e Nitrogenados (FAFENs) e Braskem também podem ser entregues. Com isso, o Estado brasileiro desinveste e inibe a retomada da atividade econômica.  

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De cunho estratégico, o setor elétrico também é objeto da sanha privatista. Pelo menos sete distribuidoras poderão ser vendidas ao estrangeiro. A primeira será a Centrais  Elétricas de Goiás (CELG). A experiência malsucedida dos anos 90, que resultou em serviços mais caros e de pior qualidade, serviu apenas de argumento nos embates eleitorais. No governo, as forças antagônicas fazem rigorosamente a mesma coisa, embora em gradações diferentes.

Como corolário natural, a tendência é agravar-se a recessão, com conseguinte queda na arrecadação. O Estado gradativamente se torna mais impotente, alienado, sem condições de cumprir com suas funções precípuas. Campo aberto, pois, ao mito da eficiência da iniciativa privada que retroalimenta o círculo vicioso do esfacelamento da Nação.

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Os ajustes, as privatizações, a desvalorização do serviço público, o desmanche das prerrogativas e funções do Estado-nação têm na gênese o famigerado neocolonialismo, a interdição da soberania nacional para dar sequência ao saqueio em curso há cinco séculos, que legou ao país a condição de terceiro mais desigual do mundo.

Em toda a América Latina, as experiências progressistas estão submetidas a poderoso cerco, em especial aquelas que não adotam o receituário neoliberal. Manobras com o preço do petróleo faliram a Venezuela, condenando o chavismo a dura derrota nas eleições parlamentares. Consequência da ausência das reformas estruturais, há risco de regressão. Em resposta, a presidenta Dilma preferiu adotar a diretriz estratégica de se submeter, entregando as chaves dos cofres ao rentismo. A direita se anima, ansiosa por retomar ao poder agora ou em 2018.

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As mãos sujas da direita apátrida, servil aos países centrais, podem retardar desenvolvimento por décadas. Ao lado dos movimentos sociais, centrais sindicais, partidos políticos de esquerda e frentes populares como a Brasil Popular e Povo sem Medo, podemos contrapor a avalanche e retomar a ofensiva à esquerda. Nossa arma é a verdade, pura, limpa e poderosa. Estabeleçamos uma agenda concreta, para sob o influxo das ruas empurrar goela a baixo dos tecnocratas as reformas de base e o desenvolvimento soberano.     

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