Na ONU, Bolsonaro discursou para escória de extrema-direita

"Como sempre, recitou mentiras, disparates, delírios e reafirmou sua cosmovisão fascista e reacionária", analisa Jeferson Miola

Jair Bolsonaro discursa na abertura do Debate Geral da 76a Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas
Jair Bolsonaro discursa na abertura do Debate Geral da 76a Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (Foto: Alan Santos/PR)


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No discurso na ONU Bolsonaro foi Bolsonaro. Aliás, foi transparentemente Bolsonaro.

Como sempre, recitou mentiras, disparates, delírios e reafirmou sua cosmovisão fascista e reacionária. Bolsonaro se postou como se estivesse conversando com apoiadores no chiqueirinho do Alvorada.

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No conteúdo do discurso, ele simplesmente ignorou a enorme audiência planetária que costuma acompanhar o principal evento anual das Nações Unidas – que, decerto, ficou assombrada com as barbaridades que ouviu.

Bolsonaro não se referiu aos temas centrais da agenda internacional da atualidade, apenas desfilou questões doutrinárias e ideológicas que conformam o ideário da extrema-direita: “família tradicional”, anticomunismo, fundamentalismo religioso, negacionismo e ataques à democracia.

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O público-alvo do seu discurso foi a escória de extrema-direita – a nacional e a internacional – abduzida por valores anti-civilizatórios e regressivos.

A vergonha e a repulsa ficam por conta das pessoas que possuem o mínimo senso do ridículo. Estes sentimentos, contudo, não sensibilizam a matilha bolsonarista, para quem as estupidezes do líder/fuhrer ecoam como música.

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Há muito de metódico e/ou deliberado nos atos burlescos do Bolsonaro. A cena dele com a comitiva de bárbaros comendo pizza na rua porque impedidos de ingressar em restaurantes sem estarem vacinados, valeu muitos pontos na popularidade dele junto ao eleitorado cativo. A falsa simplicidade e o simulacro de humildade fazem parte de uma eficiente estratégia comunicativa.

Enquanto o senso comum considera Bolsonaro um pária, seus adoradores entram em êxtase com o “mito” heróico que move moinhos contra toda a engrenagem do “sistema opressor”. Um genuíno “anti-sistema”, na visão deles.

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Nada em Bolsonaro surpreende. Quando se imagina que já alcançou o fundo do poço, ele surge com uma pá em punhos para cavar ainda mais fundo o buraco do precipício. Com ele, sempre pode piorar.

Neste mergulho constante e sem limites na barbárie fascista, ele arrasta junto seus fiéis e fanáticos seguidores. Estes representam a pavorosa fração de cerca de 20% da população brasileira.

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Bolsonaro detém o quinhão eleitoral mais competitivo das classes dominantes [do “sistema”] na cruzada anti-Lula. A despeito do absoluto desastre do governo militar, Bolsonaro ainda ostenta, sozinho, um cacife eleitoral maior que a soma de intenções de votos de todos candidatos da chamada 3ª via.

Bolsonaro sabe que enquanto detiver este relevante ativo eleitoral, ninguém ocupará o seu posto de anti-Lula mais competitivo e, assim, ele conseguirá ficar blindado de eventual processo de impeachment.

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Ele também sabe, além disso, que como em 2018, na eleição de 2022 poderá ser outra vez a “escolha muito difícil” das classes dominantes para tentar impedir o retorno de Lula à presidência do país. Mesmo que com fraudes ou ruptura institucional. Esta é a tragédia do Brasil.

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