Na Venezuela, para entender o voto
"Presente em Caracas como observador internacional das eleições venezuelanas, o juiz do Trabalho Jônatas Andrade, do Pará, diz em entrevista ao 247 que a Assembléia Constituinte pretende eliminar o divórcio entre o cidadão e o sistema político, um drama presente nos sistemas políticos do mundo inteiro," escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; para o juiz, "o povo venezuelano chegou a encruzilhada de seu destino, buscando autorização e autoridade para para levar adiante o processo legítimo de exercício do poder pelo povo, pelo o povo e pelo povo"; conforme Jônatas Andrade, "a opção é capitular diante da pressão midiática, política, social, do sistema hegemônico, capitaneada pelos Estados Unidos"
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Em Caracas na condição de observador internacional das eleições para a Assembleia Constituinte Venezuelana, o juiz do Trabalho Jônatas Andrade encontra-se na posição ideal par debater uma novidades do processo -- o voto setorial, que irá escolher 1/3 dos parlamentares. Professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), diretor de Direitos Humanos da Amatra 8, especialista em Economia pela Unicamp, ele também recebeu o Premio Nacional de Direitos Humanos em 2012, Jônatas deu a seguinte entrevista por escrito ao 247:
247 -- No Brasil, onde o descrédito do Congresso chega a um patamar escandaloso, a proposta de candidatos setoriais para a Constituinte da Venezuela chama a atenção. Claro que existem argumentos a favor e contra. Dá para explicar como a coisa funciona, em termos práticos? Quem elege quem, de que forma?
Jônatas Andrade -- A democracia se encontra em cheque no mundo inteiro precisamente por inobservância do seu princípio fundamental: "governo do povo, para o povo, pelo povo!" Na Quinta República Venezuelana estamos assistindo constantemente um exercício prático de busca e observância deste princípio democrático por excelência. Um desses exercícios é o voto setorial que corresponde a 1/3 dos constituintes.
247 -- O que vem a ser o voto setorial? Como funciona na prática?
Jônatas Andrade -- O voto setorial consiste na contemplação de novos sujeitos sociais exsurgidos após a Constituição Bolivariana de 1999. São indígenas, camponeses, pessoas com deficiência, estratos antes invisibilizados e em processo de afirmação e proteção, ora ameaçados pelo retrocesso social tão presente em vários lugares, inclusive no Brasil. Cito o exemplo das Pessoas com Deficiência, cujo marco legal é de 2007 e que antecede a iniciativa brasileira similar em oito anos.
247 -- Como fica o voto universal, uma pessoa, um voto?
Jônatas Andrade-- O voto universal está contemplado pela eleição territorial que ocupará os outros dois terços da Assembleia Nacional Constituinte. O em processo de emancipação, lançando sobre a Constituinte o olhar de minorias secularmente oprimidas. Cada eleitor vota em um constituinte territorial e um constituinte setorial. Mesmo setores já emancipados também são contemplados, tais como os empresários e a administração pública.
Jônatas Andrade -- É necessário ressaltar que ela resulta de um pensar sobre a organização do próprio Estado, tendente sempre a eliminar o "gap" entre sociedade política e sociedade civil. No sábio dizer do jurista Luiz Moreira em apresentação ao chanceler Samuel Moncada, em 28 de julho, "é perfeitamente possível a ocorrência do Estado de Direito divorciado da Democracia. A Assembleia Nacional Constituinte venezuelana persegue a eliminação deste divórcio, aumentando a participação do povo, fonte originária do poder!" O voto setorial, a nosso humilde sentir, tenta evitar o retrocesso desses setores a invisibilidade.
247 -- Por que esse projeto pode funcionar para valer?
Jônatas Andrade -- Não somente o voto setorial é fundamental para a eliminação do "gap" mencionado (entre sistema político e sociedade) , mas integra toda a engenharia constitucional que contempla cinco poderes republicanos (Executivo, Legislativo, Judicial, Cidadão e Eleitoral), especialmente o Poder Eleitoral pensado e executado permanentemente para manter sintonizadas as sociedade civil e sociedade política.
247 -- A visão convencional, no Brasil e em outros países, diz que não há solução real para o divórcio entre o eleitor e seus representantes.
Jônatas Andrade -- Esse é um problema político não apenas brasileiro, mas problema mundial: o divórcio. A diferença é que na Venezuela se pensa e se busca a reconciliação há 18 anos. Trata-se da 21ª eleição da Quinta República.
247 -- Qual a importância da economia neste debate?
Jônatas Andrade -- Há, por evidente, uma crise política e econômica na Venezuela como de resto ocorre em todo mundo. Mas aqui a questão se agudiza por haver um claro confronto entre o sistema hegemônico e a organização da sociedade, em torno do exercício do poder. O confronto envolve a livre disposição sobre os recursos naturais venezuelanos, especialmente uma das maiores reservas petrolíferas do mundo.
247 -- Quais as opções neste conflito, numa hora em que ele se mostra cada vez mais agudo?
Jônatas Andrade -- Agudizado o processo, importa à sociedade mergulhar novamente na fonte de todo o poder secular: o povo! Mergulhar buscando autorização e autoridade para levar adiante o processo de legítimo exercício do poder pelo povo, para o povo e pelo povo. Há uma opção: capitular diante da pressão (midiática, política, econômica, social, etc...) do sistema hegemônico, capitaneado pelos Estados Unidos, declaradamente assumida.
247 -- Como se pode resumir a eleição para a Constituinte?
Jônatas Andrade -- O povo venezuelano chegou à encruzilhada capital de seu destino. A eleição de 30 de julho apontará o caminho!
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